Demorou. Mas voltei. E como meu último post foi sobre o belíssimo filme A PARTIDA decidi retornar ou ressuscitar com um tema que sempre me interessou: a velhice, o envelhecimento, o ato de envelhecer.
Pedi para que alguns amigos escrevessem sobre o envelhecimento numa sociedade como a nossa. A resposta foi imediata. Mas antes de começar a publicar esses textos quero contar pra vocês por que insisto nesse tema .
Faz algum tempo fui trabalhar com uma turma bastante heterogênea. Habilidades e idades variadas. Um dos big bosses da vez era um cara charmoso, tipo gostosão - há controvérsias - e alguns anos mais novo do que eu. Foi a primeira vez que tive que lidar, de fato, com a sensação da invisibilidade. O tratamento recebido era o da indiferença civilizada, se é que me entendem.É como se, independente do trabalho executado, eu fosse uma figura de linguagem quase em extinção. O cara, já cinquentão, praticava a máxima do " não faço parte dessa turma".
Se não captaram a imagem aguardem alguns poucos ou muitos anos. Para quem já está mais do que maduro, o sentimento não deve ser de todo desconhecido. Ainda mais se for mulher.
Hoje cedo li uma declaração da atriz Maria Alice Vergueiro que, aos 75 anos, diz que " o pior não é envelhecer, é querer continuar jovem. É melancólico tentar manter a mocidade a qualquer preço".
Publico dois textos: o do Ricardo Soares, meu grande amigo e responsável pela minha entrada no mundo blogueiro. O Ric ainda está nos early fifties, mas vive uma crise. E toda dificuldade gera muita reflexão, às vezes até literatura.
A outra reflexão - em inglês - é da Anne, uma amiga escocesa que mora há mais de 30 anos no Brasil. Ela está nos early sixties e faz um relato muito interessante sobre a invisibilidade. Para os interessados, Eric é o filho dela. E a mãe do Marc é a irmã dela.
Então é isso,queridos leitores. Divirtam-se. Se forem muito novinhos mando um recado: não fomos educados para envelhecer. E lidar com a invisibilidade requer bom humor e alguma ironia. Além de alguns tônicos chineses que produzen verdadeiros milagres nas articulações.
Escrever sobre cinema e sobre a vida que corre solta mantém meus olhos abertos enquanto o futuro invade, maroto, a minha praia.
sábado, 6 de novembro de 2010
ENVELHESCÊNCIA É DURA ( por Ricardo Soares)
Envelhecer não é exatamente saber onde se carrega mais (ou menos) no molho da comida nem em que lado da cama definitivamente deva se dormir. Não é crer todo dia na balela da qualidade ao invés da quantidade e nem festejar cabelos que ficam grisalhos ou que minguam enquanto o tempo passa na janela e abaixo dela a juventude , os amores fortuitos, as paixões baratas, os gritos, suores e gemidos e nosso desapego em nos apegarmos a situações provisórias como se fossem definitivas. Envelhecer não é exatamente suave nesses tempos modernos onde não é moderna a “envelhescência”. Aqui ficar mais velho é um nada sutil pedido para que a gente se manque, para que trombeteemos nosso próprio toque de recolher pois o alvorecer é para os mais jovens. Assim é se lhe parece. Assim parece para a maioria que não reconhece no mais velho a experiência, o conhecimento de onde se localizam as minas do caminho. Os jovens querem , enfim, pisar nelas, arcar com suas próprias explosões. Não os culpo. Fui assim, muito de nós fomos assim. No entanto quero , envelhecendo, continuar a me explodir e não a implodir minhas ilusões, ambições e anseios. O velho não cabe nessa publicidade de um mundo jovem e bem resolvido. É isso que não faz sentido e me deixa sentido.
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