domingo, 14 de junho de 2009

A partida


Apareço, escrevo, digo oi para todos no dia em que a parada Gay de São Paulo reúne, como sempre, milhões de pessoas.
Escrevo quando os corpos do airbus 330 esperam, irreconhecíveis, pela identificação e o quebra-cabeça da tragédia começa a se resolver.

Digo oi neste 14 de junho friorento do Rio de Janeiro para comentar sobre um dos filmes mais delicados e brilhantes que assisti nos últimos tempos. A PARTIDA, uma obra prima com trilha sonora ocidental - lindíssima - e roteiro genialmente oriental.

Grudei na cadeira do cinema durante duas horas. Primeiro, pelo prazer de constatar que em matéria de cinema os japoneses nos surpreendem sempre. Segundo porque um roteiro como o de A PARTIDA (ou AS PARTIDAS, se formos pela cadência do filme) nunca poderia ser escrito por mãos e cérebros ocidentais.

Como partimos deste mundo? Pela mão de quem? E o que deixamos depois da partida? Qual é a nossa relação com esse último suspiro - o dos outros e o nosso?
Não vou estragar a surpresa dos que ainda não se aventuraram nas partidas mais do que contemporâneas de Yojiro Takita. Só vou dizer que a cada minuto você se surpreende com o talento dos atores, com o enredo que se torna complexo sem ficar intransponível e, finalmente, com o vulcão de emoções aparentemente reprimidas pela tradição e cultura japonesas.
Não, o filme não tem gueixas entre os personagens. Estamos no Japão de 2008, em plena crise econômica.

É cinema radicalmente oriental, mas nós, tupiniquins, nos sentimos muito próximos da trama. O filme fala com a morte. Dialoga com todos nós. Mesmo assim, as lágrimas que escorrerão pelo seu rosto terão nascido em alguma cidadezinha distante, na terra do sol nascente.
Prepare-se para o violoncelo e para a Ave Maria. Isso mesmo. A tradição é deles, a música é universal. A emoção é de todos nós.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Blog do Bourdoukan

Alguém pode me dizer o que houve com o blog do querido Bourdoukan?
Tentei acessá-lo e a informação é de que ele foi removido deste blogger.
Por que?

Tragédia no ar

Começar a trabalhar cedinho tem dessas coisas. Desde às 6 da manhã acompanho as dúvidas, suposições e investigações sobre o acidente com o avião da Air France que saiu do Rio de Janeiro com destino a Paris.
Em Paris, a Air France organizou-se rapidamente no aeroporto Charles de Gaulle para receber parentes das supostas vítimas. Supostas porque o aparelho da Air France ainda não foi localizado pelos aviões da aeronáutica brasileira.
Aqui no Rio, no aeroporto do Galeão, vimos um rapaz ser assediado por 5 ou 6 microfones de televisão. Ninguém no balcão da compania aérea. A orientação era seguir para um salão do terminal 2.

O que aconteceu? O que vai acontecer?
Nesta manhã cinzenta de segunda-feira centenas de corações devem estar apertados e de luto.
Nós, sobreviventes, respiramos fundo. Porque é só o que nos cabe nesta corda bamba que chamamos de vida.

Um abraço apertado em todos os parentes das 228 pessoas que estavam no vôo da Air France. Ainda não sabemos o que aconteceu. Quando soubermos, mais lágrimas cairão.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

As sombras da noite

No trajeto de sempre, o final da noite clareia sombras, expõe personagens e revela quem batalha pela sobrevivência até o raiar do sol.
No caminho de todos os dias, esses fantasmas são perceptíveis por conta da lantejoula, do glitter, da pouca roupa e das carnes expostas. Homens, mulheres, travestis.... uma trupe que encara o amanhecer como o encerramento de mais um dia de trabalho.

No calor ou no frio da alvorada, as damas e príncipes da noite se misturam à paisagem radiante de Copacabana, em plena avenida Atlântica. O tititi e a esperança de um último cliente lentamente se diluem no corre-corre matinal. Saem as mulheres de vida nada fácil, entram os praticantes do cooper diário.

Em câmera lenta, a mulher que perambula por Copacabana usa a mesma canga enquanto cata lixo nas latas da prefeitura. Os sem-teto ainda dormem o sono inocente e sonham com a cama que nunca terão. O bebê ressona mergulhado no peito da mãe. E a mãe, recém-desperta, prepara-se para o ritual cotidiano da esmola, uma rotina que não planeja interromper.

Nos minutos que precedem o amanhecer carioca, as sombras da noite reinam com teimosia no cenário da cidade maravilhosa. Em poucas horas, quando o sol estiver a pino, desaparecerão sob a bruma pesada da realidade....Retornarão gloriosas no entardecer, apesar de sombras.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Aecinho e José Serra

Se Aécio Neves considera piada ou invencionice aventar-se a possibilidade dele vir a ser vice na chapa de Serra presidente, o que será que vem por aí?
Como se comportarão os tucanos diante de eleições prévias para a escolha do candidato do partido à presidência da república?
Aécio e Serra seria uma chapa puro-sangue destinada ao fracasso?
E nós, brasileiros, como nos comportaremos nas eleições de 2010?
Que tal riscarmos do mapa e do Congresso algumas centenas de deputados e mais outros tantos senadores?
Cada brasileiro tem o congressista que merece... Todos sabemos disso.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A rotina e a criatividade

Não tem sido fácil sentar para escrever. O dia começa às quatro e meia da manhã e termina às nove da noite.
Correria no trabalho, no tempo enorme gasto na viagem de ônibus que me leva de volta ao Leme e uma vontade enorme de relaxar e ler quando finalmente estico o corpinho malhado - não cancelei as idas à academia, muito pelo contrário - na caminha.
E assim voa a semana, de segunda a sexta.
Tinha prometido mais assiduidade para mim mesma. Não tenho conseguido. Mas zapeio virtualmente os blogs de amigos e conhecidos. E agora, no meio do trabalho, aproveito para digitar estas mal traçadas....

Ando triste com a notícia de que uma grande amiga está doente de novo. Um tumor danado de teimoso que reapareceu e precisa ser combatido.
Fico contente porque outro grande amigo resiste bravamente e luta contra o câncer.
Também fico pasma com a insistência da imprensa em relação ao câncer do nosso vice-presidente. Ele diz que está bem, os repórteres afirmam que não. E eu pergunto: é absolutamente necessário questionar publicamente - e seguidamente - o vice-presidente da República sobre sua doença pública e notória? Todos não sabemos que José Alencar é um sobrevivente e luta para viver seus dias com dignidade?

Não sei se o número de casos de câncer aumentou nos últimos anos ou se a medicina evoluiu tanto que agora os tumores são mais facilmente detectáveis. O fato é que a doença, insidiosa, cresce silenciosamente entre as várias camadas da população. As estatísticas mostram que morrer do coração ainda é mais comum. Mas o câncer, sem dúvida nenhuma, tem provocado estragos sem fim. Amigos, homens e mulheres públicos lutam para viver.

Que todos sobrevivam a doença, ao medo e a dor. E continuem conosco por muito tempo ainda.
Meu carinho e afeto especial para minha grande amiga. Que ela sinta o meu abraço apertado e o meu beijo estalado.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

O envelhecer de Caetano Veloso

Que mistificação é essa que a indústria de consumo imediato faz da velhice?
Não bastassem as agruras naturais do envelhecer somos obrigados a ler, todos os dias, notas e notícias que ou glamurizam estupidamente a terceira, quarta e quinta idades ............ou enchem de aspectos negativos uma etapa inexorável da vida de todos nós.

Duas entrevistas me chamaram a atenção neste final de semana. A primeira foi a do grande jornalista Gay Talese, 77 anos, que vai lançar um livro sobre os seus 50 anos de casamento com a mesma mulher. Talese tratou de explicar rapidamente que não se deve acreditar nas besteiras publicadas sobre sexo na velhice. Disse que as pessoas mais velhas sentem tesão sim senhor e gostam de fazer sexo. Engraçado como, lá no fundo, ficamos incomodados com a imagem de dois corpos flácidos e com rugas encostando um no outro...... Aprendemos a olhar com avidez para os corpos durinhos e malhados da juventude ou, no máximo, de quarentonas lipoaspiradas e botoxicadas.

O outro entrevistado que falou curto e grosso sobre o envelhecer foi Caetano Veloso. Está na Revista de Domingo do jornal O Globo. A pergunta da repórter é esclarecedora e tem a ver com o que escrevi ali em cima: " No seu blog você declarou que está entrando na velhice. É engraçado porque você é muito jovem". E a resposta de Caetano: " Não sou. Eu, de fato, tenho 66 anos".
Impressionante o entrevistado ter que responder isso, né não?
É como se o fato da cabeça continuar a funcionar com agilidade, talento e dinamismo fossem atributos distantes e impossíveis para quem já atingiu um certa idade.....
Se a pessoa pensa, não se conforma com babaquices e ainda bota pra fora desejos e fantasisas..........então ela é jovem........de alma!?!?!
A repórter insistiu: "Na sua alma você tem 66 anos?"
E nosso bahiano compositor explicou que não acredita em alma e que o nosso organismo simplesmente envelhece. Os olhos enxergam menos e a pele, por exemplo, não é mais a mesma da juventude. Isso é envelhecer.

Insatisfeita com a resposta, a jornalista fez a terceira pergunta, um exemplo claro da lavagem cerebral a que somos submetidos desde muito pequenos: se a alma é jovem o corpo não envelhece....
Piada de péssimo gosto.
A terceira pergunta: " isso entra em contraste com o que você pensa e sente? "
Foi então que Caê resolveu dizer o que pensa e sente. Disse que não está horrivelmente incomodado e nem infeliz por causa da velhice. " Acho muito ruim as pessoas depositarem todas as idéias negativas a respeito da vida e do sentimento do mundo na velhice. Muitas vezes o período mais infeliz da vida de uma pessoa foi aos 20 anos. Ela pode ter 85 e ainda estar feliz de ter superado o que superou aos 20, e ainda por cima feliz por outras realizações que teve aos 60, e pode morrer feliz. ... Não se pode botar tudo na conta da velhice. Mas não se pode negar a decadência natural que ela implica. Essa coisa de dizer que se o espírito é jovem então a pessoa não é velha, eu não entendo. "

Dez pontos para Caetano aqui na minha modesta avaliação.
Quantas vezes a gente ouve pessoas de 70 anos dizendo que não são velhas porque o espírito continua adolescente?
É ótimo que os velhos e velhas continuem lépidos e fogosos. Mas misturar espírito com físico é um pouco demais. Ainda Caetano: " Não estou dizendo que não haja distinção entre o espírito e o corpo. Há. Mas não existe espírito sem corpo. A velhice é um acontecimento fatal pra todo mundo, que modula a vida espiritual de uma forma ou de outra. Afirmar uma vivência interna de juventude é um sinal de movimentação do espírito para se adaptar à velhice".
Mais vinte pontos pra Caetano.

