sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Travei........


As atrocidades cometidas em nome da autodefesa, na Faixa de Gaza, não param de chegar até nós. Motorista da ONU assassinado, trinta civis palestinos mortos num abrigo, fim da ajuda humanitária.... Juro que travei. E ainda por cima, aqui na faixa tupiniquim do Rio de Janeiro, os tiros não esperaram passar a primeira semana de 2009. Os morros da Babilônia e Chapéu Mangueira foram sacudidos por várias saraivadas. Nós, do asfalto, ficamos torcendo para que nada de muito ruim aconteça por lá. O pior são as centenas de trabalhadores que voltam para suas casas, no cair da noite, e são recebidos por esse ambiente de terror que já virou rotina nos morros da cidade.

Por conta dessas guerras adotei o silêncio nos últimos dois dias. E estou muito curiosa pra saber o que fará Obama a partir do dia 20 de janeiro. E a cada dia que passa apenas confirmo: esses israelenses da guerra são de uma cara de pau, de uma arrogância, de uma empáfia e de uma crueldade sem limites. Por coincidência leio, ao mesmo tempo, dois livros sobre o tema: AS BENEVOLENTES, de Jonathan Littel - as memórias nuas e cruas de um ex- oficial nazista - e UMA VONTADE LOUCA DE DANÇAR, de Élie Wiesel, prêmio Nobel da Paz e Fundador Chefe do Conselho Norte-Americano da Memória do Holocausto.

Os dois livros têm a ver com o trabalho individual de cada um para lidar com as perdas, com as culpas e com um vazio imenso que ocupa quase todo o coração.
E o governo de Israel, como lidará com as perdas e danos no futuro próximo?
E a quantidade imensa de crianças palestinas mortas - até hoje 257 - durante esses ataques?
E o ódio, que só faz se alastrar?
Por isso tudo fiquei quietinha.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

ONU, CASA DA MÃE JOANA


Que a violência tenha virado arroz-com-feijão em terras cariocas já é clichê. O Rio de Janeiro convive com bandidos - os legalizados e os chamados ilícitos - há bastante tempo. Bandidos da pior espécie. Testemunhamos crimes hediondos, aplaudimos filmes que retratam a barbárie e sonhamos com um final feliz para o ocupação do Dona Marta. Mas ainda não fomos para as ruas, em massa, denunciar a corrupção e exigir o fim da bandidagem que nos cerca.
Mas isso é Rio de Janeiro, RJ, Brasil. É São Paulo, Recife, Vitória, Fortaleza e Belo Horizonte, pra citar apenas algumas de nossas capitais. Em áreas tupiniquins, as festas de final de ano só não mataram mais gente, nas estradas, do que os ataques israelenses na faixa de Gaza. E estamos em época de lei seca, hein?

Um minuto de silêncio. O nosso trânsito nacional é uma tragédia a lamentar que mata milhares de jovens. Gente que não vive até os 30 anos de idade. Quando faremos alguma coisa para mudar esse cenário?
Agora que já fizemos uma rápida e rasteira resenha dos nossos primeiros dias de 2009 volto ao tema Faixa de Gaza. Então deixa eu entender melhor: os israelenses atacam duas escolas da ONU em Gaza, matam 40 civis só nesta terça e............necas de pitibiribas? A ONU fica lá, bonitinha, esperando as próximas instruções do governo Bush? Obama está preocupado? Oh, dear!
Parte do mundo se revolta, ainda bem, mas não o suficiente pra fazer com que esses megalôs interrompam a carnificina.
A bandidagem aprende rápido, né mesmo? Com exemplo da ONU fica difícil exigir algum choque de ordem.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Invasão de Gaza: a culpa de todos nós


Até quando vamos ter que assistir aos ataques em massa de Israel à faixa de Gaza? O fato do Hamas lançar foguetes no sul de Israel justifica a retaliação desproporcional, que já matou mais de 400 palestinos?

Faz muito tempo que o Holocausto não serve mais como justificativa - pelo menos para mim - para todos os crimes cometidos pelo governo israelense em nome da ameaça palestina. E hoje, ao ler o artigo do jornalista inglês John McCarthy, no Globo, essa certeza ficou ainda mais cristalina. McCarthy, para quem não sabe, foi o jornalista sequestrado pela Jihad Islâmica no Líbano, em 1986. Ficou cinco anos em poder dessa turma da pesada. Quando foi libertado, seu sofrimento foi relatado em filmes e livros.
Tudo isso pra contar pra vocês, que não leram o Globo, que McCarthy escreveu o seguinte sobre o ataque de Israel: " ....Embora a resposta desproporcional já tenha provocado diversos pedidos de moderação por parte de vários organismos internacionais, o governo israelense continua a se retratar como uma vítima passiva sob ameaça. Ehud Barak (ministro da Defesa) descreveu Israel como "uma vila no meio da selva" e um local civilizado cercado de hordas de selvagens"".
Preconceito, discriminação, racismo? Já vimos esse filme.
Gaza se encontra mesmo à beira de um desastre humanitário, como relata McCarthy. Sem luz, sem água, sem remédios, sem combustível e sem alimentos. Mas Israel ignora inúmeras resoluções da ONU, sempre com o apoio dos Estados Unidos.
A pergunta-chave, no artigo do jornalista britânico, é a seguinte: por que não há uma pressão real para que as resoluções da ONU sejam cumpridas por Israel? Na opinião dele, em parte porque nosso imaginário coletivo carrega a culpa pelo Holocausto. Criticamos as posições de Israel mas não temos coragem de ir muito além disso, talvez por medo de sermos acusados de atacar um povo que já sofreu tanto em sua longa história. "A tragédia", conclui Mc Carthy, " é que, agora, um outro povo está sofrendo por causa da hesitação do mundo em ofender Israel.
Cabe à imprensa internacional, em sua maioria pró-Israel, desempenhar de verdade o seu papel fiscalizador e cobrar de Israel - e dos Estados Unidos - o fim do bloqueio e dos ataques desproporcionais que matam com bombas, de fome e de sede centenas de civis, entre eles inúmeras crianças.
A culpa pelo Holocausto é de todos nós. Mas assistindo a essa guerra infinita, no Oriente Médio, e às posições de Israel, tenho me perguntado muitas vezes se o Holocausto foi mesmo o limite da crueldade humana na chamada era moderna.