Em 2011 o tema envelhecer continuará firme por aqui.
Agradeço aos amigos que enviaram os textos que foram publicados
aqui.
Foi ótimo retomar o blog. Vamos ver o que o ano novo nos reserva.
Um beijo estalado para todos.
Escrever sobre cinema e sobre a vida que corre solta mantém meus olhos abertos enquanto o futuro invade, maroto, a minha praia.
domingo, 26 de dezembro de 2010
sábado, 18 de dezembro de 2010
VIVER MUITO É CONTABILIZAR PERDAS? (por Cecilia Thompson)
De fato, o ruído do tempo é enorme.Tenho agora indesejados 74 anos (não me venham com melhor idade que eu mato!). Acho que somente agora entendo o quadro geral, ainda assim mais ou menos. Como escreveu Vittorio Gassman, "a experiência é um farol de milha - pena que esteja voltado para trás". Pois é.
Aos 74 e quase meio, também detesto e rejeito! melhor idade é qualquer uma, desde que a gente esteja bem; eu, de moça, não entendia essa insistência dos mais velhos na tal da 'saúde', mas hoje me felicito por estar bem - embora tenha medos, claro, porque Alzheimer na família da mamãe é uma constante, e meu psiquiatra (...atra mesmo, pois há 12 anos fui atingida, como por um tsunami, por uma depressão quase fatal, hoje controlada com remédio - permanentemente sob vigilância, na jaula de onde me rosna) me avisou que tenho 52% de possibilidades, etc etc etc. enfim: quem viver verá. E ,se eu não perceber, pior para os filhos (que é o que mais me apavora, não quero dar trabalho a ninguém).
Outra coisa: se me mandarem prum bailinho da tal da terceira idade (acho que já estou na quinta!) ou jogar dominó na pracinha, eu também MATO!
Um casamento daquele tempo que durou. Mas há outros (nenhum meu, claro). Namorei um pouco bastante, tive um grande amor (Hamlet - esse o nome - jornalista, mora hoje nos Estados Unidos) no começo dos anos 80, viajei muito, 'casei' de novo em 90 com um rapaz 25 anos mais moço do que eu. C. era lindo, além de tudo um grande amigo, soropositivo, e cuidei dele (e nos divertimos!) durante cinco anos, até que ele morreu, aos 30. Eu estava com 55, e me fechei para o mundo. Cinco anos depois, quando consegui 'me abrir' e olhar de novo para os homens, aos 60 anos, ninguém mais me olhava, claro, e assim vou vivendo até os 74 e meio, que se completarão no dia 29 de dezembro. Depois 75, em junho de 2011... e quando me perguntam qual é a primeira coisa que vejo à frente, quando penso no futuro, me divirto dizendo que é o crematório da Vila Alpina - que tenho frequentado muito mais do que gostaria. Será que viver muito é contabilizar perdas?
Trabalhei 34 anos no Estadão - comecei tradutora e acabei ouvidora - de onde fui o último dinossauro demitido, em outubro de 2008. Não consigo pensar em parar de trabalhar - e sei que vc me entende.
Fiz amigos, mais jovens, dou aula no Curso de Focas do Estadão, perdi muitos amigos mais velhos, da minha idade ou mais jovens também.
Falando em idade: um amigo antigo e querido diz que só conhece duas, vivo e morto. Serve.
Aos 74 e quase meio, também detesto e rejeito! melhor idade é qualquer uma, desde que a gente esteja bem; eu, de moça, não entendia essa insistência dos mais velhos na tal da 'saúde', mas hoje me felicito por estar bem - embora tenha medos, claro, porque Alzheimer na família da mamãe é uma constante, e meu psiquiatra (...atra mesmo, pois há 12 anos fui atingida, como por um tsunami, por uma depressão quase fatal, hoje controlada com remédio - permanentemente sob vigilância, na jaula de onde me rosna) me avisou que tenho 52% de possibilidades, etc etc etc. enfim: quem viver verá. E ,se eu não perceber, pior para os filhos (que é o que mais me apavora, não quero dar trabalho a ninguém).