No melhor do papo, a entrevistadora mudou de assunto ou então editou (cortou) a resposta sobre a velhice. Eu, apaixonada sobre essas questões do envelhecer, achei uma pena. Mas acho a contribuição de Caetano mais do que importante. Ele tem 66 anos, é um senhor de passado libertário e "experimentador" e atravessa a vida sem se fantasiar de adolescente.
Se você mora no Rio de Janeiro, dê uma volta no calçadão. Alguns velhos continuam acreditando que o espírito jovem não deixa o corpo envelhecer. E se transformaram em caricaturas patéticas deles mesmos.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Dilma e o tempo ....

A notícia caiu como uma bomba. E os jornalistas das grandes publicações devem estar discutindo até agora. É que ninguém deu a notícia da cirurgia de nossa ministra três semanas atrás.
Ela mesma veio a público e, junto com a equipe médica, mandou ver.
Será que a doença e a quimioterapia vão abalar a campanha de Dilma?

Enquanto governo e oposição fazem suposições não seria interessante pensarmos no que pode acontecer de bom a essa mulher de 61 anos que trabalha 24 horas por dia e é conhecida pelo seu jeito " masculino" de ser?

Eu sinceramente desejo que dona Dilma aproveite o tempo da quimioterapia e o tempo de repouso para refletir sobre..... o tempo.
O tempo que ela terá para se olhar no espelho e encontrar, dentro dela, o lado feminino que quer e precisa aparecer. Cirurgia plástica é uma coisa. Mudança estrutural outra bem diferente.

Torço para que a ministra mais poderosa do governo Lula reserve um tempo significativo para refletir sobre o poder, a corrupção, a compaixão, o escrúpulo, a inveja e a desonestidade.
E que no final de todo o processo, quando estiver curada, olhe no rosto de todos os brasileiros e assuma: " Gente, sarei e mudei pra melhor. De agora em diante vou agir com todos vocês como fiz no anúncio da minha doença: transparência total" .

Sorte, Dilma, e muita força!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

SÃO JORGE EM CLIMA DE GUERRA

O Rio de Janeiro e o Brasil católico são devotos de São Jorge. Mas no Rio de Janeiro essa devoação virou até feriado. Nada contra. Mas vai ser muito bom se o dia 23 de abril, pertinho de outro feriado, voltar a ser um dia normal por aqui. A fé prescinde do feriado.
Ou não?

A cidade maravilhosa, assustada e anestesiada pela violência, reage pouco ao abuso e à agressividade de alguns cidadãos. Ontem, no meio da multidão, um homem jovem ameaçava, com um fuzil, os milhares de devotos de São Jorge que tentavam homenagem ao santo guerreiro, no bairro de Curicica. Em cima de uma viatura policial, mas em trajes civis, ele reinava absoluto sobre a platéia indiferente.
Indiferente?
É isso mesmo. Na foto que vi e que ainda não encontrei na internet, as pessoas aparentemente ignoram o homem armado. O fuzil, a milícia e o abuso já foram incorporados à paisagem urbana da nossa cidade.

Para onde estamos indo?

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Doutora Miserável

O final de semana chuvoso foi em João Pessoa.
Nas ruas, a pobreza de sempre. A ostentação, no Nordeste, é ainda mais agressiva do que por aqui, no sudeste maravilha.
Eu caminhava devagar, desligada, quando ouvi alguém me chamar: doutora, doutora, me dá uma ajuda? Não prestei atenção. Olhei de lado, vi o menininho, mas continuei a caminhar.
E de novo a vozinha, agora bem mais alta: doutora miserável! doutora miserável!
No Nordeste somos doutores e doutoras aos olhos de quem tem menos.
Fiquei fula da vida, olhei para o garoto. Junto com ele estavam um velhinho, uma carroça e um burro que comia cascas de melancia.
O velhinho permanecia em silêncio. No rosto, a expressão dos sábios que povoam os livros de autoajuda.
Olhou surpreso quando berrei de volta para o menino: que miserável que nada, apenas estou com pressa.... E depois voltou para o burro e para as melancias.
Fui até onde tinha que ir, fiz compras e tomei um café. Incomodada com minha reação e com o miserável que não parava de ecoar....
Na volta, o molequinho continuava lá. Agora deitado sobre a calçada, olhos fechados. O velhinho ajeitava algumas coisas na carroça.
Tirei um dinheiro da bolsa e me aproximei do velho. Ia deixar de ser miserável sem acordar o menino.
Mas ele acordou. E me olhou. Fui até ele e dei o dinheiro. E ainda disse: não sou tão miserável assim....
Patético?
O garoto levantou e se pendurou em mim. Beijou meu rosto e meu pescoço enquanto pedia desculpas. Desculpa, doutora. Desculpa, doutora.....
Abracei ele apertado.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

A MORTE NÃO PEDE CARONA

No final de semana morreu a ex-mulher de um amigo.
Ela foi baleada no rosto, assassinada durante uma tentativa de assalto no bairro carioca de Bonsucesso. Assustada, pisou na embreagem em vez de frear o carro. O tranco assustou o bandido. O revólver disparou. E lá se foi uma jovem mulher, mãe de três filhas.

Nunca fomos próximas. Mas acompanhei com atenção a batalha dela pela sobrevivência e pela educação das filhas. E dei uma força quando ela quis aprender a dirigir.
Ela estava ao volante quando foi morta.
Será, será, será.................?

Foi também no final de semana que a tia de uma outra amiga caiu no golpe do sequestro via celular. Ficou horas negociando com os falsos sequestradores. Acabou levando jóias e dinheiro para o local determinado por eles. Perdeu tudo. E só depois entendeu que tudo não passou de uma pegadinha....

Faz tempo que a vida parou de ter valor no Rio de Janeiro e em outras tantas cidades do Brasil.
A morte ronda as esquinas com petulância.
O que ainda falta acontecer para que todos, juntos, declaremos estado de calamidade pública na capital mais bonita do país?
É normal voltar pra casa e pensar: "ufa, mais um dia sobrevivido na Faixa de Gaza Tupiniquim" ?

Para onde estamos indo?

sábado, 11 de abril de 2009

Crueldade na padaria

O rosto deveria ser inexplorável, quase inexpressivo. Mas no olhar fixo e sem piscadas o ódio era intenso. Aquele era um homem jovem, alto e magro. Um ser humano que poderia simplesmente fazer parte daquele cenário. Mas.......

Praticamente empurrou o rapaz para fora do estabelecimento. O ato de expulsar não foi explicitamente violento. A pressão dos dedos da mão sobre as carnes do indesejado não deixou dúvidas. Aquele homem jovem, alto e magro era um ser humano diferente. Poderia fazer parte de qualquer esquadrão - da morte, da milícia, do tráfico ou do colarinho branco.

Na rua, encostado numa parede, o dono do olhar cruel tentava se confundir com a paisagem. Aparentemente tranquilo. O corpo, no entanto, transpirava maldade. O objeto indesejado, agora do lado de fora do estabelecimento, ainda continuava por ali à espera de gestos de compaixão e boa vontade.

Fui em direção ao pedinte. Sabia que ele aguardava apenas o que chamaria, mais tarde, de caridade. Depositei algumas moedas na palma da mão encardida.
Antes de seguir o meu caminho, não sei por que fui até o homem, suposto segurança do local. O olhar era o mesmo. A voz saiu baixa quando falei que senti pena do sem-teto e resolvi dar-lhe algum dinheiro. Nem assim ele me encarou. Baixou a vista e ajeitou a cabeça, para em seguida focalizar novamente o objeto rejeitado. Senti a frieza do ódio depois de alguns passos. Virei para trás e rapidamente nossos olhos se cruzaram.

O baixo astral provoca arrepios. A maldade, calafrios. Incrível mesmo é que tudo isso aconteça numa manhã linda, de céu azul e gorjeios variados. E dentro de uma padaria.

Para onde estamos indo?

quinta-feira, 9 de abril de 2009

UMA AUSÊNCIA QUE ME INCOMODA

Minha proposta era tentar manter uma assuidade razoável neste blog. Afinal, a gente escreve para compartilhar o que vivemos e sentimos.
De um mês pra cá minha vida profissional deu uma guinada. Comecei a trabalhar longe de casa - bem longe. Entre a hora que acordo (4h30) e minha volta para casa (20h00) sobra pouco tempo para relaxar e dormir.
O novo ritmo é alucinante, apesar do desafio. É novidade. E coisas novas são sempre boas.
Mas são tantas coisa pra resolver que acabei deixando de lado o meu blog querido. Como disse a Cristina Montenegro, este espaço está " bem abandonadinho"...... Está mesmo.
Fico cheio de inveja quando leio - rapidamente - os blogs que tento visitar e acompanhar. Tá todo mundo escrevendo. Meu amigo Ricardo Soares sempre de vento em popa. O blog do Bourdoukan bombando, com o perdão da metáfora.... E ainda tem novos amigos que foram aparecendo desde dezembro, quando decidi começar a escrever ..... Groo, Urtigão, Balaio Porreta e muitos outros...

Pois então: parei tudo aqui no trabalho para mandar um beijo e um abraço. E pedir a vocês que não fujam e nem sumam. E que tenham paciência. Este é só um intervalo em que reorganizo minha vida e reequilibro energias e sensações.

um beijo para todos.

domingo, 29 de março de 2009

Aconteceu comigo....

