segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O preconceito e a dúvida


Pesquisa realizada pelas Fundações Perseu Abramo e Rosa Luxemburgo escancarou o que a turma da geral já sabe: apenas 1% da população brasileira com mais de 16 anos NÃO têm preconceito contra homossexuais. Quase 30% assumem que não gostam de gays, lésbicas, travestis ou transexuais. E tem mais: a cada 3 dias do ano passado cometeu-se pelo menos um crime de ódio por orientação sexual no país.

Para quem não acredita e entrega o preconceito às mãos do Divino todo misericordioso, aqui vai: 66% dos 2.014 brasileiros ouvidos em 150 cidades acreditam piamente que a homossexualidade é um pecado contra as leis de Deus. Outros optaram pela homossexualidade como doença. Mas, atenção, uma doença que precisa ser tratada.

O governo federal encomendou a pesquisa e, ainda bem que sensibilizado, vai lançar, em maio, o Plano Nacional de Promoção da Cidadania LGBT. Cogita-se também o planejamento de novas políticas diante do espectro sombrio da...................INTOLERÂNCIA!!!! E engula essa: 70% dos entrevistados consideram que o governo não deve se envolver na situação!

Ora pois, como assim? Faz muito bem o nosso governo em se envolver e em combater a falta de educação e de respeito pelas opções do OUTRO. A outra pessoa que você vê todos os dias na rua. Aquele ser humano que caminha ao seu lado mas, certamente, não pensa e não age como você ou como eu.

É isso mesmo, tupiniquins, somos intolerantes e preconceituosos. Ou alguém acreditava que aqui nos trópicos tudo seguia em harmonia no que diz respeito à opção sexual de cada brasileiro? Necas de pitibiribas. A INTOLERÂNCIA é a dama de companhia deste século 21. Olhe para qualquer pontinho do mapa mundi e encontrará um exemplo cabeludo.

Dito isso, recomendo um filme que está em cartaz e que tem tudo a ver com a INTOLERÂNCIA. É "DÚVIDA" (Doubt), com Meryl Strep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams e Viola Davis. Grandes interpretações para mostrar o perigo da intolerância diante da dúvida. Aquele momento em que você acredita ter certeza de que a sua opinião é a correta, apesar de evidências em contrário. O instante em que você decreta o fim da dignidade do outro com o seu poder de acusar, mesmo na dúvida. O filme é americano. Se fosse europeu, tenho certeza que seria muito mais indigesto. Mas é bem feito, bem dirigido e lindamente executado por atores brilhantes em seus respectivos papéis. Dá até pra perdoar o excesso de melodrama em algumas cenas.

O importante é entender que a intolerância e o arrependimento tardio podem corroer o coração até o final de todos os nossos dias. A certa altura do filme, um personagem central afirma algo como: " a virtude - o amor e compaixão - é a grande arma contra a maldade da alma humana".

Em que momento da infância a intolerância começa a ser inoculada em nossas crianças?

domingo, 8 de fevereiro de 2009

As ideologias, o terrorismo e, lá longe, o caso Battisti

Alguém declarou, há tempos, que nestes tempos pós-modernos o conceito de DIREITA E ESQUERDA não existe mais. Que o fracasso do socialismo, em várias partes do mundo, foi o golpe de misericórdia nas ideologias.
Alguns argumentaram que o capitalismo tinha vencido e que era dentro dele que cabia a nós, sobreviventes, discutir o que poderia ser feito para " aprimorar" o sistema.
Bullshit.
Quanto mais avançamos no século 21 mais claro fica, pra mim, que acordamos, respiramos e vamos dormir pensando e agindo de forma ideológica. Isso pode ser extremamente positivo, principalmente se pararmos para pensar de que maneira a NOSSA (minha, sua) DIFERENÇA pode afetar o outro e toda a comunidade.
O preconceito, a falta de educação, a violência, o racismo, a ostentação, o autoritarismo, a falta de honestidade... fazem parte do cotidiano de pessoas que escolheram viver assim. São atitudes ideológicas, mesmo que o sujeito que as execute não tenha plena consciência do fato.
Tribos existem, todas temos as nossas. O problema é quando a Tribo A quer destruir a Tribo B sem direito a discussão ou argumentação.

