Ontem,no Globo, o surpreendente escritor português Gonçalo M. Tavares, que aos 40 anos já publicou 29 livros, deu uma bela entrevista e abordou a questão da morte e do tempo. Compartilho.
Sêneca ensina que temos que agir sabendo que vamos morrer. Quando se está consciente da morte, distingue-se o essencial do acessório. A consciência da morte muda o modo como utilizamos o tempo. Muda a forma como vivemos. " Cartas a Lucílio" são cartas de Sêneca a um aprendiz. A primeira carta fala precisamente do tempo. O aprendiz reclama da falta de tempo. Sêneca diz a ele: " ao invés de se queixar da falta de tempo,vais ver o que é essencial e o que é acessório. E no dia seguinte fazes somente o que é essencial. E assim verás: tens tempo".
Escrever sobre cinema e sobre a vida que corre solta mantém meus olhos abertos enquanto o futuro invade, maroto, a minha praia.
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sexta-feira, 26 de novembro de 2010
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
PARTE DA VIDA
A morte não é o oposto da vida, mas uma de suas partes constituintes.
Expressa em palavras, torna-se um lugar-comum, mas naquele momento eu não sentia que fossem palavras, e sim uma massa de ar dentro de mim. A morte existe também no interior dos pesos de papéis e das quatro bolas vermelhas e brancas enfileiradas sobre a mesa de bilhar. E nós continuamos a viver exalando-a para dentro de nossos pulmões como uma fina poeira.
(Haruki Murakami - "Norwegian Wood" )
Expressa em palavras, torna-se um lugar-comum, mas naquele momento eu não sentia que fossem palavras, e sim uma massa de ar dentro de mim. A morte existe também no interior dos pesos de papéis e das quatro bolas vermelhas e brancas enfileiradas sobre a mesa de bilhar. E nós continuamos a viver exalando-a para dentro de nossos pulmões como uma fina poeira.
(Haruki Murakami - "Norwegian Wood" )
quinta-feira, 21 de maio de 2009
As sombras da noite
No trajeto de sempre, o final da noite clareia sombras, expõe personagens e revela quem batalha pela sobrevivência até o raiar do sol.
No caminho de todos os dias, esses fantasmas são perceptíveis por conta da lantejoula, do glitter, da pouca roupa e das carnes expostas. Homens, mulheres, travestis.... uma trupe que encara o amanhecer como o encerramento de mais um dia de trabalho.
No calor ou no frio da alvorada, as damas e príncipes da noite se misturam à paisagem radiante de Copacabana, em plena avenida Atlântica. O tititi e a esperança de um último cliente lentamente se diluem no corre-corre matinal. Saem as mulheres de vida nada fácil, entram os praticantes do cooper diário.
Em câmera lenta, a mulher que perambula por Copacabana usa a mesma canga enquanto cata lixo nas latas da prefeitura. Os sem-teto ainda dormem o sono inocente e sonham com a cama que nunca terão. O bebê ressona mergulhado no peito da mãe. E a mãe, recém-desperta, prepara-se para o ritual cotidiano da esmola, uma rotina que não planeja interromper.
Nos minutos que precedem o amanhecer carioca, as sombras da noite reinam com teimosia no cenário da cidade maravilhosa. Em poucas horas, quando o sol estiver a pino, desaparecerão sob a bruma pesada da realidade....Retornarão gloriosas no entardecer, apesar de sombras.
No caminho de todos os dias, esses fantasmas são perceptíveis por conta da lantejoula, do glitter, da pouca roupa e das carnes expostas. Homens, mulheres, travestis.... uma trupe que encara o amanhecer como o encerramento de mais um dia de trabalho.
No calor ou no frio da alvorada, as damas e príncipes da noite se misturam à paisagem radiante de Copacabana, em plena avenida Atlântica. O tititi e a esperança de um último cliente lentamente se diluem no corre-corre matinal. Saem as mulheres de vida nada fácil, entram os praticantes do cooper diário.
Em câmera lenta, a mulher que perambula por Copacabana usa a mesma canga enquanto cata lixo nas latas da prefeitura. Os sem-teto ainda dormem o sono inocente e sonham com a cama que nunca terão. O bebê ressona mergulhado no peito da mãe. E a mãe, recém-desperta, prepara-se para o ritual cotidiano da esmola, uma rotina que não planeja interromper.