Simplesmente ocorreu. Aconteceu. Concretizou-se.
O estranho e único momento em que somos fisgados por um lance de dados. A coincidência extrema. Talvez o destino que bata na porta ou uma conspiração de anjos a seu favor. O telefonema.
Os dias passavam mornos por fora, conturbados e revoltos no interior.
Calma aparente, amargura roendo um pedaço de alma.
As questões pessoais eram as mais comuns: valorização, autoestima, envelhecer com dignidade. A eterna espera por uma ligação que aprove ou não o projeto que vai mudar a sua vida para melhor.
Crise ou azar, a verdade é que os planos são derrubados um a um. E você se esforça para não sucumbir. Quase acredita na força do pensamento positivo. A energia existe, o teatro em torno dela é que incomoda.
E então você está atenta, apesar de um tanto quanto conformada quando compra 5 livros para não perder o hábito. E o telefone toca.
Não é quem você espera. Não é o que você espera. É uma voz conhecida, embora nada íntima. Um tom de convocação para um próximo passo inesperado. Você topa. E em 24 horas sua rotina vira de ponta cabeça.
Back in business. Você não desistiu.
Foi assim mesmo. Por conta de um único telefonema, às 10 da noite, quando você tinha certeza que nada interromperia a leitura do livro que acabou de comprar.
O acaso e os anjos são geniais.

domingo, 22 de março de 2009

A AMÉRICA DE CLINT EASTWOOD

Entrei no cinema para ver GRAN TORINO esperando um solo de Clint, ator politicamente envolvido com o partido republicano desde os anos 50 e considerado conservador nos moldes do chamado "progressismo" norteamericano.

O filme é mesmo um solo do eterno Dirty Harry, agora mais maduro e ainda mais amargo. Mas que solo.... e que roteiro subreptício, no bom sentido. Um retrato dolorido do "puzzle" no qual se transformou a sociedade americana. Um quebra-cabeça de culturas e costumes que transformaram as ruas das grandes e médias cidades dos Estados Unidos em guetos controlados por gangues das mais variadas procedências.

Um coroa americano racista, enlutado, amargo e grosseiro. A intolerância ambulante. E um subúrbio típico, dominado pelas tais gangues de latinos, asiáticos e negros. Nas ruas, ser bonzinho ou tentar encontrar um rumo na vida pode ser o passaporte para o inferno.

O filme é um manifesto contundente contra a intolerância e uma crítica bem humorada à ditadura do politicamente correto que invadiu o país de Obama. Num país que abriga imigrantes de todas as partes do planeta, os amigos contam piadas de judeus, italianos, polacos, irlandeses e negros. E depois tomam uma gelada sem culpa.

O final é melodrama puro. Mas a performance de Clint vale cada fotograma. Não faz mal que ele tenha feito campanha para Nixon e votado duas vezes em Schwarzenegger. Desde BIRD - um belíssimo filme (1988) sobre o grande Charlie Parker - acompanho com admiração todas as suas empreitadas.

sábado, 14 de março de 2009

Depressão, ciúme, loucura?

Que estranhos caminhos percorre a mente de um homem que dirige um carro, agride a mulher com o extintor de incêndio na frente da filha de 5 anos , abre a porta e empurra a mãe da menina com o veículo em alta velocidade, vai até o aeroporto local, invade um avião, decola - sem saber pilotar - leva a filha para uma aventura fatal e se joga ou cai em cima de um estacionamento de shopping na cidade de Goiânia?
Que demônios habitam esse ser?
A família conta que ele estava deprimido. OK. Depressão aguda é mesmo um demônio à espreita. Mas será a depressão a razão de todo esse drama? Um drama que matou um adulto enlouquecido e, PRINCIPALMENTE, uma criança de 5 anos? Uma menina que vivenciou, num curtíssimo espaço de tempo, as emoções mais desconcertantes e avassaladoras que um ser humano pode vivenciar? Uma garotinha que deveria se sentir protegida e amada na presença dos pais e que antes de morrer ainda é obrigada a testemunhar a crueldade e a insensatez que invadem a alma de um adulto que ela aprendeu a chamar de pai?
E a mãe, em coma, que ainda vai ter que acordar para viver a PERDA absoluta, com letras maiúsculas?
Que universo é esse em que crianças de 9 anos engravidam de padrastos, em que a igreja católica condena abortos mas não estupradores, em que um adolescente alemão assassina 16 colegas e um pai embarca com a filha para o céu e despenca no inferno?
Pergunto: será que a física quântica ou alguma outra lei fascinante e misteriosa dos buracos negros explicam a razão de ser de tudo isso?
Peço ajuda aos universitários.

domingo, 8 de março de 2009

Trabalho temos de sobra!

São muitas as fotos. Belíssimas, tocantes, emocionantes, revoltantes.
Os jornais deste domingo trazem um cardápio variado de mulheres ao redor do mundo.
Na comemoração do dia Internacional da Mulher, os fotógrafos do planeta capricharam. De Kandahar a Madri, do Rio a Manila, estão lá as imagens dos movimentos populares que ocupam as ruas das grandes cidades no dia de hoje.
Entre as fotos escolhi a que, na minha opinião, resume com perspicácia a arte e o fardo de ser mulher. E cá entre nós, a frase do cartaz é boa demais, né não? Queremos emprego porque trabalho já temos de sobra. Isso é verdade aqui no Brasil ou lá em Estocolomo, confere?

quinta-feira, 5 de março de 2009

Igreja católica: estupra......mas não mata


Não bastou o estupro de uma menina de 9 anos.
Não foi suficiente o fato dela ter engravidado de gêmeos.
Também parece que não foi levado em consideração o quadro clínico da criança, que só fez se agravar durante a gravidez.
Mas a insensatez inesgotável da Igreja Católica marcou presença: além de contrária à interrupção da gravidez, ameaça processar a mãe da menina por homícidio. Sendo que a legislação brasileira permite o aborto em vítimas de estupro até a vigésima semana de gravidez.
A menina tem 1,33m e pesa 36 quilos. Precisa dizer mais alguma coisa?

E o padrasto estuprador? Essa é uma outra história. Uma história que se repete Brasil afora. Padrastos estupram, pais estupram, tios estupram....
Para milhares de meninas vítimas da psicopatia de parentes e afins, a tortura pode durar anos. E o pior: carregam a culpa do proibido e do inconfessável. Em muitos lares, quando a criança abre a boca para denunciar o assédio ou o estupro, é imediatamente espancada. Muitas vezes pela própria mãe.
Já imaginou se alguém, na cadeia, aponta para o padrasto e comenta que ele é o homem que além de estuprar e engravidar uma criança de 9 anos, abusava sistematicamente da irmã da menina, uma deficiente física e mental de 14 anos ?

segunda-feira, 2 de março de 2009

Campanha Veja outras Caras

Achei a iniciativa muito boa. A campanha já corre solta por aí, mas vale a pena mais um empurrão, né mesmo?

Por: Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá – Jornalistas e fotógrafos independentes. http://mediaquatro.sites.uol.com.br

De nada adianta berrar contra a mídia hegemômica se não houver alternativas à disposição da população. Se a televisão brasileira e os jornalões são dominados por um punhado de famílias, e as rádios comunitárias e livres continuam sob repressão de políticos e igrejas que não querem dividir o dial, as publicações dos trabalhadores em papel não sofrem a mesma perseguição. Mas a distribuição em bancas também é dominada por um cartel que se recusa a entregar as revistas de maior circulação para quem insiste em vender material de “concorrentes”.

Já que os donos de bancas não podem prescindir economicamente das hegemônicas e as tiragens das populares são menores, estas, quando são vendidas, normalmente ficam de fora das prateleiras mais visíveis e quase nunca nas vitrines. Além disso, devido aos custos de papel e produção, os preços também não podem ser muito diferentes…Como, então, levar ao público leitor uma informação alternativa de qualidade e de graça? Nossa humilde sugestão é a singela Campanha Veja outras Caras!

A ideia é simples: trocar algumas publicações da mídia hegemônica disponíveis em lugares públicos, por revistas, jornais, boletins e outros materiais de conteúdo diferenciado. Afinal, quem já não teve de ficar horas na sala de espera de um consultório, escritório ou repartição tendo à mão para leitura apenas revistas sobre a vida das “celebridades” ou panfletos da direita disfarçados de semanários pseudo-informativos? E o que é pior: essas publicações normalmente são antigas, perpetuando sua condição hegemônica (como se não houvesse alternativa) e reafirmando conceitos e ideologias que quando não são francamente mentirosos ou preconceituosos, são contrários aos interesses dos trabalhadores, como o estímulo ao consumismo e à manutenção do status quo.

A Campanha Veja outras Caras não requer prática nem tampouco habilidade. O investimento financeiro, quando ocorre, é irrisório por ser distribuído entre vários agentes e sempre absorvido intelectualmente pelos autores antes das ações. Pode ser considerada uma prática de guerrilha midiática, mas não é ilegal nem traz danos às pessoas atingidas, a não ser talvez ao seu preconceito. E você ainda pode se livrar do acúmulo de papel em casa, que na era da Internet serve mais para juntar poeira e atrair cupins.

Para fazer parte da Campanha Veja outras Caras, basta simplesmente levar consigo, sempre que for passar por uma sala de espera, algumas boas publicações já lidas, atuais ou não, ou até mesmo textos interessantes de sites e blogs impressos em papel reutilizado (verso de sulfite já usado). Também valem fanzines, revistas semanais ou mensais que você considere de real credibilidade, jornais de bairro, quadrinhos, publicações sobre cultura, música, literatura, culinária, viagens e até livros que estejam apenas ocupando lugar nas estantes. Aí é só “trocar” seu bom material de leitura pelo lixo que estiver disponível. E dar um fim decente ao papel “recolhido”, como mandar para reciclagem, forrar a caixa de areia do gatinho, fazer esculturas de papier mâché, acender o carvão do churrasco…

domingo, 1 de março de 2009

Ricardo Soares, Ciro e Serra








Sempre que leio alguma coisa sobre o deputado Ciro Gomes lembro do meu querido amigo Ricardo Soares.
Pois no Panorama Político do Globo deste domingo está lá. Parece que fez água a relação de Ciro com o PT. E diante de tamanho desgaste o parlamentar já estaria admitindo a possibilidade de fazer uma aliança com José Serra para 2010.
Segundo a coluna, o político cearense foi curto e grosso: " Querem propor aliança com Serra? Eu discuto. Em que termos?"
Uau.............quer dizer então que o ex-governador e ex-ministro já é quase um tucano? Quanta flexibilidade, hein, Ric?

