domingo, 14 de junho de 2009

A partida


Apareço, escrevo, digo oi para todos no dia em que a parada Gay de São Paulo reúne, como sempre, milhões de pessoas.
Escrevo quando os corpos do airbus 330 esperam, irreconhecíveis, pela identificação e o quebra-cabeça da tragédia começa a se resolver.

Digo oi neste 14 de junho friorento do Rio de Janeiro para comentar sobre um dos filmes mais delicados e brilhantes que assisti nos últimos tempos. A PARTIDA, uma obra prima com trilha sonora ocidental - lindíssima - e roteiro genialmente oriental.

Grudei na cadeira do cinema durante duas horas. Primeiro, pelo prazer de constatar que em matéria de cinema os japoneses nos surpreendem sempre. Segundo porque um roteiro como o de A PARTIDA (ou AS PARTIDAS, se formos pela cadência do filme) nunca poderia ser escrito por mãos e cérebros ocidentais.

Como partimos deste mundo? Pela mão de quem? E o que deixamos depois da partida? Qual é a nossa relação com esse último suspiro - o dos outros e o nosso?
Não vou estragar a surpresa dos que ainda não se aventuraram nas partidas mais do que contemporâneas de Yojiro Takita. Só vou dizer que a cada minuto você se surpreende com o talento dos atores, com o enredo que se torna complexo sem ficar intransponível e, finalmente, com o vulcão de emoções aparentemente reprimidas pela tradição e cultura japonesas.
Não, o filme não tem gueixas entre os personagens. Estamos no Japão de 2008, em plena crise econômica.

É cinema radicalmente oriental, mas nós, tupiniquins, nos sentimos muito próximos da trama. O filme fala com a morte. Dialoga com todos nós. Mesmo assim, as lágrimas que escorrerão pelo seu rosto terão nascido em alguma cidadezinha distante, na terra do sol nascente.
Prepare-se para o violoncelo e para a Ave Maria. Isso mesmo. A tradição é deles, a música é universal. A emoção é de todos nós.