Nos minutos que precedem o amanhecer carioca, as sombras da noite reinam com teimosia no cenário da cidade maravilhosa. Em poucas horas, quando o sol estiver a pino, desaparecerão sob a bruma pesada da realidade....Retornarão gloriosas no entardecer, apesar de sombras.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Doutora Miserável
O final de semana chuvoso foi em João Pessoa.
Nas ruas, a pobreza de sempre. A ostentação, no Nordeste, é ainda mais agressiva do que por aqui, no sudeste maravilha.
Eu caminhava devagar, desligada, quando ouvi alguém me chamar: doutora, doutora, me dá uma ajuda? Não prestei atenção. Olhei de lado, vi o menininho, mas continuei a caminhar.
E de novo a vozinha, agora bem mais alta: doutora miserável! doutora miserável!
No Nordeste somos doutores e doutoras aos olhos de quem tem menos.
Fiquei fula da vida, olhei para o garoto. Junto com ele estavam um velhinho, uma carroça e um burro que comia cascas de melancia.
O velhinho permanecia em silêncio. No rosto, a expressão dos sábios que povoam os livros de autoajuda.
Olhou surpreso quando berrei de volta para o menino: que miserável que nada, apenas estou com pressa.... E depois voltou para o burro e para as melancias.
Fui até onde tinha que ir, fiz compras e tomei um café. Incomodada com minha reação e com o miserável que não parava de ecoar....
Na volta, o molequinho continuava lá. Agora deitado sobre a calçada, olhos fechados. O velhinho ajeitava algumas coisas na carroça.
Tirei um dinheiro da bolsa e me aproximei do velho. Ia deixar de ser miserável sem acordar o menino.
Mas ele acordou. E me olhou. Fui até ele e dei o dinheiro. E ainda disse: não sou tão miserável assim....
Patético?
O garoto levantou e se pendurou em mim. Beijou meu rosto e meu pescoço enquanto pedia desculpas. Desculpa, doutora. Desculpa, doutora.....
Abracei ele apertado.
Nas ruas, a pobreza de sempre. A ostentação, no Nordeste, é ainda mais agressiva do que por aqui, no sudeste maravilha.
Eu caminhava devagar, desligada, quando ouvi alguém me chamar: doutora, doutora, me dá uma ajuda? Não prestei atenção. Olhei de lado, vi o menininho, mas continuei a caminhar.
E de novo a vozinha, agora bem mais alta: doutora miserável! doutora miserável!
No Nordeste somos doutores e doutoras aos olhos de quem tem menos.
Fiquei fula da vida, olhei para o garoto. Junto com ele estavam um velhinho, uma carroça e um burro que comia cascas de melancia.
O velhinho permanecia em silêncio. No rosto, a expressão dos sábios que povoam os livros de autoajuda.
Olhou surpreso quando berrei de volta para o menino: que miserável que nada, apenas estou com pressa.... E depois voltou para o burro e para as melancias.
Fui até onde tinha que ir, fiz compras e tomei um café. Incomodada com minha reação e com o miserável que não parava de ecoar....
Na volta, o molequinho continuava lá. Agora deitado sobre a calçada, olhos fechados. O velhinho ajeitava algumas coisas na carroça.
Tirei um dinheiro da bolsa e me aproximei do velho. Ia deixar de ser miserável sem acordar o menino.
Mas ele acordou. E me olhou. Fui até ele e dei o dinheiro. E ainda disse: não sou tão miserável assim....
Patético?
O garoto levantou e se pendurou em mim. Beijou meu rosto e meu pescoço enquanto pedia desculpas. Desculpa, doutora. Desculpa, doutora.....
Abracei ele apertado.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
UMA AUSÊNCIA QUE ME INCOMODA
Minha proposta era tentar manter uma assuidade razoável neste blog. Afinal, a gente escreve para compartilhar o que vivemos e sentimos.
De um mês pra cá minha vida profissional deu uma guinada. Comecei a trabalhar longe de casa - bem longe. Entre a hora que acordo (4h30) e minha volta para casa (20h00) sobra pouco tempo para relaxar e dormir.