Outra coisa: se me mandarem prum bailinho da tal da terceira idade (acho que já estou na quinta!) ou jogar dominó na pracinha, eu também MATO!
Um casamento daquele tempo que durou. Mas há outros (nenhum meu, claro). Namorei um pouco bastante, tive um grande amor (Hamlet - esse o nome - jornalista, mora hoje nos Estados Unidos) no começo dos anos 80, viajei muito, 'casei' de novo em 90 com um rapaz 25 anos mais moço do que eu. C. era lindo, além de tudo um grande amigo, soropositivo, e cuidei dele (e nos divertimos!) durante cinco anos, até que ele morreu, aos 30. Eu estava com 55, e me fechei para o mundo. Cinco anos depois, quando consegui 'me abrir' e olhar de novo para os homens, aos 60 anos, ninguém mais me olhava, claro, e assim vou vivendo até os 74 e meio, que se completarão no dia 29 de dezembro. Depois 75, em junho de 2011... e quando me perguntam qual é a primeira coisa que vejo à frente, quando penso no futuro, me divirto dizendo que é o crematório da Vila Alpina - que tenho frequentado muito mais do que gostaria. Será que viver muito é contabilizar perdas?
Trabalhei 34 anos no Estadão - comecei tradutora e acabei ouvidora - de onde fui o último dinossauro demitido, em outubro de 2008. Não consigo pensar em parar de trabalhar - e sei que vc me entende.
Fiz amigos, mais jovens, dou aula no Curso de Focas do Estadão, perdi muitos amigos mais velhos, da minha idade ou mais jovens também.
Falando em idade: um amigo antigo e querido diz que só conhece duas, vivo e morto. Serve.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
O OUTONO DE NOSSAS VIDAS (por Rosana Tonetti)
“Serra, serra, serrador, serra o papo do vovô.” Quando garotinha, embalada por esta cantiga popular, eu subia nas pernas da minha bisavó que, empinando-as, imitava o sacolejar de um cavalinho. Enquanto eu gargalhava e pedia intermináveis bis, ela, por sua vez, cansada, fazia várias pausas antes de recomeçar. E foi assim, da convivência quase diária com a minha bisa, que fui compreendendo que na mesma proporção que eu desabrochava para a vida, a avó da minha mãe murchava com o pesar dos anos. Aos poucos fui me dando conta de que a velhice era só uma fase anterior de uma passagem só de ida para algum lugar que eu não poderia ir. Pelo menos naquele momento. E como eu ficaria sem a companhia, o carinho e os cuidados daquela mulher que eu amava tanto quanto a minha própria mãe?
E foi deste modo que comecei a temer a morte. Não a minha, mas a das pessoas que me eram caras. Na minha inocência de menina, devotava minhas orações a Deus para pedir que não levasse a minha bisa antes do dia em que eu pudesse aceitar sua partida: “Por favor, Senhor, só quando eu for gente grande”, pedia, com aquela fé que nunca, nem mesmo quando adulta, voltei a experimentar. Ele ouviu minhas preces. Ela nos deixou aos 93 anos quando eu já tinha alcançado os 21.
Quase três décadas depois, continuo a não me preocupar com a morte. Quero dizer, com a minha propriamente. Ela só me abala quando rouba algum ente querido, como o fez com a minha bisa, meu pai, avós e alguns amigos ainda tenra idade. Minhas desavenças com esta lei implacável da natureza é com aquela fase que ocorre logo depois da maturidade. Meu sentimento é que a velhice é o ápice da traição de Deus com a humanidade. Morrer, tudo bem. Afinal, é preciso desbastar o mundo, renovar. Mas envelhecer, ah, isto não. Este é um processo contínuo que só se interrompe quando se coloca o ponto final na existência.
