É refrescante. É saudável. Sinal de que a cidade resiste à violência dos que querem tomar posse de sua identidade. Uma cidade que gosta de abrir as portas e curtir o quintal, o asfalto, a areia.
Os blocos estão em todos os bairros. Enormes ou diminutos, ao gosto do freguês. Um sobrinho me conta que ontem esteve na Urca. O bloco saudava Roberto Carlos com refrões e versos de apenas três músicas. Os foliões foram até o prédio do Rei, insistiram, capricharam na afinação e lá veio RC acenar para uma novíssima geração jovem guarda.
O Rio não estava preparado para os mais de 400 blocos (160 registrados oficialmente) que invadiram todas as regiões da cidade. O trânsito não suportou. Até para quem se refugia nos cinemas, como eu, não foi fácil circular. Principalmente depois das 6 da tarde, quando os táxis passavam lotados ou exorbitavam nos preços: 50 reais daLapa ao Leme, por exemplo, e assim foi. Era pagar ou largar.
No sábado, dia do bloco do Barbas, em Botafogo, procurei pela polícia, mas não encontrei. Depois, caminhando na orla de Copacabana, prossegui com a busca. Nada de PMs e apenas dois guardas municipais. É bem verdade que os companheiros, muitas vezes, conseguem mais atrapalhar do que ajudar. Mas não é possível e nem imaginável subestimar a capacidade de ação do crime organizado e da galera nem tão organizada assim.
O que acho admirável é ver tanta gente na praia, nas ruas e nos bailes. A alegria venceu o medo. E isso apesar dos lamentáveis assaltos a turistas em albergues e excursões pela cidade. Muitos foram embora, chocados com a violência escancarada. Atualmente, assaltante que se preze já chega munido de fuzil e granada. Imagine um canadense diante de um cenário desse?
Mas.............. o Rio de Janeiro resiste, e sem saudosismo. Como escreveu Ruy Castro na Folha de São Paulo, " o Rio custou, mas redespertou para o Carnaval. E para um Carnaval que também parecia defunto: o dos bailes à fantasia, com orquestras de metais, em clubes e gafieiras; dos shows de ruas (trazendo de volta baluartes como Roberto Silva, JOão Roberto Kelly, Ademilde Fonsexa) e até o de deliciosos ranchos, estilo 1910, como o Flor do Sereno, em Copacabana. Não é uma " nostalgia" ".
É.... não tem saudosismo e nem nostalgia. Tem uma injeção de juventude, ar puríssimo que faz circular uma energia que contagia até os mais céticos.
Viva o alto astral!