O novo ritmo é alucinante, apesar do desafio. É novidade. E coisas novas são sempre boas.
Mas são tantas coisa pra resolver que acabei deixando de lado o meu blog querido. Como disse a Cristina Montenegro, este espaço está " bem abandonadinho"...... Está mesmo.
Fico cheio de inveja quando leio - rapidamente - os blogs que tento visitar e acompanhar. Tá todo mundo escrevendo. Meu amigo Ricardo Soares sempre de vento em popa. O blog do Bourdoukan bombando, com o perdão da metáfora.... E ainda tem novos amigos que foram aparecendo desde dezembro, quando decidi começar a escrever ..... Groo, Urtigão, Balaio Porreta e muitos outros...
Pois então: parei tudo aqui no trabalho para mandar um beijo e um abraço. E pedir a vocês que não fujam e nem sumam. E que tenham paciência. Este é só um intervalo em que reorganizo minha vida e reequilibro energias e sensações.
um beijo para todos.
De um mês pra cá minha vida profissional deu uma guinada. Comecei a trabalhar longe de casa - bem longe. Entre a hora que acordo (4h30) e minha volta para casa (20h00) sobra pouco tempo para relaxar e dormir.
O novo ritmo é alucinante, apesar do desafio. É novidade. E coisas novas são sempre boas.
Mas são tantas coisa pra resolver que acabei deixando de lado o meu blog querido. Como disse a Cristina Montenegro, este espaço está " bem abandonadinho"...... Está mesmo.
Fico cheio de inveja quando leio - rapidamente - os blogs que tento visitar e acompanhar. Tá todo mundo escrevendo. Meu amigo Ricardo Soares sempre de vento em popa. O blog do Bourdoukan bombando, com o perdão da metáfora.... E ainda tem novos amigos que foram aparecendo desde dezembro, quando decidi começar a escrever ..... Groo, Urtigão, Balaio Porreta e muitos outros...
Pois então: parei tudo aqui no trabalho para mandar um beijo e um abraço. E pedir a vocês que não fujam e nem sumam. E que tenham paciência. Este é só um intervalo em que reorganizo minha vida e reequilibro energias e sensações.
um beijo para todos.
domingo, 29 de março de 2009
Aconteceu comigo....
Simplesmente ocorreu. Aconteceu. Concretizou-se.
O estranho e único momento em que somos fisgados por um lance de dados. A coincidência extrema. Talvez o destino que bata na porta ou uma conspiração de anjos a seu favor. O telefonema.
Os dias passavam mornos por fora, conturbados e revoltos no interior.
Calma aparente, amargura roendo um pedaço de alma.
As questões pessoais eram as mais comuns: valorização, autoestima, envelhecer com dignidade. A eterna espera por uma ligação que aprove ou não o projeto que vai mudar a sua vida para melhor.
Crise ou azar, a verdade é que os planos são derrubados um a um. E você se esforça para não sucumbir. Quase acredita na força do pensamento positivo. A energia existe, o teatro em torno dela é que incomoda.
E então você está atenta, apesar de um tanto quanto conformada quando compra 5 livros para não perder o hábito. E o telefone toca.
Não é quem você espera. Não é o que você espera. É uma voz conhecida, embora nada íntima. Um tom de convocação para um próximo passo inesperado. Você topa. E em 24 horas sua rotina vira de ponta cabeça.
Back in business. Você não desistiu.
Foi assim mesmo. Por conta de um único telefonema, às 10 da noite, quando você tinha certeza que nada interromperia a leitura do livro que acabou de comprar.
O acaso e os anjos são geniais.
O estranho e único momento em que somos fisgados por um lance de dados. A coincidência extrema. Talvez o destino que bata na porta ou uma conspiração de anjos a seu favor. O telefonema.
Os dias passavam mornos por fora, conturbados e revoltos no interior.
Calma aparente, amargura roendo um pedaço de alma.
As questões pessoais eram as mais comuns: valorização, autoestima, envelhecer com dignidade. A eterna espera por uma ligação que aprove ou não o projeto que vai mudar a sua vida para melhor.