Tenho uma amiga que, ao completar 50 anos, comentou que estava apenas na metade da vida e que já planeja o próximo meio século. Eu hein! Tô fora. Acho que está se inspirando na avó, que chegou aos 102. E não é que a velhinha adora comemorar, exultante e feliz, a cada aniversário! Mesmo na cadeira de rodas, com muita dificuldade para enxergar e quase completamente surda. Sinto muito! Respeito e admiro quem pensa assim, mas não compartilho desta mesma sagacidade pelo viver. A menos que antes de me tornar um maracujá de gaveta a ciência já tenha conseguido vencer este avanço inexorável da decrepitude do corpo humano.
Estou sendo cruel e pessimista? Pode ser. Mas também devo admitir que nem tudo é tão ruim que não tenha o seu lado bom. Quando chegamos ao outono de nossas vidas levamos algumas vantagens! Bem, alguma a gente tinha que angariar, não é mesmo? A consciência de que o relógio cronológico que marca as nossas vidas, em que um dia a mais é na verdade um dia a menos, faz com que gastemos com mais qualidade o nosso tempo.
O acúmulo de experiências nos torna mais sábios, com o intelecto antenado, aguçado. Passamos por cima do supérfluo, das firulas. Pelo menos no meu caso sinto que hoje estou mais paciente e tolerante. Aprendi a segurar o pavio curto. Seleciono melhor as amizades, os relacionamentos afetivos, o lazer, os programas de fim de semana. Além disso, cada vez menos me preocupo com as críticas. Até a minha própria companhia, que eu sempre curti, ganhou mais intimidade.
Se há algo democrático e que não goza de nenhum privilégio entre as classes sociais é o duo formado pela velhice e a morte. Quem não encarar a segunda ainda jovem, terá que ajustar as contas com a primeira lá na frente. E quanto à segunda, infelizmente, não há margem para oferendas ou mesa de negociação.
E foi deste modo que comecei a temer a morte. Não a minha, mas a das pessoas que me eram caras. Na minha inocência de menina, devotava minhas orações a Deus para pedir que não levasse a minha bisa antes do dia em que eu pudesse aceitar sua partida: “Por favor, Senhor, só quando eu for gente grande”, pedia, com aquela fé que nunca, nem mesmo quando adulta, voltei a experimentar. Ele ouviu minhas preces. Ela nos deixou aos 93 anos quando eu já tinha alcançado os 21.
Quase três décadas depois, continuo a não me preocupar com a morte. Quero dizer, com a minha propriamente. Ela só me abala quando rouba algum ente querido, como o fez com a minha bisa, meu pai, avós e alguns amigos ainda tenra idade. Minhas desavenças com esta lei implacável da natureza é com aquela fase que ocorre logo depois da maturidade. Meu sentimento é que a velhice é o ápice da traição de Deus com a humanidade. Morrer, tudo bem. Afinal, é preciso desbastar o mundo, renovar. Mas envelhecer, ah, isto não. Este é um processo contínuo que só se interrompe quando se coloca o ponto final na existência.
Tenho uma amiga que, ao completar 50 anos, comentou que estava apenas na metade da vida e que já planeja o próximo meio século. Eu hein! Tô fora. Acho que está se inspirando na avó, que chegou aos 102. E não é que a velhinha adora comemorar, exultante e feliz, a cada aniversário! Mesmo na cadeira de rodas, com muita dificuldade para enxergar e quase completamente surda. Sinto muito! Respeito e admiro quem pensa assim, mas não compartilho desta mesma sagacidade pelo viver. A menos que antes de me tornar um maracujá de gaveta a ciência já tenha conseguido vencer este avanço inexorável da decrepitude do corpo humano.
Estou sendo cruel e pessimista? Pode ser. Mas também devo admitir que nem tudo é tão ruim que não tenha o seu lado bom. Quando chegamos ao outono de nossas vidas levamos algumas vantagens! Bem, alguma a gente tinha que angariar, não é mesmo? A consciência de que o relógio cronológico que marca as nossas vidas, em que um dia a mais é na verdade um dia a menos, faz com que gastemos com mais qualidade o nosso tempo.