Preconceito a la brasileira




Em sua coluna de hoje (O Globo), o jornalista Elio Gaspari chamou a atenção do leitor para um detalhe muito interessante: o preconceito tupiniquim contra integrantes de sua própria tribo. A saber:
" Depois que Paula Oliveira admitiu para a polícia suiça que não foi atacada por xenófobos aconteceu algo estranho com a sua qualificação. Quando sua história teve crédito era "brasileira". Quando o relato trincou ela passou a ser chamada, com alguma frequência, de "pernambucana". Há suiços que gostam de contar histórias de preconceito de brasileiros contra brasileiros".

Precisa escrever ou dizer mais alguma coisa?
São essas qualificações, aparentemente insignificantes, que ajudam a inocular na população mais vulnerável intelectualmente - composta por uma imensa faixa de ricos, pobres e remediados - a intolerância, a falta de sensibilidade e compaixão, o ódio e a ausência completa de limites.
São muitos os adjetivos que cabem no preconceito.

Em relação ao caso de Paula tenho uma pergunta que não quer calar: cadê o noivo ou o namorado suiço da moça? Por que ninguém mais fala no rapaz? Será que ele veio escondido para o Brasil?





sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Divina Itália em João Pessoa

No ano passado, minha filha Mariana abriu um restaurante italiano em João Pessoa. Ela e os dois sócios (Ana Paula e Franco) batalharam muito para apresentar ao paraibano, carente de novidades gastronômicas, uma combinação de descontração e boa comida.
Mãe coruja que sou, faço questão de mostrar para os meus 3 leitores a foto de uma crítica elogiosa, publicada esta semana na Revista Gula. Para ler a matéria clique sobre a foto.

Para quem viaja muito pelo Nordeste, taí uma ótima pedida. E sabe por que? Porque o chef Franco, além de ótimo anfitrião, não tira o olho da turma que pilota panelas e frigideiras. Além do chef, o público também pode acompanhar o preparo de todos os pratos, já que apenas uma parede de vidro separa a cozinha da sala onde estão as mesas. Um toque de charme que ficou a cargo de outro amigo, o arquiteto Marcelo Cecchi.
No salão, Mariana e Ana Paula fazem questão de que a descontração dos garçons se traduza em eficiência. Ponto a mais para quem adotou João Pessoa como lar e sabe que o turismo paraibano precisa se profissionalizar, em todos os sentidos.
Vida longa ao Divina Itália!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Ueba! Os blocos invadiram o Rio de Janeiro

É refrescante. É saudável. Sinal de que a cidade resiste à violência dos que querem tomar posse de sua identidade. Uma cidade que gosta de abrir as portas e curtir o quintal, o asfalto, a areia.

Os blocos estão em todos os bairros. Enormes ou diminutos, ao gosto do freguês. Um sobrinho me conta que ontem esteve na Urca. O bloco saudava Roberto Carlos com refrões e versos de apenas três músicas. Os foliões foram até o prédio do Rei, insistiram, capricharam na afinação e lá veio RC acenar para uma novíssima geração jovem guarda.

O Rio não estava preparado para os mais de 400 blocos (160 registrados oficialmente) que invadiram todas as regiões da cidade. O trânsito não suportou. Até para quem se refugia nos cinemas, como eu, não foi fácil circular. Principalmente depois das 6 da tarde, quando os táxis passavam lotados ou exorbitavam nos preços: 50 reais daLapa ao Leme, por exemplo, e assim foi. Era pagar ou largar.
No sábado, dia do bloco do Barbas, em Botafogo, procurei pela polícia, mas não encontrei. Depois, caminhando na orla de Copacabana, prossegui com a busca. Nada de PMs e apenas dois guardas municipais. É bem verdade que os companheiros, muitas vezes, conseguem mais atrapalhar do que ajudar. Mas não é possível e nem imaginável subestimar a capacidade de ação do crime organizado e da galera nem tão organizada assim.
O que acho admirável é ver tanta gente na praia, nas ruas e nos bailes. A alegria venceu o medo. E isso apesar dos lamentáveis assaltos a turistas em albergues e excursões pela cidade. Muitos foram embora, chocados com a violência escancarada. Atualmente, assaltante que se preze já chega munido de fuzil e granada. Imagine um canadense diante de um cenário desse?
Mas.............. o Rio de Janeiro resiste, e sem saudosismo. Como escreveu Ruy Castro na Folha de São Paulo, " o Rio custou, mas redespertou para o Carnaval. E para um Carnaval que também parecia defunto: o dos bailes à fantasia, com orquestras de metais, em clubes e gafieiras; dos shows de ruas (trazendo de volta baluartes como Roberto Silva, JOão Roberto Kelly, Ademilde Fonsexa) e até o de deliciosos ranchos, estilo 1910, como o Flor do Sereno, em Copacabana. Não é uma " nostalgia" ".
É.... não tem saudosismo e nem nostalgia. Tem uma injeção de juventude, ar puríssimo que faz circular uma energia que contagia até os mais céticos.
Viva o alto astral!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Claudinho Favieri

Na juventude fomos muito próximos. Viagem para Ubatuba, porres no Bartolo da Vila Madalena e noitadas depois do trabalho na Rádio Globo. Éramos um time, palavra que virou clichê no pós-pós-liberalismo. Vivemos poucas e boas. Ultrapassamos alguns limites. Sofremos .
Claudinho sempre escreveu bem. Adorava ser repórter.
Depois nos distanciamos. Cidades diferentes, interesses distintos, carinho sempre presente. E nos reencontramos em Cunha. O afeto era o mesmo, apenas mais maduro.
Na pousada Vale das Cachoeiras Claudinho viveu os últimos 13 anos de sua vida. Ricardo Soares era hóspede frequente. Divulgamos a hospitalidade e a beleza de Cunha entre vários amigos comuns. A lotação era plena neste Carnaval.
Claudinho morreu na véspera da folia. E com ele um jeito especial de encarar o jornalismo. Uma batalha pela apuração e pela intimidade com a notícia que faz falta neste início de século 21.
Em nossas trocas de e-mail ele me chamava de "minha flor de laranjeira".
Pois foi-se embora uma das pessoas mais floridas que conheci.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Os labirintos de Foucault

Torci. Pra falar verdade ainda torço. Exatamente como fazia quando criança. Figa para que aquilo que desejava muito desse certo. Dedinhos cruzados.
É assim que aguardo a aparição de Paula. Pasma, perplexa. Mas fazendo figa.
A se confirmarem as declarações da polícia - que vazaram para a imprensa suiça - Paula teria admitido que forjou uma história de agressão e ainda mentiu sobre a gravidez de gêmeos.

Zuenir Ventura escreveu, em sua coluna do Globo, que essa é a história mais desconcertante já presenciada por ele em 50 anos de jornalismo.
A palavra é essa: desconcertante. Mais forte ainda, ACACHAPANTE.

Insisto. Ainda acredito que o ser humano seja " fabricado" com uma grossa camada de bondade e honestidade sob a pele que esconde o vaivém frenético do sangue no corpo.
Lamento, e muito, que as notícias sobre a crueldade humana suplantem em quantidade e requintes as informações que recebemos sobre solidariedade, cumplicidade e compaixão .

Que labirintos ou meandros sombrios convocam a mente humana a construir histórias como essa, que mobilizou um país inteiro ?
Todos torcemos. Todos xingamos os agressores e a polícia suiça.

E agora? Vamos torcer para que Paula não tenha inventado tudo apenas pelo dinheiro de um suposto seguro? Torcer por um distúrbio emocional que amenizaria a sordidez de mais um plano mirabolante?
Que falta fazem as análises de Foucault....

domingo, 15 de fevereiro de 2009

JOSÉ PADILHA E SUA GARAPA DA FOME

A reação da platéia, ao final da exibição do documentário GARAPA, do diretor brasileiro José Padilha, foi absolutamente silenciosa. O público lotou o Cinestar, em Berlim, para conferir a mais nova realização do ganhador do Urso de Ouro de 2008, com TROPA DE ELITE.

A reação teria sido um elogio, comentou um espectador, diante do que ele sentiu como perplexidade do público. Pode ser.
Na verdade, GARAPA é um filme sobre a fome. A fome brasileira e mundial retratada a partir do cotidiano de três famílias cearenses.
Ainda não vi o filme. Mas quero muito ver. Inclusive porque Padilha, desta vez, optou por um filme mais lento, com muito menos ação e sem a agitação da turma do BOPE. Isso quer dizer que seremos obrigados a olhar mesmo para as crianças famintas - com as pernas cobertas de feridas e moscas - e para a luta das famílias, principalmente das mulheres, na busca insana por alguma tipo de alimento.

GARAPA é um bebida feita de água e açucar que substitui o leite na mamadeira das crianças miseráveis.
O que achei ainda mais interessante foi Padilha ter chamado a atenção da mídia, em Berlim, ao exigir para o combate à fome o mesmo engajamento dos governos em relação à crise econômica mundial.
O diretor recheou com números o seu discurso. Em todo o mundo morrem, a cada dia, cerca de 16 mil crianças - de fome ou de doenças relacionadas à subnutrição. Padilha afirmou o que todos nós sabemos: os políticos ignoram o problema, que poderia ter sido resolvido utilizando os recursos aplicados em armamentos (1,5 trilhão de dólares gastos em 2008). "30 bilhões de dólares anuais bastariam para o combate à fome mundial. Mas o fenômeno, embora tão grave, continuou sendo ignorado também na era da crise econômica mundial. Já foram utilizados mais de um trilhão de dólares para salvar os bancos e a fome não é vista ainda como prioridade pelos políticos".

Até quando assistiremos a essa torneira gigante que despeja grana direto nos cofres falidos dos bancos? Bancos que foram as empresas mais lucrativas neste início de século 21?
Será que nenhuma mudança de comportamento, ideológica mesmo, surgirá desta crise globalizada? O capitalismo e seus maestros, feridos de morte, escolherão o contorcionismo como forma de agonia? E nós, atores e vítimas, adotaremos a dança do ventre para empurrar com a barriga a sucessão de crimes financeiros e o horror da fome que aflige pelo menos 900 milhões de pessoas em todo o planeta?