Crise ou azar, a verdade é que os planos são derrubados um a um. E você se esforça para não sucumbir. Quase acredita na força do pensamento positivo. A energia existe, o teatro em torno dela é que incomoda.
E então você está atenta, apesar de um tanto quanto conformada quando compra 5 livros para não perder o hábito. E o telefone toca.
Não é quem você espera. Não é o que você espera. É uma voz conhecida, embora nada íntima. Um tom de convocação para um próximo passo inesperado. Você topa. E em 24 horas sua rotina vira de ponta cabeça.
Back in business. Você não desistiu.
Foi assim mesmo. Por conta de um único telefonema, às 10 da noite, quando você tinha certeza que nada interromperia a leitura do livro que acabou de comprar.
O acaso e os anjos são geniais.
sábado, 14 de março de 2009
Depressão, ciúme, loucura?
Que estranhos caminhos percorre a mente de um homem que dirige um carro, agride a mulher com o extintor de incêndio na frente da filha de 5 anos , abre a porta e empurra a mãe da menina com o veículo em alta velocidade, vai até o aeroporto local, invade um avião, decola - sem saber pilotar - leva a filha para uma aventura fatal e se joga ou cai em cima de um estacionamento de shopping na cidade de Goiânia?
Que demônios habitam esse ser?
A família conta que ele estava deprimido. OK. Depressão aguda é mesmo um demônio à espreita. Mas será a depressão a razão de todo esse drama? Um drama que matou um adulto enlouquecido e, PRINCIPALMENTE, uma criança de 5 anos? Uma menina que vivenciou, num curtíssimo espaço de tempo, as emoções mais desconcertantes e avassaladoras que um ser humano pode vivenciar? Uma garotinha que deveria se sentir protegida e amada na presença dos pais e que antes de morrer ainda é obrigada a testemunhar a crueldade e a insensatez que invadem a alma de um adulto que ela aprendeu a chamar de pai?
E a mãe, em coma, que ainda vai ter que acordar para viver a PERDA absoluta, com letras maiúsculas?
Que universo é esse em que crianças de 9 anos engravidam de padrastos, em que a igreja católica condena abortos mas não estupradores, em que um adolescente alemão assassina 16 colegas e um pai embarca com a filha para o céu e despenca no inferno?
Pergunto: será que a física quântica ou alguma outra lei fascinante e misteriosa dos buracos negros explicam a razão de ser de tudo isso?
Peço ajuda aos universitários.
Que demônios habitam esse ser?
A família conta que ele estava deprimido. OK. Depressão aguda é mesmo um demônio à espreita. Mas será a depressão a razão de todo esse drama? Um drama que matou um adulto enlouquecido e, PRINCIPALMENTE, uma criança de 5 anos? Uma menina que vivenciou, num curtíssimo espaço de tempo, as emoções mais desconcertantes e avassaladoras que um ser humano pode vivenciar? Uma garotinha que deveria se sentir protegida e amada na presença dos pais e que antes de morrer ainda é obrigada a testemunhar a crueldade e a insensatez que invadem a alma de um adulto que ela aprendeu a chamar de pai?
E a mãe, em coma, que ainda vai ter que acordar para viver a PERDA absoluta, com letras maiúsculas?
Que universo é esse em que crianças de 9 anos engravidam de padrastos, em que a igreja católica condena abortos mas não estupradores, em que um adolescente alemão assassina 16 colegas e um pai embarca com a filha para o céu e despenca no inferno?
Pergunto: será que a física quântica ou alguma outra lei fascinante e misteriosa dos buracos negros explicam a razão de ser de tudo isso?
Peço ajuda aos universitários.
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
Claudinho Favieri
Na juventude fomos muito próximos. Viagem para Ubatuba, porres no Bartolo da Vila Madalena e noitadas depois do trabalho na Rádio Globo. Éramos um time, palavra que virou clichê no pós-pós-liberalismo. Vivemos poucas e boas. Ultrapassamos alguns limites. Sofremos .
Claudinho sempre escreveu bem. Adorava ser repórter.
Depois nos distanciamos. Cidades diferentes, interesses distintos, carinho sempre presente. E nos reencontramos em Cunha. O afeto era o mesmo, apenas mais maduro.
