Simone Beauvoir (9/01/1908 - 14/04/1986):
Sinto vontade, sabe? Quero correr riscos, afundar nas buscas pela felicidade, entender a engrenagem da dor e descobrir
como as perdas se acomodam na memória. Ainda espero encontrar uma paixão
no boteco mais próximo e não tenho dúvidas de que posso ser cada vez melhor na minha profissão.
Gertrude Stein (3/021874 - 27/07/1946):
Você tem vontade, claro, mas quando está no
batidão de todos os dias ou no meio da multidão é invadida por uma sensação de não pertencimento, uma
espécie de transparência quase invisível que não reflete a sua gana, a sua curiosidade.
Simone:
Você percebe que o erotismo ainda domina emoções e decisões, mas seu corpo é praticamente invisível para um imenso universo de
homens e mulheres. Esgota-se o tempo de trabalho útil e remunerado. Esses sinais, sutis, marcam o início do outono. No inverno da vida você ainda será a mesma menina agitada. A não ser, provavelmente, pela imagem que o espelho mostrará todos os dias até o fim. Aqui do lado de fora, no entanto, vez ou outra alguém poderá se manifestar na fila de um ônibus: quer ajuda para subir a escada? Sente-se aqui, faço questão....
Então é isso a velhice? Paixão, desejo, curiosidade, atividade sexual em declínio, decepção, desemprego, aprendizado e esquecimento?
Simone:
Quase isso. Faltou acrescentar que no grand finale mergulharemos no abismo possivelmente anunciando, aos quatro ventos, as perguntas que fizemos desde sempre.