A ver. E sofrer.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O preconceito e a dúvida


Pesquisa realizada pelas Fundações Perseu Abramo e Rosa Luxemburgo escancarou o que a turma da geral já sabe: apenas 1% da população brasileira com mais de 16 anos NÃO têm preconceito contra homossexuais. Quase 30% assumem que não gostam de gays, lésbicas, travestis ou transexuais. E tem mais: a cada 3 dias do ano passado cometeu-se pelo menos um crime de ódio por orientação sexual no país.

Para quem não acredita e entrega o preconceito às mãos do Divino todo misericordioso, aqui vai: 66% dos 2.014 brasileiros ouvidos em 150 cidades acreditam piamente que a homossexualidade é um pecado contra as leis de Deus. Outros optaram pela homossexualidade como doença. Mas, atenção, uma doença que precisa ser tratada.

O governo federal encomendou a pesquisa e, ainda bem que sensibilizado, vai lançar, em maio, o Plano Nacional de Promoção da Cidadania LGBT. Cogita-se também o planejamento de novas políticas diante do espectro sombrio da...................INTOLERÂNCIA!!!! E engula essa: 70% dos entrevistados consideram que o governo não deve se envolver na situação!

Ora pois, como assim? Faz muito bem o nosso governo em se envolver e em combater a falta de educação e de respeito pelas opções do OUTRO. A outra pessoa que você vê todos os dias na rua. Aquele ser humano que caminha ao seu lado mas, certamente, não pensa e não age como você ou como eu.

É isso mesmo, tupiniquins, somos intolerantes e preconceituosos. Ou alguém acreditava que aqui nos trópicos tudo seguia em harmonia no que diz respeito à opção sexual de cada brasileiro? Necas de pitibiribas. A INTOLERÂNCIA é a dama de companhia deste século 21. Olhe para qualquer pontinho do mapa mundi e encontrará um exemplo cabeludo.

Dito isso, recomendo um filme que está em cartaz e que tem tudo a ver com a INTOLERÂNCIA. É "DÚVIDA" (Doubt), com Meryl Strep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams e Viola Davis. Grandes interpretações para mostrar o perigo da intolerância diante da dúvida. Aquele momento em que você acredita ter certeza de que a sua opinião é a correta, apesar de evidências em contrário. O instante em que você decreta o fim da dignidade do outro com o seu poder de acusar, mesmo na dúvida. O filme é americano. Se fosse europeu, tenho certeza que seria muito mais indigesto. Mas é bem feito, bem dirigido e lindamente executado por atores brilhantes em seus respectivos papéis. Dá até pra perdoar o excesso de melodrama em algumas cenas.

O importante é entender que a intolerância e o arrependimento tardio podem corroer o coração até o final de todos os nossos dias. A certa altura do filme, um personagem central afirma algo como: " a virtude - o amor e compaixão - é a grande arma contra a maldade da alma humana".

Em que momento da infância a intolerância começa a ser inoculada em nossas crianças?

domingo, 8 de fevereiro de 2009

As ideologias, o terrorismo e, lá longe, o caso Battisti

Alguém declarou, há tempos, que nestes tempos pós-modernos o conceito de DIREITA E ESQUERDA não existe mais. Que o fracasso do socialismo, em várias partes do mundo, foi o golpe de misericórdia nas ideologias.
Alguns argumentaram que o capitalismo tinha vencido e que era dentro dele que cabia a nós, sobreviventes, discutir o que poderia ser feito para " aprimorar" o sistema.
Bullshit.
Quanto mais avançamos no século 21 mais claro fica, pra mim, que acordamos, respiramos e vamos dormir pensando e agindo de forma ideológica. Isso pode ser extremamente positivo, principalmente se pararmos para pensar de que maneira a NOSSA (minha, sua) DIFERENÇA pode afetar o outro e toda a comunidade.
O preconceito, a falta de educação, a violência, o racismo, a ostentação, o autoritarismo, a falta de honestidade... fazem parte do cotidiano de pessoas que escolheram viver assim. São atitudes ideológicas, mesmo que o sujeito que as execute não tenha plena consciência do fato.
Tribos existem, todas temos as nossas. O problema é quando a Tribo A quer destruir a Tribo B sem direito a discussão ou argumentação.

Tudo isso passou pela minha cabeça quando comecei a tentar entender o caso Battisti. Entre amigos muito próximos, as opiniões demarcam claramente de que lado da balança cada uma dessas pessoas se posiciona. Conceder ou não asilo político, extraditar ou não o cara, todas essas questões geraram debates que resumem - pro bem, pro mal ou pra coluna do meio - quem somos nós e o que pensamos da vida e do capitalismo, sistema econômico e social vigente neste planeta quase em frangalhos.

Poderoso, criminoso, agonizante, o sistema capitalista e seus mentores usam o fracasso do socialismo para eliminar, dos corações mais jovens, o sonhos e a batalha por um mundo mais justo e igualitário.
Foi nessa discussão sobre o Caso Battisti e sobre quem é e quem não é terrorista que nosso grupo recebeu, de uma pessoa muito querida, o texto que reproduzo abaixo :

Então somos todos criminosos - a esquerda, por tentar acabar com a exploração cometendo erros horríveis e a direita, por tentar manter a exploração cometendo erros horríveis.
Menachen Begin e Itzak Shamir, tão terroristas antes da criação do Estado de Israel e tão Primeiros Ministros depois.
Dan Mitrione, que ensinava tortura no Cone Sul, é considerado quase um herói nos EUA. Talvez os tupamaros que o executaram fossem só criminosos baixos porque Stalin cometeu suas atrocidades.
Até o tão democrático estado americano - que fez a Lista Negra nos anos 50 e aceitou o afogamento e outras metodologias pouco ortodoxas nos nossos dias atuais - pode e deve ser considerado bonzinho porque é democrático e Mao cometeu suas atrocidades.
Israel tem mesmo que bloquear Gaza por 19 meses - nem ajuda humanitária entra - e bombardear a torto e a direito - lapidar a explicação de que a população de Gaza dava suporte ao terrorismo por votar no Hamas - porque houve terror de estado nos satélites soviéticos.
Já que Cuba também cometia seus desatinos, tortura nesses latinoamericanos de merda e os milhares de desaparecidos na argentina, chile, brasil, uruguai, paraguai, méxico etc - ad nauseam - no fundo estavam aprontando das suas.
E nem falamos ainda do arqui-criminoso Khmer Vermelho.

O fato é que o status quo considera, e sempre considerou, criminoso comum qualquer um que o ameace. Aí o discurso bonzinho acaba. E vamos concordar que o atual status quo está nos convencendo, a cada dia que passa, que não é bom se revoltar. Já que se cometeu tantos crimes do lado de lá, parem de reclamar e nos deixem falir o mundo à vontade, demita-se milhões e, silêncio por favor, que temos de prestar socorro aos que faliram o mundo. Esqueçam os nossos possíveis excessos pontuais porque os deles é que são criminosos. Às vezes dá vontade de vomitar.
Acho que a denúncia dos crimes cometidos pelo socialismo, no poder ou fora dele, não pode nos levar a quase aceitar o que o sistema capitalista fez e continua fazendo. Tanto no terreno da exploracão quanto no da repressão. O capitalismo é criminoso de berço e, pelo menos, a intenção socialista é boa. Por mais que a prática não recomende.
É bom lembrar que os socialistas, comunistas, etc... só apareceram porque nosso status quo já estava explorando, reprimindo, etc...
A luta por uma sociedade igualitária passou por muita luta, muito sofrimento. Ou nós já revisamos os crimes do tzar, dos imperialistas na China, dos Batistas em Cuba?
Nenhuma brutalidade deles, nada para embrulhar nossos estômagos?
Pelo que o capitalismo já fez com o mundo, acho que devemos pelo menos considerar que houve excesso na legítima defesa. Porque este sistema não pode ser considerado bom.


por Antonio Henrique Lago

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009



A organização JEWISH VOICE FOR PEACE está fazendo circular, pela internet, uma carta aberta ao presidente Obama. A carta pede o fim do bloqueio econômico e financeiro à Faixa de Gaza. Entrei em contato com a organização quando fui saber mais sobre os jovens israelenses que se recusam a prestar o serviço militar. Eles discordam das táticas de ocupação adotadas pelo governo de Israel. Hoje, recebi uma newsletter com essa carta aberta e também com algumas notícias sobre Gaza pós massacre. O que me chamou a atenção foi a declaração de um morador de Gaza:

" Enquanto aguardava sua vez na fila da única padaria aberta na região, o morador de Gaza Mohamed Salman comentou com alguém: vou comprar alguma coisa que minha família possa conservar no máximo por dois dias. É que estamos sem eletricidade e sem geladeira. Não dá para guardar nenhum alimento por mais tempo que isso".
Mohamed fez esse comentário em JANEIRO DE 2008!!!! Hoje, muitas padarias de Gaza estão fechadas porque também não têm luz. Algumas não conseguem comprar nem a farinha para fazer o pão.
O bloqueio de Israel inviabilizou o mínimo de dignidade no dia-a-dia dos moradores de Gaza. A população não tem acesso ao básico fundamental: pão, água limpa, medicamentos e eletricidade.

Lembra da frase YES, WE CAN? POis então. Vamos lembrar ao Obama que SIM,NÓS PODEMOS não vale apenas como marketing eleitoral. Entre no site e assine a carta.É o que podemos fazer neste momento:
http://salsa.democracyinaction.org/o/301/petition.jsp?petition_KEY=1814

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Médicos Sem Fronteiras e as maiores crises humanitárias de 2008

A organização humanitária que mais admiro e respeito é MÉDICOS SEM FRONTEIRAS (MSF). A presença e a atuação do MSF são fundamentais para vários países do mundo, principalmente os que atravessam crises decorrentes de guerras, doenças e desnutrição.

No Brasil desde 1991, o MSF, hoje, tem uma base importantíssima no Complexo do Alemão, aqui no Rio de Janeiro. São esses profissionais da saúde que, em plena guerra do tráfico, ainda conseguem atender e transportar os doentes e as vítimas desse conflito sangrento que mancha a dignidade de todo cidadão carioca.

Em dezembro, o MSF produziu e divulgou mais uma lista com as 10 Maiores Crises Humanitárias de 2008. Relacionada com as tarefas médicas de emergência da organização, a lista procura gerar mais conhecimento sobre a magnitude das crises que podem ou não aparecer nos jornais. E que muitas vezes não aparecem.