Na pousada Vale das Cachoeiras Claudinho viveu os últimos 13 anos de sua vida. Ricardo Soares era hóspede frequente. Divulgamos a hospitalidade e a beleza de Cunha entre vários amigos comuns. A lotação era plena neste Carnaval.
Claudinho morreu na véspera da folia. E com ele um jeito especial de encarar o jornalismo. Uma batalha pela apuração e pela intimidade com a notícia que faz falta neste início de século 21.
Em nossas trocas de e-mail ele me chamava de "minha flor de laranjeira".
Pois foi-se embora uma das pessoas mais floridas que conheci.
Claudinho sempre escreveu bem. Adorava ser repórter.
Depois nos distanciamos. Cidades diferentes, interesses distintos, carinho sempre presente. E nos reencontramos em Cunha. O afeto era o mesmo, apenas mais maduro.
Na pousada Vale das Cachoeiras Claudinho viveu os últimos 13 anos de sua vida. Ricardo Soares era hóspede frequente. Divulgamos a hospitalidade e a beleza de Cunha entre vários amigos comuns. A lotação era plena neste Carnaval.
Claudinho morreu na véspera da folia. E com ele um jeito especial de encarar o jornalismo. Uma batalha pela apuração e pela intimidade com a notícia que faz falta neste início de século 21.
Em nossas trocas de e-mail ele me chamava de "minha flor de laranjeira".
Pois foi-se embora uma das pessoas mais floridas que conheci.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
O preconceito e a dúvida


Para quem não acredita e entrega o preconceito às mãos do Divino todo misericordioso, aqui vai: 66% dos 2.014 brasileiros ouvidos em 150 cidades acreditam piamente que a homossexualidade é um pecado contra as leis de Deus. Outros optaram pela homossexualidade como doença. Mas, atenção, uma doença que precisa ser tratada.
O governo federal encomendou a pesquisa e, ainda bem que sensibilizado, vai lançar, em maio, o Plano Nacional de Promoção da Cidadania LGBT. Cogita-se também o planejamento de novas políticas diante do espectro sombrio da...................INTOLERÂNCIA!!!! E engula essa: 70% dos entrevistados consideram que o governo não deve se envolver na situação!
Ora pois, como assim? Faz muito bem o nosso governo em se envolver e em combater a falta de educação e de respeito pelas opções do OUTRO. A outra pessoa que você vê todos os dias na rua. Aquele ser humano que caminha ao seu lado mas, certamente, não pensa e não age como você ou como eu.
É isso mesmo, tupiniquins, somos intolerantes e preconceituosos. Ou alguém acreditava que aqui nos trópicos tudo seguia em harmonia no que diz respeito à opção sexual de cada brasileiro? Necas de pitibiribas. A INTOLERÂNCIA é a dama de companhia deste século 21. Olhe para qualquer pontinho do mapa mundi e encontrará um exemplo cabeludo.
Dito isso, recomendo um filme que está em cartaz e que tem tudo a ver com a INTOLERÂNCIA. É "DÚVIDA" (Doubt), com Meryl Strep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams e Viola Davis. Grandes interpretações para mostrar o perigo da intolerância diante da dúvida. Aquele momento em que você acredita ter certeza de que a sua opinião é a correta, apesar de evidências em contrário. O instante em que você decreta o fim da dignidade do outro com o seu poder de acusar, mesmo na dúvida. O filme é americano. Se fosse europeu, tenho certeza que seria muito mais indigesto. Mas é bem feito, bem dirigido e lindamente executado por atores brilhantes em seus respectivos papéis. Dá até pra perdoar o excesso de melodrama em algumas cenas.
O importante é entender que a intolerância e o arrependimento tardio podem corroer o coração até o final de todos os nossos dias. A certa altura do filme, um personagem central afirma algo como: " a virtude - o amor e compaixão - é a grande arma contra a maldade da alma humana".
Em que momento da infância a intolerância começa a ser inoculada em nossas crianças?
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
Hitchock e os pássaros do avião

Mas e os pássaros de todos os dias, esses que entram na turbina dos aviões e provocam grandes e pequenos desastres?
