sábado, 24 de janeiro de 2009

Escândalo Humanitário

Depois de ler as declarações de Barack Obama que justificam a campanha de Israel em Gaza parei pra pensar. Não que eu tivesse alguma ilusão sobre um eventual " não apoio norte-americano" à politica israelense no Oriente Médio. Mas imaginava, tolinha, que o recém-empossado presidente fosse pelo menos criticar o massacre de civis, principalmente crianças.
Obama justificou o ataque israelense como defesa contra os foguetes lançados pelo Hamas. Mas não lembrou de dizer que Israel nunca desocupou Gaza. Retirou suas tropas de dentro de Gaza, mas continua controlando as fronteiras.
Não sou especialista em Oriente Médio, mas foi muito instrutivo ler, no Globo de ontem, uma entrevista com o cientista político Paulo Sérgio Pinheiro. Ele faz parte da Comissão de Direitos Humanos da OEA( Organização dos Estados Americanos) e foi relator especial da ONU sobre a violência contra a infância no mundo.
Paulo Sérgio explica que a população de Gaza está confinada e que depois da Segunda Guerra Mundial, a campanha de Israel em Gaza é um dos maiores escândalos humanitários. " É um desastre humanitário uma democracia atacando uma população indefesa", diz. "Evidentemente o Hamas não tem nenhum direito de ficar atirando esses foguetes sobre a população civil".
Pessimista em relação a uma possível solução para o conflito, o cientista político afirma que nenhuma potência média, como a França ou Reino Unido, pode exercer algum tipo de influência nesse sentido. " A única pessoa na Terra que tem alguma condição de fazer cessar esse horror é o presidente Obama", conclui.
Se Paulo Sérgio Pinheiro estiver certo, o enviado especial de Obama ao Oriente Médio George Mitchell terá um papel fundamental nos próximos meses. Só nos resta torcer. Mas devemos ficar de olho: um número impressionante de crianças palestinas mortas, em menos de um mês, não pode passar para a História apenas como efeito colateral de uma guerra que não termina nunca. Se assim for pode ter certeza: milhares de crianças como essa, da foto, serão os novos homens e mulheres-bomba de amanhã.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Esperança e pessimismo


Quem é você, meu precioso leitor, neste janeiro de 2009 em que Barack Obama toma posse e parece querer chacoalhar a poeira do conservadorismo norteamericano?
Um herdeiro do existencialismo de Sartre? Um apaixonado pelos livros de autoajuda? Um cidadão que respeita os princípios da democracia ocidental? Um indignado com a lenta agonia dos povos africanos? Um seguidor disciplinado das teorias econômicas pós-marxistas? Ou um cético que cumpre estoicamente sua estadia no planeta e não derrama uma lágrima em nome de utopias passadas ou passageiras?

É assim que me encontro, meio lá, meio cá, nesta quinta-feira pós "inaguration" da era Obama. Uma mistura de pisca alerta com sinal verde, vai entender!
Tenho um grupo virtual de antigos amigos do peito. Escrevemos sobre tudo e sobre todos. Entre esses queridos cúmplices, alguns consideram o novo presidente norteamericano um enrolador de primeira. Palavras ao vento e nada mais.
Outro amigo, igualmente querido, jornalista inglês e dono de um humor negro tipicamente britânico, analisou uma parte da equipe de Obama para responder, de alguma forma, ao pessimismo e à falta de esperança de nosso companheiro. Eu ainda não tinha prestado atenção à turma do Meio-Ambiente. Empresto a listinha. Confira:

- Secretário de Energia - Steven Chu, prêmio Nobel, especialista em energia solar.
- Chefe da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (não creio que esse seja a tradução correta para o português, mas trata-se do órgão que decide sobre as posições americanas sobre o aquecimento global) - Jane Lubchenko, " fera" em biologia marinha, poluição de oceanos e pesca predatória.
- Consultor Científico - John Holdren, Harvard, perito em energia, meio-ambiente e proliferação nuclear. Ex- presidente da Associação Americana para o Avanço da Ciência que afirma, há muito tempo, que os EUA têm que fazer muito mais na área de aquecimento global.
"Comparado com o obscurantismo medieval do governo Bush", conclui meu british friend, "será que isso não nos autoriza a pensar (com seriedade) que a política americana na área de aquecimento global vai mudar radicalmente? Você pode continuar como cínico, mas teu filho certamente vai agradecer a mudança. Se não for tarde demais..."
Não quero que seja tarde demais. Sei que os discursos de Obama são escritos por um jovem super talento de 27 anos. Mas também sei que Barack não pode e não vai governar apenas com discursos sedutores.
Suspender julgamentos em Guantánamo e fechar as prisões secretas da CIA........... já é um baita começo, fala a verdade. E como se não bastasse o homem, além do charme pessoal, sabe administrar as palavras e o tom de emissão de cada uma delas. Por enquanto, creio, não são apenas palavras ao vento. E acariciam, como veludo, nossos corações machucados pela brutalidade do dia-a-dia.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A impunidade não para de renascer


Então é assim que ficamos, não é mesmo? O teto de amianto desaba e nove mulheres morrem. Casas vizinhas foram destruídas e interditadas depois do desabamento e moradores da região afirmam que o teto está com problemas há muito tempo.