O acúmulo de experiências nos torna mais sábios, com o intelecto antenado, aguçado. Passamos por cima do supérfluo, das firulas. Pelo menos no meu caso sinto que hoje estou mais paciente e tolerante. Aprendi a segurar o pavio curto. Seleciono melhor as amizades, os relacionamentos afetivos, o lazer, os programas de fim de semana. Além disso, cada vez menos me preocupo com as críticas. Até a minha própria companhia, que eu sempre curti, ganhou mais intimidade.
Se há algo democrático e que não goza de nenhum privilégio entre as classes sociais é o duo formado pela velhice e a morte. Quem não encarar a segunda ainda jovem, terá que ajustar as contas com a primeira lá na frente. E quanto à segunda, infelizmente, não há margem para oferendas ou mesa de negociação.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
TAPETE CÓSMICO (Helio Pellegrino)
“Quanto você faz 20 anos está de manhã olhando o sol do meio dia. Aos 60 são seis e meia da tarde e você olha a boca da noite. Mas a noite também tem seus direitos. Esses 60 anos valeram a pena. Investi na amizade, no capital erótico, e não me arrependo. A salvação está em você se dar, se aplicar aos outros. A única coisa não perdoável é não fazer. É preciso vencer esse encaramujamento narcísico, essa tendência à uteração, ao suicídio. Ser curioso. Você só se conhece conhecendo o mundo. Somos um fio nesse imenso tapete cósmico. Mas haja saco!"
Hélio Pellegrino - Carta a Fernando Sabino, quando o autor fez 60 anos
(meu amigo Beto Borges enviou esse trecho de carta do Pellegrino para um outro amigo, Gustavo Barbosa, que fez 60 anos no domingo, dia 5)
Hélio Pellegrino - Carta a Fernando Sabino, quando o autor fez 60 anos
(meu amigo Beto Borges enviou esse trecho de carta do Pellegrino para um outro amigo, Gustavo Barbosa, que fez 60 anos no domingo, dia 5)
domingo, 5 de dezembro de 2010
ESTOU VELHO (Francis Ford Coppola) E OUTRAS REFLEXÕES
" Estou velho e sei que a melhor coisa da vida é a possibilidade de aprender coisas novas. Você pode beber demais e cair doente, pode correr o mundo atrás de mulheres e deixar sua família chateada. Nada disso, acredite, é importante. O que vai lhe trazer alguma coisa de verdade é o aprendizado".
E olha só que frase mais feliz: " Escrever um roteiro é como fazer uma pergunta. Filmar é ter a esperança de conseguir uma resposta".
Um grande amigo, que acaba de perder a companheira de muitos anos - uma de minhas melhores amigas - me escreveu pra contar que sempre lembra de uma entrevista do grande economista e intelectual Roberto Campos. Octogenário, declarou que "a velhice é um lento naufrágio".
O fascinante é ver, ouvir e ler análises e reflexões pessoais tão distintas umas das outras. Enquanto sigo nesta minha trilha aventureira o que mais me atrai é o poder aprender coisas novas. Sempre.
Será que estarei por aqui aos 80 como uma doce e paciente náufraga, passageira de um Titanic slow motion que será condescendente e acolhedor quando finalmente aterrissarmos na areia final?
E olha só que frase mais feliz: " Escrever um roteiro é como fazer uma pergunta. Filmar é ter a esperança de conseguir uma resposta".
Um grande amigo, que acaba de perder a companheira de muitos anos - uma de minhas melhores amigas - me escreveu pra contar que sempre lembra de uma entrevista do grande economista e intelectual Roberto Campos. Octogenário, declarou que "a velhice é um lento naufrágio".
O fascinante é ver, ouvir e ler análises e reflexões pessoais tão distintas umas das outras. Enquanto sigo nesta minha trilha aventureira o que mais me atrai é o poder aprender coisas novas. Sempre.
Será que estarei por aqui aos 80 como uma doce e paciente náufraga, passageira de um Titanic slow motion que será condescendente e acolhedor quando finalmente aterrissarmos na areia final?
