segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

FOI APENAS UM SONHO

O filme de Sam Mendes tem a ver com vazio, falta de esperança, repressão, vontade de explodir e de amar. A ação se passa na década de 50. Mas poderia ser em 2009, com mulheres norteamericanas liberadas e independentes financeiramente. O vazio é atemporal.
O diretor inglês/português escolheu um romance do subestimado Richard Yates. Morto em 1992, o escritor partiu para a eternidade sem ter conseguido comprar de volta os direitos cinematográficos de REVOLUTIONARY ROAD. No Brasil o livro foi lançado pela Alfaguara com o mesmo título do filme, FOI APENAS UM SONHO.

Gostei da performance de Leonardo, o Di Caprio, que a cada filme lapida o seu estilo, apesar do rostinho de menino. Já com Kate Winslet acontece algo muito interessante: a partir de um certo momento, no filme, a máscara que representa um mix de cinismo e desespero vira pele e nos envolve até.........o desenlace. Sentimos raiva e pena de sua April.

Ainda que muitas vezes caricato (por conta do roteiro, não da atuação), o personagem do ator Michael Shannon destila e atira, no casal em crise, suas idéias sobre coragem, covardia e ressentimento. Mas é a interpretação do ator que surpreende: seco, cruel, sem meias palavras, o recém-liberado paciente do hospital psiquiátrico (uma barra pesadíssima na década de 50) destrói as últimas ilusões de April.

Algo em BELEZA AMERICANA, do mesmo diretor, sempre me incomodou. Talvez exatamente a crítica, um tanto histérica, do já famoso moralismo americano. Em FOI APENAS UM SONHO essa crítica amadureceu, na minha opinião. Ficou mais seca, menos melosa. O sonho acabou e saí com uma imensa batata dentro da garganta.

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