quarta-feira, 4 de novembro de 2015

LUTA PELA DIGNIDADE NA ISRAEL DO SÉCULO 21

É uma torcida apreensiva. Viviane Amsalem quer se divorciar porque não ama mais o marido. Mas o desenlace feliz para ela depende dele, do homem com quem viveu por quase 30 anos. É assim que as coisas se passam nos tribunais israelenses do século 21.Um tribunal rabínico ignora o desespero e a vontade de Viviane. E enrola por quase 5 anos a decisão sobre o divórcio. 
É que em terras de Benjamin Netanyahu o baile só começa quando o homem concorda com o pedido de divórcio. Se a resposta for não dane-se a companheira. 
Ela é interrogada com desprezo pelos próprios juízes e raramente consegue emitir alguma opinião. Se fala sem ser chamada é ameaçada. Quando explode deixa atônitos os homens do tribunal. Mulher ali é tentação do demônio, só não saca quem não viu.

Para a plateia feminina, a sensação de desconforto é muito forte. Viviane saiu de casa, tenta o divórcio. A menor suspeita de que possa ter cometido um adultério ouriça juízes, marido emburrado e testemunhas, inclusive mulheres. 

O JULGAMENTO DE VIVIANE AMSALEM é um belo filme que incomoda. Mas não cansa. A todo momento nos deparamos com novos olhares, pequenos gestos, um universo de significados que atropelam nossas certezas ao longo das inúmeras idas de Viviane e do marido (ex) Elisha ao tribunal.

A atriz Roni Elkabetz dirige o filme com o irmão Shlomi Elkabetz. Ela também encarna com perfeição a angústia de Viviane. Os atores brilham e a fotografia contribui para que a claustrofobia que sentimos não seja interrompida nem quando nossos personagens estão na sala de espera do tribunal. 

Um roteiro ágil, bem escrito. Um filme barato, com apenas uma locação. E um resultado que agrada porque trata de um tema caro às mulheres deste século: o machismo  impregnado na cultura de uma Israel moderna, uma nação ainda submissa ao fundamentalismo religioso.  

Já vimos esse filme por aqui também. Mas ouvir os diálogos em hebraico talvez seja um incentivo para que não deixemos cair a peteca pela luta da dignidade feminina - em terras tupiniquins ou no deserto impiedoso do Oriente Médio.


Nenhum comentário:

Postar um comentário