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
A VIDA CONTINUA INDO (por Cristina Montenegro)
O negócio é aguentar no gerúndio, essa santa bóia de salvação verbal, que nos mantém INDO, mesmo que a gente inevitavelmente SAIBA para ONDE; nele, passado e presente vibram com energia, coragem, motor; com a vida da Vida SENDO, e pronto.
O chato é o mundo dizendo a você que você morreu, a partir muitas vezes dos 40 anos, e que se não morreu, deveria ter a boa educação de morrer, para dar espaço para outros. No caso de você não se mancar e não morrer, tiram seus empregos, impedem muito sutilmente você de trabalhar e ganhar dinheiro para se sustentar e para se divertir (é claro), e mesmo se for o caso de você ter alguém que o sustente, ou uma aposentadoria daquelas espantosas (de empregos públicos especialmente), deixam BEM claro que você está empatando a vida dos outros que chegaram depois, e empatando a vida do Estado; do Mercado, não, pois esse sempre dá um jeitinho de tirar casquinha.
Foi por aí que enxerguei minha própria 'velhice' ,usando aqui o termo como o diagnóstico de uma doença.
Se não fosse tratada como doença, falaríamos tão somente da passagem do tempo...
Mas QUEREM decretar o 'diagnóstico'.
E começa o massacre: os convites para trabalho minguam, os encaminhamentos de clientes minguam, o desejo de formalizar novos estudos é francamente sabotado (a não ser que o seu QI na Academia seja de primeira).
Não permitir que te diagnostiquem é um ótimo combate... Um exercício, uma ginástica, na qual meu otimismo investe.
Ah, sim: o envelhecimento não roubou meu otimismo, e o Pensamento o realimenta.
Humor é gerúndico. A maioria dos que chegam e dizem 'que não aparento a idade' está na verdade afirmando o quanto se sente ofendido por isso, pelas poucas rugas e banhas que vê; meu humor gerúndico e combativo ri; prá dentro, para não tripudiar.
Otimistas comem bem (comida saudável e muitos livros), malham, conversam com a Natureza, acolhem os mais necessitados, dançam, paqueram, namoram... fazem enfim essas coisas que fazem bem para a pele.
Então nada muda?
Os dentes. Eles caem, não é?
E se não te deixam trabalhar para ganhar dinheiro, não há como repô-los...
Humor, ironia, batalha diária, boa alimentação, malhação, leitura, bem-querer não colocam dentes no lugar.
Mas... já passei por isso. Os de leite também cairam. Outros apareceram.
Well, não vão aparecer novos dentes para substituir esses que caem agora, mas OUTRAS COISAS aparecerão.
E a vida continuará INDO.
Gerúndio não tem ponto final, e minha curiosidade continua acesa prá chuchu; o suficiente para querer ver e experimentar como é que se vai até o tal ponto em que dizem que o gerúndio permite, e não tem data marcada.
PS.: Dentes que caem são pequenos féretros; mas não se diz que para o jogo ser o melhor possível é preciso treinar?...
O chato é o mundo dizendo a você que você morreu, a partir muitas vezes dos 40 anos, e que se não morreu, deveria ter a boa educação de morrer, para dar espaço para outros. No caso de você não se mancar e não morrer, tiram seus empregos, impedem muito sutilmente você de trabalhar e ganhar dinheiro para se sustentar e para se divertir (é claro), e mesmo se for o caso de você ter alguém que o sustente, ou uma aposentadoria daquelas espantosas (de empregos públicos especialmente), deixam BEM claro que você está empatando a vida dos outros que chegaram depois, e empatando a vida do Estado; do Mercado, não, pois esse sempre dá um jeitinho de tirar casquinha.
Foi por aí que enxerguei minha própria 'velhice' ,usando aqui o termo como o diagnóstico de uma doença.
Se não fosse tratada como doença, falaríamos tão somente da passagem do tempo...
Mas QUEREM decretar o 'diagnóstico'.
E começa o massacre: os convites para trabalho minguam, os encaminhamentos de clientes minguam, o desejo de formalizar novos estudos é francamente sabotado (a não ser que o seu QI na Academia seja de primeira).
