Ontem,no Globo, o surpreendente escritor português Gonçalo M. Tavares, que aos 40 anos já publicou 29 livros, deu uma bela entrevista e abordou a questão da morte e do tempo. Compartilho.
Sêneca ensina que temos que agir sabendo que vamos morrer. Quando se está consciente da morte, distingue-se o essencial do acessório. A consciência da morte muda o modo como utilizamos o tempo. Muda a forma como vivemos. " Cartas a Lucílio" são cartas de Sêneca a um aprendiz. A primeira carta fala precisamente do tempo. O aprendiz reclama da falta de tempo. Sêneca diz a ele: " ao invés de se queixar da falta de tempo,vais ver o que é essencial e o que é acessório. E no dia seguinte fazes somente o que é essencial. E assim verás: tens tempo".
Escrever sobre cinema e sobre a vida que corre solta mantém meus olhos abertos enquanto o futuro invade, maroto, a minha praia.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
HÓSPEDE INEVITÁVEL (por Patricia Cicarelli)
“Sentir como uma perda irreparável o acabar de cada dia. Para mim, isso é velhice”
(José Saramago)
O envelhecimento físico é inevitável. Percebo que a maioria das pessoas entende a velhice sob esse fardo fatídico. Não o sinto ainda, porém haverá de me atingir. Quando esse momento chegar, espero aprender como dialogar com ele. No entanto, tenho um olhar paradoxal para essa hóspede irremediável, que vem habitar os sobreviventes. Poderia significar um prêmio, mas ela não nos coloca no podium,mesmo cumprindo a trajetória.
A velhice nos torna ou não vitoriosos? A questão causa-me estranheza.É como se participássemos de uma maratona, para cruzarmos a reta final em último lugar. Se possível fosse, seria bom largar e nunca chegar. Aí sim, seríamos campeões, receberíamos o troféu da eternidade.
Espero que essa envelhescência seja larga para mim, já que só envelhece quem vive além. Avançarei nela sem pressa. Afinal, caminhamos tão rapidamente a juventude!
Não sinto o acabar de cada dia como uma perda irreparável. Passei a festejar o dia que nasce, talvez seja esse o primeiro sintoma da minha velhice. Não faz muito descobri o privilégio de existir, a felicidade gratuita de respirar, andar, falar, rir, chorar, amar. É
esplêndido estar viva. Algum poeta, o qual não me recordo, disse que estar vivo não é normal. Concordo.
Quando eu me sentir velha ou envelhecendo, espero ter mais humor para lidar com os limites do meu corpo. Não pretendo brigar com a minha envelhescência - inevitável.Se ela é condição para continuar viva, irei com ela de mãos dadas. Até lá, na reta final, cuidarei para permanecer saudável, o mais lúcida possível e muito produtiva, me apaixonando, escrevendo, escrevendo e escrevendo.
A experiência de viver nos transforma. Nos faz ser e não apenas estar. Como ganhei a vida de presente, faço por vivê-la com plenitude, cada fase até a última gota. “Ah! Farejo Vida” (Shelley) – é verdadeiramente a minha epígrafe.
(José Saramago)
O envelhecimento físico é inevitável. Percebo que a maioria das pessoas entende a velhice sob esse fardo fatídico. Não o sinto ainda, porém haverá de me atingir. Quando esse momento chegar, espero aprender como dialogar com ele. No entanto, tenho um olhar paradoxal para essa hóspede irremediável, que vem habitar os sobreviventes. Poderia significar um prêmio, mas ela não nos coloca no podium,mesmo cumprindo a trajetória.
A velhice nos torna ou não vitoriosos? A questão causa-me estranheza.É como se participássemos de uma maratona, para cruzarmos a reta final em último lugar. Se possível fosse, seria bom largar e nunca chegar. Aí sim, seríamos campeões, receberíamos o troféu da eternidade.
Espero que essa envelhescência seja larga para mim, já que só envelhece quem vive além. Avançarei nela sem pressa. Afinal, caminhamos tão rapidamente a juventude!
Não sinto o acabar de cada dia como uma perda irreparável. Passei a festejar o dia que nasce, talvez seja esse o primeiro sintoma da minha velhice. Não faz muito descobri o privilégio de existir, a felicidade gratuita de respirar, andar, falar, rir, chorar, amar. É
esplêndido estar viva. Algum poeta, o qual não me recordo, disse que estar vivo não é normal. Concordo.
Quando eu me sentir velha ou envelhecendo, espero ter mais humor para lidar com os limites do meu corpo. Não pretendo brigar com a minha envelhescência - inevitável.Se ela é condição para continuar viva, irei com ela de mãos dadas. Até lá, na reta final, cuidarei para permanecer saudável, o mais lúcida possível e muito produtiva, me apaixonando, escrevendo, escrevendo e escrevendo.
A experiência de viver nos transforma. Nos faz ser e não apenas estar. Como ganhei a vida de presente, faço por vivê-la com plenitude, cada fase até a última gota. “Ah! Farejo Vida” (Shelley) – é verdadeiramente a minha epígrafe.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
PARTE DA VIDA
A morte não é o oposto da vida, mas uma de suas partes constituintes.
Expressa em palavras, torna-se um lugar-comum, mas naquele momento eu não sentia que fossem palavras, e sim uma massa de ar dentro de mim. A morte existe também no interior dos pesos de papéis e das quatro bolas vermelhas e brancas enfileiradas sobre a mesa de bilhar. E nós continuamos a viver exalando-a para dentro de nossos pulmões como uma fina poeira.
(Haruki Murakami - "Norwegian Wood" )
Expressa em palavras, torna-se um lugar-comum, mas naquele momento eu não sentia que fossem palavras, e sim uma massa de ar dentro de mim. A morte existe também no interior dos pesos de papéis e das quatro bolas vermelhas e brancas enfileiradas sobre a mesa de bilhar. E nós continuamos a viver exalando-a para dentro de nossos pulmões como uma fina poeira.
(Haruki Murakami - "Norwegian Wood" )
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