O rosto deveria ser inexplorável, quase inexpressivo. Mas no olhar fixo e sem piscadas o ódio era intenso. Aquele era um homem jovem, alto e magro. Um ser humano que poderia simplesmente fazer parte daquele cenário. Mas.......
Praticamente empurrou o rapaz para fora do estabelecimento. O ato de expulsar não foi explicitamente violento. A pressão dos dedos da mão sobre as carnes do indesejado não deixou dúvidas. Aquele homem jovem, alto e magro era um ser humano diferente. Poderia fazer parte de qualquer esquadrão - da morte, da milícia, do tráfico ou do colarinho branco.
Na rua, encostado numa parede, o dono do olhar cruel tentava se confundir com a paisagem. Aparentemente tranquilo. O corpo, no entanto, transpirava maldade. O objeto indesejado, agora do lado de fora do estabelecimento, ainda continuava por ali à espera de gestos de compaixão e boa vontade.
Fui em direção ao pedinte. Sabia que ele aguardava apenas o que chamaria, mais tarde, de caridade. Depositei algumas moedas na palma da mão encardida.
Antes de seguir o meu caminho, não sei por que fui até o homem, suposto segurança do local. O olhar era o mesmo. A voz saiu baixa quando falei que senti pena do sem-teto e resolvi dar-lhe algum dinheiro. Nem assim ele me encarou. Baixou a vista e ajeitou a cabeça, para em seguida focalizar novamente o objeto rejeitado. Senti a frieza do ódio depois de alguns passos. Virei para trás e rapidamente nossos olhos se cruzaram.
O baixo astral provoca arrepios. A maldade, calafrios. Incrível mesmo é que tudo isso aconteça numa manhã linda, de céu azul e gorjeios variados. E dentro de uma padaria.
Para onde estamos indo?
Olá Tania, eu acompanho pouquissimos blogs, mas prefiro a qualidade do que a quantidade,e o seu entrou nessa seleta lista, seus textos são lindos, aliás até me emocionei lendo esse...realmente é um pouco dificil ver situações como essa e não ficar comovido, e não ficar mais comovido ainda com a ignorância e total falta de solidariedade que tem cada vez mais acometido as pessoas que poderiam ajudar a mudar essa situação ao invés de ignorá-la apenas...
ResponderExcluirgrandes beijos e boa páscoa!
Excelente narrativa/denuncia/alerta.
ResponderExcluirDarling...isso aconteceu naquela nossa padaria do Leme ??? a que tomamos pingado ? se foi não vou mais lá... bjs
ResponderExcluirO mal do mal é que é banal...
ResponderExcluirBJS!
Tania, eu não sei pra onde estamos indo, mas não é dos lugares mais agradáveis, pelo visto.
ResponderExcluirabs...