Tudo isso passou pela minha cabeça quando comecei a tentar entender o caso Battisti. Entre amigos muito próximos, as opiniões demarcam claramente de que lado da balança cada uma dessas pessoas se posiciona. Conceder ou não asilo político, extraditar ou não o cara, todas essas questões geraram debates que resumem - pro bem, pro mal ou pra coluna do meio - quem somos nós e o que pensamos da vida e do capitalismo, sistema econômico e social vigente neste planeta quase em frangalhos.

Poderoso, criminoso, agonizante, o sistema capitalista e seus mentores usam o fracasso do socialismo para eliminar, dos corações mais jovens, o sonhos e a batalha por um mundo mais justo e igualitário.
Foi nessa discussão sobre o Caso Battisti e sobre quem é e quem não é terrorista que nosso grupo recebeu, de uma pessoa muito querida, o texto que reproduzo abaixo :

Então somos todos criminosos - a esquerda, por tentar acabar com a exploração cometendo erros horríveis e a direita, por tentar manter a exploração cometendo erros horríveis.
Menachen Begin e Itzak Shamir, tão terroristas antes da criação do Estado de Israel e tão Primeiros Ministros depois.
Dan Mitrione, que ensinava tortura no Cone Sul, é considerado quase um herói nos EUA. Talvez os tupamaros que o executaram fossem só criminosos baixos porque Stalin cometeu suas atrocidades.
Até o tão democrático estado americano - que fez a Lista Negra nos anos 50 e aceitou o afogamento e outras metodologias pouco ortodoxas nos nossos dias atuais - pode e deve ser considerado bonzinho porque é democrático e Mao cometeu suas atrocidades.
Israel tem mesmo que bloquear Gaza por 19 meses - nem ajuda humanitária entra - e bombardear a torto e a direito - lapidar a explicação de que a população de Gaza dava suporte ao terrorismo por votar no Hamas - porque houve terror de estado nos satélites soviéticos.
Já que Cuba também cometia seus desatinos, tortura nesses latinoamericanos de merda e os milhares de desaparecidos na argentina, chile, brasil, uruguai, paraguai, méxico etc - ad nauseam - no fundo estavam aprontando das suas.
E nem falamos ainda do arqui-criminoso Khmer Vermelho.

O fato é que o status quo considera, e sempre considerou, criminoso comum qualquer um que o ameace. Aí o discurso bonzinho acaba. E vamos concordar que o atual status quo está nos convencendo, a cada dia que passa, que não é bom se revoltar. Já que se cometeu tantos crimes do lado de lá, parem de reclamar e nos deixem falir o mundo à vontade, demita-se milhões e, silêncio por favor, que temos de prestar socorro aos que faliram o mundo. Esqueçam os nossos possíveis excessos pontuais porque os deles é que são criminosos. Às vezes dá vontade de vomitar.
Acho que a denúncia dos crimes cometidos pelo socialismo, no poder ou fora dele, não pode nos levar a quase aceitar o que o sistema capitalista fez e continua fazendo. Tanto no terreno da exploracão quanto no da repressão. O capitalismo é criminoso de berço e, pelo menos, a intenção socialista é boa. Por mais que a prática não recomende.
É bom lembrar que os socialistas, comunistas, etc... só apareceram porque nosso status quo já estava explorando, reprimindo, etc...
A luta por uma sociedade igualitária passou por muita luta, muito sofrimento. Ou nós já revisamos os crimes do tzar, dos imperialistas na China, dos Batistas em Cuba?
Nenhuma brutalidade deles, nada para embrulhar nossos estômagos?
Pelo que o capitalismo já fez com o mundo, acho que devemos pelo menos considerar que houve excesso na legítima defesa. Porque este sistema não pode ser considerado bom.


por Antonio Henrique Lago