Somália, Mianmar, Sudão, República Democrática do Congo, Região Somali da Etiópia, Zimbábue, Iraque e Paquistão, Desnutrição Infantil e Co-infeção HIV/TB (tuberculose) foram as mais graves crises humanitárias do ano passado.

De acordo com a organização, os governos estão ignorando a crise da desnutrição infantil. Veja o que diz o relato do MSF:
" Este ano o governo do Níger forçou o cancelamento do programa de nutrição infantil de MSF na sofrida região de Maradi, onde dezenas de milhares de crianças sofrem de desnutrição aguda. Como resultado, elas não receberam o tratamento adequado e efetivo. Este caso acontece em uma época em que os esforços para progredir na luta contra a desnutrição no mundo são mais possíveis – e necessários – do que nunca. A realidade no campo é que MSF e a comunidade humanitária são incapazes de fazer nem sequer o suficiente para as populações que precisam de ajuda médica vital", afirma o Presidente do Conselho Internacional de MSF, Dr. Christophe Fournier. "Com a divulgação desta lista, esperamos chamar a atenção para essas pessoas que tanto precisam, depois de ficarem cercadas entre conflitos e guerras, afetadas pelas crises de saúde, e que têm suas necessidades de saúde essenciais e imediatas negligenciadas, essas pessoas que não têm voz".

Você também pode contribuir com o MSF . A entidade sobrevive graças a doações de gente como nós, que acredita na solidariedade e no respeito aos direitos de todos os seres humanos, principalmente os mais vulneráveis à crueldade e à injustiça do sistema de distribuição de renda que vigora em boa parte deste planeta.
Vá ao site http://www.msf.org.br/ e conheça mais sobre sobre MÉDICOS SEM FRONTEIRAS. Vale a pena.
(A foto deste post mostra uma mãe e uma criança somalis. O fotógrafo é Petterik Wiggers)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

FOI APENAS UM SONHO

O filme de Sam Mendes tem a ver com vazio, falta de esperança, repressão, vontade de explodir e de amar. A ação se passa na década de 50. Mas poderia ser em 2009, com mulheres norteamericanas liberadas e independentes financeiramente. O vazio é atemporal.
O diretor inglês/português escolheu um romance do subestimado Richard Yates. Morto em 1992, o escritor partiu para a eternidade sem ter conseguido comprar de volta os direitos cinematográficos de REVOLUTIONARY ROAD. No Brasil o livro foi lançado pela Alfaguara com o mesmo título do filme, FOI APENAS UM SONHO.

Gostei da performance de Leonardo, o Di Caprio, que a cada filme lapida o seu estilo, apesar do rostinho de menino. Já com Kate Winslet acontece algo muito interessante: a partir de um certo momento, no filme, a máscara que representa um mix de cinismo e desespero vira pele e nos envolve até.........o desenlace. Sentimos raiva e pena de sua April.

Ainda que muitas vezes caricato (por conta do roteiro, não da atuação), o personagem do ator Michael Shannon destila e atira, no casal em crise, suas idéias sobre coragem, covardia e ressentimento. Mas é a interpretação do ator que surpreende: seco, cruel, sem meias palavras, o recém-liberado paciente do hospital psiquiátrico (uma barra pesadíssima na década de 50) destrói as últimas ilusões de April.

Algo em BELEZA AMERICANA, do mesmo diretor, sempre me incomodou. Talvez exatamente a crítica, um tanto histérica, do já famoso moralismo americano. Em FOI APENAS UM SONHO essa crítica amadureceu, na minha opinião. Ficou mais seca, menos melosa. O sonho acabou e saí com uma imensa batata dentro da garganta.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Adolescentes israelenses lutam pela paz

O blog do Bourdhokan me ajudou. Muito. Em primeiro lugar me ajudou a ordenar cronologicamente o massacre de Gaza. Entendi que, ao contrário do que afirma o presidente Barack Obama, a culpa do massacre de Gaza não é do Hamas e de seus foguetes disparados contra Israel. Em segundo lugar ficou ainda mais claro que quem nunca cumpre tréguas é Israel, que sufoca um milhão e meio de pessoas dentro da Faixa de Gaza: um controle absolutamente desumano nos "check points" e um estrangulamento econômico que choca o bom senso de qualquer cidadão. Principalmente o de gente estudada, bem criada e super bem informada, como é o caso do super presidente dos Estados Unidos. Bom, assim deveria ser. Mas não é.
Obama culpa apenas o Hamas.

Enquanto isso, em Israel....

Yes, we can. É isso o que estão gritando, cada vez mais alto, os jovens israelenses que se recusam a prestar o serviço militar. No MEGAZINE (jornal O Globo) desta terça, uma bela reportagem com depoimentos desses adolescentes - que se autodenominam SHMINISTIM, palavra hebraica que designa os jovens que estão se formando no ensino médio e que devem se alistar - mostra o que passa pela cabeça de milhares de rapazes e moças de 18 anos que se recusam a servir o exército, acreditam no diálogo com os palestinos e não querem participar das incursões militares de Israel. Esses jovens ou já foram ou estão presos, e usam a internet para fazer uma campanha contra a prisão. Entre no site e participe. Você será convidado a enviar uma carta para o Ministro de Defesa de Israel, Ehud Barak, pedindo que esses jovens sejam liberados da prisão. Até agora já foram enviadas 40 mil cartas.
Entre no site http://december18th.org/ . E leia abaixo o belo e-mail que lhe será enviado em seguida pela organização JEWISH VOICE FOR PEACE:

Thank you for taking the time to send a letter to Israel's Minister of Defense, Ehud Barak, about the Shministim. The Shministim are confident that tens of thousands of letters demanding their release will make a real difference.
We've generated 40,000 letters so far! The day of the action in Tel Aviv has happened, and it was featured on all three major news sites in Israel while generating news around the world. It's impossible to convey the full scope of the impact this campaign has had in just a few weeks.
We even sent teams to Israeli consulates in major cities in the United States, though in one case, they refused to even accept our letter!
Far from being the end, December 18th marks the beginning. As long as there are Shministim in jail, we will need your letters of protest.
It has been a wonderful experience for us at Jewish Voice for Peace to work with the Shministim. They are real-life heroes, strengthened in their resolve to stand up against overwhelming pressure and all too aware that their counterparts in the Occupied Territories must endure far worse on a daily basis.
Please continue to tell your friends and family about http://www.December18th.org. You can put the web address in your email signature, post a web badge on your blog, tell your Facebook friends, put a poster on your door and more. Go to http://december18th.org/do-more/ for ideas.
Let the world know that for the sake of both Israelis and Palestinians, Israel's occupation must end, and that a new generation of young people is willing to go to jail to stand up and say NO.
On behalf of the countless people and groups working to free the Shministim,
Cecilie Surasky Jewish Voice for Peace

sábado, 24 de janeiro de 2009

Escândalo Humanitário

Depois de ler as declarações de Barack Obama que justificam a campanha de Israel em Gaza parei pra pensar. Não que eu tivesse alguma ilusão sobre um eventual " não apoio norte-americano" à politica israelense no Oriente Médio. Mas imaginava, tolinha, que o recém-empossado presidente fosse pelo menos criticar o massacre de civis, principalmente crianças.
Obama justificou o ataque israelense como defesa contra os foguetes lançados pelo Hamas. Mas não lembrou de dizer que Israel nunca desocupou Gaza. Retirou suas tropas de dentro de Gaza, mas continua controlando as fronteiras.
Não sou especialista em Oriente Médio, mas foi muito instrutivo ler, no Globo de ontem, uma entrevista com o cientista político Paulo Sérgio Pinheiro. Ele faz parte da Comissão de Direitos Humanos da OEA( Organização dos Estados Americanos) e foi relator especial da ONU sobre a violência contra a infância no mundo.
Paulo Sérgio explica que a população de Gaza está confinada e que depois da Segunda Guerra Mundial, a campanha de Israel em Gaza é um dos maiores escândalos humanitários. " É um desastre humanitário uma democracia atacando uma população indefesa", diz. "Evidentemente o Hamas não tem nenhum direito de ficar atirando esses foguetes sobre a população civil".
Pessimista em relação a uma possível solução para o conflito, o cientista político afirma que nenhuma potência média, como a França ou Reino Unido, pode exercer algum tipo de influência nesse sentido. " A única pessoa na Terra que tem alguma condição de fazer cessar esse horror é o presidente Obama", conclui.
Se Paulo Sérgio Pinheiro estiver certo, o enviado especial de Obama ao Oriente Médio George Mitchell terá um papel fundamental nos próximos meses. Só nos resta torcer. Mas devemos ficar de olho: um número impressionante de crianças palestinas mortas, em menos de um mês, não pode passar para a História apenas como efeito colateral de uma guerra que não termina nunca. Se assim for pode ter certeza: milhares de crianças como essa, da foto, serão os novos homens e mulheres-bomba de amanhã.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Esperança e pessimismo


Quem é você, meu precioso leitor, neste janeiro de 2009 em que Barack Obama toma posse e parece querer chacoalhar a poeira do conservadorismo norteamericano?
Um herdeiro do existencialismo de Sartre? Um apaixonado pelos livros de autoajuda? Um cidadão que respeita os princípios da democracia ocidental? Um indignado com a lenta agonia dos povos africanos? Um seguidor disciplinado das teorias econômicas pós-marxistas? Ou um cético que cumpre estoicamente sua estadia no planeta e não derrama uma lágrima em nome de utopias passadas ou passageiras?