Segundo reportagem da Folha de São Paulo, o Ministério Público do Estado de São Paulo irá apurar se houve negligência na liberação do edifício da igreja Renascer no bairro do Cambuci, em São Paulo. Essa mesma construção já tinha sido INTERDITADA em 1998 porque o teto e o forro já apresentavam problemas e ofereciam riscos aos frequentadores.
Tive que ler duas vezes: 1998, 1998. Portanto, quase 11 anos atrás.
Há dois anos, o lobby de vereadores ligados às igrejas evangélicas, na Câmara Municipal, conseguiu impedir uma investigação das instalações de locais onde são realizados eventos com grande concentração de pessoas na cidade. Os templos ficaram fora da apuração da CPI do Licenciamento.

Agora, em nome de Jesus, quem vai pagar essa conta? O casal fundador da igreja Renascer, preso nos Estados Unidos - mas transmitindo mensagens via satélite - por estelionato, lavagem de dinheiro e outras cositas más? Ou a turma que enriquece diuturnamente aqui mesmo, em terras tupiniquins?
E alguém já leu algum comunicado oficial do jogador Kaká? Ligou depois do desabamento para saber dos parentes e sua assessoria anunciou que ele faria um pronunciamento oficial sobre o acidente. Ainda não li nada e estou curiosa. Afinal, ele é o grande garoto- propaganda da igreja no Brasil e no mundo.
Até quando os responsáveis pela tragédia - totalmente anunciada, diga-se de passagem, desde 1998 - continuarão a falar em nome de Jesus sem ao menos lavar a boca com sabão antes de iniciar a verborréia?

domingo, 18 de janeiro de 2009

Emoção, má-fé ou realidade?


Eu sei que o Holocausto " foi um genocídio em massa com base em preceitos expressos de superiodade racial, deportando de seus países e assassinando industrialmente, sem conflito, milhões de pessoas em campos de extermínio, com objetivo declarado de varrê-las da face da Terra". Assim escreveu Arnaldo Bloch em sua coluna deste sábado, no Globo. Da mesma forma entendo a indignação de Cora Rónai, que escreveu na semana passada sobre o tema. Sou leitora assídua das colunas assinadas pelos dois no jornal carioca.
Também não confundo palestino com muçulmano e nem judeu com israelense. Mas não posso evitar a associação livre, sem nenhuma má fé. E por que? Porque leio a história recente dos conflitos na Faixa de Gaza. Pedir que controlemos todas as nossas emoções no sentido de não ferir a História, com h maíusculo, é exigir demais do bom senso de qualquer pessoa.

Não apóio o Hamas, mas simpatizo com a causa palestina. Considero insanamente cruel o cotidiano imposto pela política de Israel (e de seus aliados) aos habitantes da Faixa de Gaza. E entendo que a reação aos bombardeios do Hamas é absolutamente desproporcional aos danos causados por esses mísseis. Deploro o bloqueio econômico que persiste naquela área, com o apoio irrestrito dos Estados Unidos, apesar de acordos em contrário.
Há alguns dias reproduzi um trecho de artigo do jornalista inglês John Mc Carthy sobre o massacre de Gaza. Ele afirmava que nosso imaginário coletivo carrega a culpa pelo Holocausto. E que por isso criticamos as posições de Israel, mas não temos coragem de ir muito além disso, talvez por medo de sermos acusados de atacar um povo que já sofreu tanto.... Para Mc Carthy, a tragédia é que, agora, um outro povo está sofrendo por causa da hesitação do mundo em ofender Israel.
Li e reli a opinião do jornalista britânico. Deixei guardada, numa gavetinha do meu cérebro. Doc holocausto.
E pergunto, com todo o respeito aos milhões de vítimas e aos sobreviventes do massacre nazista: é tão estranho que todos os horrores dessa guerra absurda e interminável façam renascer, na imaginação de milhões de seres humanos, o inimaginável e irreproduzível terror dos tempos do Holocausto?
E mesmo que muita gente saiba diferenciar israelense de judeu, não é compreensível que se misture ideologia com religião? Afinal, o estado de Israel não nasceu justamente em 1948, com o mundo ainda em estado de choque em função do extermínio de milhões de judeus?
Aprendemos muito pouco, de lá para cá.

O que dirá Obama? Acho salutar que o já super presidente inicie seu mandato com a obrigação de abrir o jogo sobre a Guerra de Gaza. Muita gente ficará decepcionada, eu também. Mas faz parte.
A foto que ilustra este post mostra jovens oficiais nazistas brincando com as tigelas vazias em Auschwitz. Depois de ler essa informação não é incrível como a nossa percepção da imagem muda completamente?
Yes, we can, but just a little bit!