Ontem, depois de várias horas longe do computador, voltei pra casa e liguei a TV. Não acreditei nas imagens do avião afundando no rio Hudson, em Nova York. Alguns segundos de perplexidade para entender que todos os passageiros tinham sido resgatados e sobrevivido. Que sensação boa! Tentei imaginar o que passou pela cabeça e pelo coração de toda aquela gente nos segundos que antecederam a aterrissagem na água. O medo e depois o alívio. A volta ao planeta de todos os dias. A felicidade de estar simplesmente vivo mas radicalmente modificado. Passar raspando pela morte e sobreviver ao imponderável.
Em épocas de massacres em Gaza faz bem saber que o talento e a experiência de um piloto e sua equipe venceram os pobres pássaros de Nova York. Que filme faria, com um belo argumento desses, o nosso mestre do terror?
Viva a vida e quem ajuda a viver.
domingo, 11 de janeiro de 2009
No, we can´t !

Aproxima-se a posse de Obama. Fuzuê total em Washington. A turma do "Yes, we can" prepara-se para assumir o poder. Nós, aqui dos trópicos, podemos aproveitar esse período de suposta euforia para refletir sobre o " No, we can´t".
Em 2009 não podemos tolerar a hipocrisia, a indiferença e a corrupção. No governo e na população. Em nós mesmos. Vamos aproveitar um ano sem eleições para pensar muito. Assim como quem não quer nada... não custa prestar atenção no que podemos fazer para começar a eliminar essas três palavrinhas diabólicas do nosso dia-a-dia.
Hoje, domingão, numa caminhada aqui pela praia fui testemunha de um lindo espetáculo ao ar livre. Um senhor de mais de 80 anos se apresentava, como faz toda a semana, ali na Pedra do Leme. Sapateou como Fred Astaire, dançou como Michael Jackson e fez soar suas castanholas com esquetes de muita criatividade e humor. A platéia, que no início fingia indiferença e soltava algumas risadinhas de desdém, foi seduzida lentamente pelo artista. Quando passou o boné para as contribuições o clima era outro. Com talento e humor o velhinho arrancou elogios, abraços, aplausos e uma grana acima da média para aparições circenses do gênero. Mas o melhor de tudo foi ver derreter-se em alguns rostos, ainda que por pouco tempo, a máscara da indiferença e da hipocrisia. Venceu o afeto durante alguns minutos deste 11 de janeiro de 2009. Yes, we can!
domingo, 14 de dezembro de 2008
O esvaziamento da alma
Blogs têm a ver com palavras, com imagens, com conceitos, com intenções. Muitas vezes questiono a quantidade de palavras gastas para expressar sentimentos variados. Navegando pelos blogs, encontrei o da portuguesa Guida Mendes. Nele, uma citação que considero atualíssima. Belas palavras para definir a hemorragia e o abuso das palavras. Vou querer saber muito mais sobre Antonio Alçada Batista.
Não se pode viver sem pensar e não se pode pensar sem palavras. Mas as palavras, quando despojadas da vida são a hemorragia, o esvaziamento da alma. A hemorragia das palavras, está a perder a nossa civilização. Os homens e as sociedades estão a esvaziar-se. Vivemos uma existência anémica porque abusamos das palavras. Os discursos não param. Perdemos a nossa vida em discussões, e em confissões públicas, e em debates, em processos.Vai ver que vamos passar a história com a idade dos processos. Estamos a ser sangrados pelas palavras."
António Alçada Baptista, In Os nós e os laços (2001). Lisboa:Editorial Presença.
Não se pode viver sem pensar e não se pode pensar sem palavras. Mas as palavras, quando despojadas da vida são a hemorragia, o esvaziamento da alma. A hemorragia das palavras, está a perder a nossa civilização. Os homens e as sociedades estão a esvaziar-se. Vivemos uma existência anémica porque abusamos das palavras. Os discursos não param. Perdemos a nossa vida em discussões, e em confissões públicas, e em debates, em processos.Vai ver que vamos passar a história com a idade dos processos. Estamos a ser sangrados pelas palavras."
António Alçada Baptista, In Os nós e os laços (2001). Lisboa:Editorial Presença.
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