É assim que me encontro, meio lá, meio cá, nesta quinta-feira pós "inaguration" da era Obama. Uma mistura de pisca alerta com sinal verde, vai entender!
Tenho um grupo virtual de antigos amigos do peito. Escrevemos sobre tudo e sobre todos. Entre esses queridos cúmplices, alguns consideram o novo presidente norteamericano um enrolador de primeira. Palavras ao vento e nada mais.
Outro amigo, igualmente querido, jornalista inglês e dono de um humor negro tipicamente britânico, analisou uma parte da equipe de Obama para responder, de alguma forma, ao pessimismo e à falta de esperança de nosso companheiro. Eu ainda não tinha prestado atenção à turma do Meio-Ambiente. Empresto a listinha. Confira:

- Secretário de Energia - Steven Chu, prêmio Nobel, especialista em energia solar.
- Chefe da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (não creio que esse seja a tradução correta para o português, mas trata-se do órgão que decide sobre as posições americanas sobre o aquecimento global) - Jane Lubchenko, " fera" em biologia marinha, poluição de oceanos e pesca predatória.
- Consultor Científico - John Holdren, Harvard, perito em energia, meio-ambiente e proliferação nuclear. Ex- presidente da Associação Americana para o Avanço da Ciência que afirma, há muito tempo, que os EUA têm que fazer muito mais na área de aquecimento global.
"Comparado com o obscurantismo medieval do governo Bush", conclui meu british friend, "será que isso não nos autoriza a pensar (com seriedade) que a política americana na área de aquecimento global vai mudar radicalmente? Você pode continuar como cínico, mas teu filho certamente vai agradecer a mudança. Se não for tarde demais..."
Não quero que seja tarde demais. Sei que os discursos de Obama são escritos por um jovem super talento de 27 anos. Mas também sei que Barack não pode e não vai governar apenas com discursos sedutores.
Suspender julgamentos em Guantánamo e fechar as prisões secretas da CIA........... já é um baita começo, fala a verdade. E como se não bastasse o homem, além do charme pessoal, sabe administrar as palavras e o tom de emissão de cada uma delas. Por enquanto, creio, não são apenas palavras ao vento. E acariciam, como veludo, nossos corações machucados pela brutalidade do dia-a-dia.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A impunidade não para de renascer


Então é assim que ficamos, não é mesmo? O teto de amianto desaba e nove mulheres morrem. Casas vizinhas foram destruídas e interditadas depois do desabamento e moradores da região afirmam que o teto está com problemas há muito tempo.

Segundo reportagem da Folha de São Paulo, o Ministério Público do Estado de São Paulo irá apurar se houve negligência na liberação do edifício da igreja Renascer no bairro do Cambuci, em São Paulo. Essa mesma construção já tinha sido INTERDITADA em 1998 porque o teto e o forro já apresentavam problemas e ofereciam riscos aos frequentadores.
Tive que ler duas vezes: 1998, 1998. Portanto, quase 11 anos atrás.
Há dois anos, o lobby de vereadores ligados às igrejas evangélicas, na Câmara Municipal, conseguiu impedir uma investigação das instalações de locais onde são realizados eventos com grande concentração de pessoas na cidade. Os templos ficaram fora da apuração da CPI do Licenciamento.

Agora, em nome de Jesus, quem vai pagar essa conta? O casal fundador da igreja Renascer, preso nos Estados Unidos - mas transmitindo mensagens via satélite - por estelionato, lavagem de dinheiro e outras cositas más? Ou a turma que enriquece diuturnamente aqui mesmo, em terras tupiniquins?
E alguém já leu algum comunicado oficial do jogador Kaká? Ligou depois do desabamento para saber dos parentes e sua assessoria anunciou que ele faria um pronunciamento oficial sobre o acidente. Ainda não li nada e estou curiosa. Afinal, ele é o grande garoto- propaganda da igreja no Brasil e no mundo.
Até quando os responsáveis pela tragédia - totalmente anunciada, diga-se de passagem, desde 1998 - continuarão a falar em nome de Jesus sem ao menos lavar a boca com sabão antes de iniciar a verborréia?

domingo, 18 de janeiro de 2009

Emoção, má-fé ou realidade?


Eu sei que o Holocausto " foi um genocídio em massa com base em preceitos expressos de superiodade racial, deportando de seus países e assassinando industrialmente, sem conflito, milhões de pessoas em campos de extermínio, com objetivo declarado de varrê-las da face da Terra". Assim escreveu Arnaldo Bloch em sua coluna deste sábado, no Globo. Da mesma forma entendo a indignação de Cora Rónai, que escreveu na semana passada sobre o tema. Sou leitora assídua das colunas assinadas pelos dois no jornal carioca.
Também não confundo palestino com muçulmano e nem judeu com israelense. Mas não posso evitar a associação livre, sem nenhuma má fé. E por que? Porque leio a história recente dos conflitos na Faixa de Gaza. Pedir que controlemos todas as nossas emoções no sentido de não ferir a História, com h maíusculo, é exigir demais do bom senso de qualquer pessoa.

Não apóio o Hamas, mas simpatizo com a causa palestina. Considero insanamente cruel o cotidiano imposto pela política de Israel (e de seus aliados) aos habitantes da Faixa de Gaza. E entendo que a reação aos bombardeios do Hamas é absolutamente desproporcional aos danos causados por esses mísseis. Deploro o bloqueio econômico que persiste naquela área, com o apoio irrestrito dos Estados Unidos, apesar de acordos em contrário.
Há alguns dias reproduzi um trecho de artigo do jornalista inglês John Mc Carthy sobre o massacre de Gaza. Ele afirmava que nosso imaginário coletivo carrega a culpa pelo Holocausto. E que por isso criticamos as posições de Israel, mas não temos coragem de ir muito além disso, talvez por medo de sermos acusados de atacar um povo que já sofreu tanto.... Para Mc Carthy, a tragédia é que, agora, um outro povo está sofrendo por causa da hesitação do mundo em ofender Israel.
Li e reli a opinião do jornalista britânico. Deixei guardada, numa gavetinha do meu cérebro. Doc holocausto.
E pergunto, com todo o respeito aos milhões de vítimas e aos sobreviventes do massacre nazista: é tão estranho que todos os horrores dessa guerra absurda e interminável façam renascer, na imaginação de milhões de seres humanos, o inimaginável e irreproduzível terror dos tempos do Holocausto?
E mesmo que muita gente saiba diferenciar israelense de judeu, não é compreensível que se misture ideologia com religião? Afinal, o estado de Israel não nasceu justamente em 1948, com o mundo ainda em estado de choque em função do extermínio de milhões de judeus?
Aprendemos muito pouco, de lá para cá.

O que dirá Obama? Acho salutar que o já super presidente inicie seu mandato com a obrigação de abrir o jogo sobre a Guerra de Gaza. Muita gente ficará decepcionada, eu também. Mas faz parte.
A foto que ilustra este post mostra jovens oficiais nazistas brincando com as tigelas vazias em Auschwitz. Depois de ler essa informação não é incrível como a nossa percepção da imagem muda completamente?
Yes, we can, but just a little bit!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Hitchock e os pássaros do avião

Houve uma época em que Hitchcock assustou o escurinho do cinema com seus pássaros assassinos. O filme é tão bom que blogueiros de 15 anos dedicam linhas e mais linhas ao tema. Acho sensacional.
Mas e os pássaros de todos os dias, esses que entram na turbina dos aviões e provocam grandes e pequenos desastres?
Ontem, depois de várias horas longe do computador, voltei pra casa e liguei a TV. Não acreditei nas imagens do avião afundando no rio Hudson, em Nova York. Alguns segundos de perplexidade para entender que todos os passageiros tinham sido resgatados e sobrevivido. Que sensação boa! Tentei imaginar o que passou pela cabeça e pelo coração de toda aquela gente nos segundos que antecederam a aterrissagem na água. O medo e depois o alívio. A volta ao planeta de todos os dias. A felicidade de estar simplesmente vivo mas radicalmente modificado. Passar raspando pela morte e sobreviver ao imponderável.

Em épocas de massacres em Gaza faz bem saber que o talento e a experiência de um piloto e sua equipe venceram os pobres pássaros de Nova York. Que filme faria, com um belo argumento desses, o nosso mestre do terror?
Viva a vida e quem ajuda a viver.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A empáfia de alguns guardas municipais



O rapaz, morador de rua, dorme no calçadão da Praça do Lido, em pleno verão carioca. Três guardas municipais acordam o rapaz, dois o seguram e o outro lhe pespega tapas na cara e pontapés no corpo. Declaram a prisão do infeliz.
Mas...........antes que tudo seja concluído como sempre é - nós, pedestres, olhamos com indignação mas não podemos estapear esses mesmos guardas - um outro rapaz, provavelmente um advogado vestindo inacreditáveis terno e gravata às 3 horas da tarde, começa a discutir com o chefe dos guardas. Morador do Lido, diz que o sem teto não pode ser tratado a bofetões e nem ser preso da forma que foi. Que a agressão é gratuita, irregular e sem sentido. O guarda discorda, eles falam alto e uma pequena multidão assiste ao suposto confronto. Ali, na calçada da avenida Atlântica, a indignação é geral. Muita gente tinha presenciado a agressão dos guardas. O mendigo coloca a cabeça pra fora do carro e tenta explicar, mais uma vez, que foi agredido assim, de repente, sem mais nem menos. Covardes, alguém grita. O clima é tenso e os policiais, cacetete na mão, olham para nós com cara feia.
O jovem de terno e gravata quer saber para onde o mendigo será levado. Um outro guarda, recém desembarcado de uma outra kombi lotada de guardas municipais, responde que isso não interessa a ninguém. O suposto advogado se irrita e fala mais alto ainda que todos têm o direito de saber para onde o preso será levado. Mais tensão, mais discussão, dedos em riste. E o guarda municipal declara a prisão do moço de terno e gravata. Ele é empurrado para dentro de uma outra kombi, enquanto a platéia vaia e atira frases exigindo explicações. Todo mundo conversa com todo mundo, mas o guarda-chefe cisma com o papo de um outro engravatado, que diz algo como "esses caras são recalcados porque não passaram no teste pra PM". Humor on the road.

Pasma com a empáfia desses servidores municipais me pergunto até quando a pobreza de espírito reinará entre os fracos e oprimidos. Será que alguém pode organizar um curso de " Humanidades" pra que essa turma aprenda como tratar as pessoas? Ou nem isso vai adiantar, já que bons modos não está escrito no glossário utilizado por eles?
Antes de escrever fui tentar saber se a Guarda Municipal tem poder de polícia. Li e reli, mas confesso que não entendi. Parece que podem prender alguém em flagrante, como qualquer cidadão também pode. Para onde levaram o rapaz de terno e gravata? Torço para que ele seja um advogado, um promotor de justiça. E que enquadre a arrogância e a violência dos guardas municipais. Mas se ele for simplesmente um cidadão indignado, já conta com a minha admiração porque resolveu mudar o seu trajeto de todos os dias para protestar contra o abuso do poder. E acabou sendo preso.
É como observou um outro rapaz: " esse morador de rua até pode ser um assaltante, mas ninguém tem o direito de abordá-lo a tapas e pontapés enquanto ele está dormindo" . A guarda municipal não reagiu, não preveniu. A guarda municipal agrediu o cidadão mais vulnerável da cruel escala social em que vivemos. Já imaginou esse pessoal armado?

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Globo de Ouro




Não assisti à transmissão do Globo de Ouro. Mas gostaria de ter visto Mickey Rourke receber o prêmio de melhor ator, homenagear seus cães e agradece-los pela companhia e "amizade". Não vi "The Wrestler" mas o treiler me impressiona. Que mistérios e labirintos separam o Mickey galã de " O Selvagem da Motocicleta" ou " 9 e 1/2 Semanas de Amor" do Rourke de rosto amassado e costurado em filmes como "Sin City" e esse último, que já lhe rendeu um Urso de Prata em Berlim? Quantas carreiras, quantas doses, quantos socos, quantos sonhos? Como alguém destrói um rosto que exalava sensualidade e o transforma num esconderijo de dor e autodestruição?
Não conheço as respostas. Mas consigo imaginar o que a fama e o dinheiro podem fazer com os corações e mentes mais vulneráveis.E cada vez que me deparo com a imagem atual de Mickey Rourke fico tentando descobrir uma expressão, um gesto, um traço........da harmonia anterior ao desastre. Em vão. Não procuro nesses esgares o jovem galã. Busco algo da forma original. Sempre em vão.
Gostei da premiação e da volta por cima - um processo reiniciado já há algum tempo - do ator que fez suspirar toda uma geração de jovens e coroas. Homens e mulheres. Mas, interessante mesmo foi o cara dizer, no microfone, que " às vezes, quando um homem está sozinho, tudo que lhe sobra é seu cachorro". Pra quem já foi conhecido e criticado pela empáfia típica das celebridades, Mickey deu um baita passo a frente ao agradecer, em público, a divina paciência dos cães. Não deve ter sido fácil.

Outra premiação interessante foi a de melhor ator em série dramática para Gabriel Byrne. A série " Em terapia", da HBO, trouxe Byrne em grande forma. Mostrou também grandes performances de atores que vemos por aí, sem prestar muita atenção. E fez vingar no horário nobre da tv paga diálogos primorosos. Parabéns ao original israelense. E que venha rapidamente mais uma temporada.

domingo, 11 de janeiro de 2009

No, we can´t !


Aproxima-se a posse de Obama. Fuzuê total em Washington. A turma do "Yes, we can" prepara-se para assumir o poder. Nós, aqui dos trópicos, podemos aproveitar esse período de suposta euforia para refletir sobre o " No, we can´t".
Em 2009 não podemos tolerar a hipocrisia, a indiferença e a corrupção. No governo e na população. Em nós mesmos. Vamos aproveitar um ano sem eleições para pensar muito. Assim como quem não quer nada... não custa prestar atenção no que podemos fazer para começar a eliminar essas três palavrinhas diabólicas do nosso dia-a-dia.

Hoje, domingão, numa caminhada aqui pela praia fui testemunha de um lindo espetáculo ao ar livre. Um senhor de mais de 80 anos se apresentava, como faz toda a semana, ali na Pedra do Leme. Sapateou como Fred Astaire, dançou como Michael Jackson e fez soar suas castanholas com esquetes de muita criatividade e humor. A platéia, que no início fingia indiferença e soltava algumas risadinhas de desdém, foi seduzida lentamente pelo artista. Quando passou o boné para as contribuições o clima era outro. Com talento e humor o velhinho arrancou elogios, abraços, aplausos e uma grana acima da média para aparições circenses do gênero. Mas o melhor de tudo foi ver derreter-se em alguns rostos, ainda que por pouco tempo, a máscara da indiferença e da hipocrisia. Venceu o afeto durante alguns minutos deste 11 de janeiro de 2009. Yes, we can!


sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Travei........


As atrocidades cometidas em nome da autodefesa, na Faixa de Gaza, não param de chegar até nós. Motorista da ONU assassinado, trinta civis palestinos mortos num abrigo, fim da ajuda humanitária.... Juro que travei. E ainda por cima, aqui na faixa tupiniquim do Rio de Janeiro, os tiros não esperaram passar a primeira semana de 2009. Os morros da Babilônia e Chapéu Mangueira foram sacudidos por várias saraivadas. Nós, do asfalto, ficamos torcendo para que nada de muito ruim aconteça por lá. O pior são as centenas de trabalhadores que voltam para suas casas, no cair da noite, e são recebidos por esse ambiente de terror que já virou rotina nos morros da cidade.

Por conta dessas guerras adotei o silêncio nos últimos dois dias. E estou muito curiosa pra saber o que fará Obama a partir do dia 20 de janeiro. E a cada dia que passa apenas confirmo: esses israelenses da guerra são de uma cara de pau, de uma arrogância, de uma empáfia e de uma crueldade sem limites. Por coincidência leio, ao mesmo tempo, dois livros sobre o tema: AS BENEVOLENTES, de Jonathan Littel - as memórias nuas e cruas de um ex- oficial nazista - e UMA VONTADE LOUCA DE DANÇAR, de Élie Wiesel, prêmio Nobel da Paz e Fundador Chefe do Conselho Norte-Americano da Memória do Holocausto.

Os dois livros têm a ver com o trabalho individual de cada um para lidar com as perdas, com as culpas e com um vazio imenso que ocupa quase todo o coração.
E o governo de Israel, como lidará com as perdas e danos no futuro próximo?
E a quantidade imensa de crianças palestinas mortas - até hoje 257 - durante esses ataques?
E o ódio, que só faz se alastrar?
Por isso tudo fiquei quietinha.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

ONU, CASA DA MÃE JOANA


Que a violência tenha virado arroz-com-feijão em terras cariocas já é clichê. O Rio de Janeiro convive com bandidos - os legalizados e os chamados ilícitos - há bastante tempo. Bandidos da pior espécie. Testemunhamos crimes hediondos, aplaudimos filmes que retratam a barbárie e sonhamos com um final feliz para o ocupação do Dona Marta. Mas ainda não fomos para as ruas, em massa, denunciar a corrupção e exigir o fim da bandidagem que nos cerca.
Mas isso é Rio de Janeiro, RJ, Brasil. É São Paulo, Recife, Vitória, Fortaleza e Belo Horizonte, pra citar apenas algumas de nossas capitais. Em áreas tupiniquins, as festas de final de ano só não mataram mais gente, nas estradas, do que os ataques israelenses na faixa de Gaza. E estamos em época de lei seca, hein?

Um minuto de silêncio. O nosso trânsito nacional é uma tragédia a lamentar que mata milhares de jovens. Gente que não vive até os 30 anos de idade. Quando faremos alguma coisa para mudar esse cenário?
Agora que já fizemos uma rápida e rasteira resenha dos nossos primeiros dias de 2009 volto ao tema Faixa de Gaza. Então deixa eu entender melhor: os israelenses atacam duas escolas da ONU em Gaza, matam 40 civis só nesta terça e............necas de pitibiribas? A ONU fica lá, bonitinha, esperando as próximas instruções do governo Bush? Obama está preocupado? Oh, dear!
Parte do mundo se revolta, ainda bem, mas não o suficiente pra fazer com que esses megalôs interrompam a carnificina.
A bandidagem aprende rápido, né mesmo? Com exemplo da ONU fica difícil exigir algum choque de ordem.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Invasão de Gaza: a culpa de todos nós


Até quando vamos ter que assistir aos ataques em massa de Israel à faixa de Gaza? O fato do Hamas lançar foguetes no sul de Israel justifica a retaliação desproporcional, que já matou mais de 400 palestinos?

Faz muito tempo que o Holocausto não serve mais como justificativa - pelo menos para mim - para todos os crimes cometidos pelo governo israelense em nome da ameaça palestina. E hoje, ao ler o artigo do jornalista inglês John McCarthy, no Globo, essa certeza ficou ainda mais cristalina. McCarthy, para quem não sabe, foi o jornalista sequestrado pela Jihad Islâmica no Líbano, em 1986. Ficou cinco anos em poder dessa turma da pesada. Quando foi libertado, seu sofrimento foi relatado em filmes e livros.
Tudo isso pra contar pra vocês, que não leram o Globo, que McCarthy escreveu o seguinte sobre o ataque de Israel: " ....Embora a resposta desproporcional já tenha provocado diversos pedidos de moderação por parte de vários organismos internacionais, o governo israelense continua a se retratar como uma vítima passiva sob ameaça. Ehud Barak (ministro da Defesa) descreveu Israel como "uma vila no meio da selva" e um local civilizado cercado de hordas de selvagens"".
Preconceito, discriminação, racismo? Já vimos esse filme.
Gaza se encontra mesmo à beira de um desastre humanitário, como relata McCarthy. Sem luz, sem água, sem remédios, sem combustível e sem alimentos. Mas Israel ignora inúmeras resoluções da ONU, sempre com o apoio dos Estados Unidos.
A pergunta-chave, no artigo do jornalista britânico, é a seguinte: por que não há uma pressão real para que as resoluções da ONU sejam cumpridas por Israel? Na opinião dele, em parte porque nosso imaginário coletivo carrega a culpa pelo Holocausto. Criticamos as posições de Israel mas não temos coragem de ir muito além disso, talvez por medo de sermos acusados de atacar um povo que já sofreu tanto em sua longa história. "A tragédia", conclui Mc Carthy, " é que, agora, um outro povo está sofrendo por causa da hesitação do mundo em ofender Israel.
Cabe à imprensa internacional, em sua maioria pró-Israel, desempenhar de verdade o seu papel fiscalizador e cobrar de Israel - e dos Estados Unidos - o fim do bloqueio e dos ataques desproporcionais que matam com bombas, de fome e de sede centenas de civis, entre eles inúmeras crianças.
A culpa pelo Holocausto é de todos nós. Mas assistindo a essa guerra infinita, no Oriente Médio, e às posições de Israel, tenho me perguntado muitas vezes se o Holocausto foi mesmo o limite da crueldade humana na chamada era moderna.