Não permitir que te diagnostiquem é um ótimo combate... Um exercício, uma ginástica, na qual meu otimismo investe.
Ah, sim: o envelhecimento não roubou meu otimismo, e o Pensamento o realimenta.
Humor é gerúndico. A maioria dos que chegam e dizem 'que não aparento a idade' está na verdade afirmando o quanto se sente ofendido por isso, pelas poucas rugas e banhas que vê; meu humor gerúndico e combativo ri; prá dentro, para não tripudiar.
Otimistas comem bem (comida saudável e muitos livros), malham, conversam com a Natureza, acolhem os mais necessitados, dançam, paqueram, namoram... fazem enfim essas coisas que fazem bem para a pele.
Então nada muda?
Os dentes. Eles caem, não é?
E se não te deixam trabalhar para ganhar dinheiro, não há como repô-los...
Humor, ironia, batalha diária, boa alimentação, malhação, leitura, bem-querer não colocam dentes no lugar.
Mas... já passei por isso. Os de leite também cairam. Outros apareceram.
Well, não vão aparecer novos dentes para substituir esses que caem agora, mas OUTRAS COISAS aparecerão.
E a vida continuará INDO.
Gerúndio não tem ponto final, e minha curiosidade continua acesa prá chuchu; o suficiente para querer ver e experimentar como é que se vai até o tal ponto em que dizem que o gerúndio permite, e não tem data marcada.
PS.: Dentes que caem são pequenos féretros; mas não se diz que para o jogo ser o melhor possível é preciso treinar?...
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
ENSINAMENTOS DE SÊNECA (Por Gonçalo M. Tavares)
Ontem,no Globo, o surpreendente escritor português Gonçalo M. Tavares, que aos 40 anos já publicou 29 livros, deu uma bela entrevista e abordou a questão da morte e do tempo. Compartilho.
Sêneca ensina que temos que agir sabendo que vamos morrer. Quando se está consciente da morte, distingue-se o essencial do acessório. A consciência da morte muda o modo como utilizamos o tempo. Muda a forma como vivemos. " Cartas a Lucílio" são cartas de Sêneca a um aprendiz. A primeira carta fala precisamente do tempo. O aprendiz reclama da falta de tempo. Sêneca diz a ele: " ao invés de se queixar da falta de tempo,vais ver o que é essencial e o que é acessório. E no dia seguinte fazes somente o que é essencial. E assim verás: tens tempo".
Sêneca ensina que temos que agir sabendo que vamos morrer. Quando se está consciente da morte, distingue-se o essencial do acessório. A consciência da morte muda o modo como utilizamos o tempo. Muda a forma como vivemos. " Cartas a Lucílio" são cartas de Sêneca a um aprendiz. A primeira carta fala precisamente do tempo. O aprendiz reclama da falta de tempo. Sêneca diz a ele: " ao invés de se queixar da falta de tempo,vais ver o que é essencial e o que é acessório. E no dia seguinte fazes somente o que é essencial. E assim verás: tens tempo".
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
HÓSPEDE INEVITÁVEL (por Patricia Cicarelli)
“Sentir como uma perda irreparável o acabar de cada dia. Para mim, isso é velhice”
(José Saramago)
O envelhecimento físico é inevitável. Percebo que a maioria das pessoas entende a velhice sob esse fardo fatídico. Não o sinto ainda, porém haverá de me atingir. Quando esse momento chegar, espero aprender como dialogar com ele. No entanto, tenho um olhar paradoxal para essa hóspede irremediável, que vem habitar os sobreviventes. Poderia significar um prêmio, mas ela não nos coloca no podium,mesmo cumprindo a trajetória.
A velhice nos torna ou não vitoriosos? A questão causa-me estranheza.É como se participássemos de uma maratona, para cruzarmos a reta final em último lugar. Se possível fosse, seria bom largar e nunca chegar. Aí sim, seríamos campeões, receberíamos o troféu da eternidade.
Espero que essa envelhescência seja larga para mim, já que só envelhece quem vive além. Avançarei nela sem pressa. Afinal, caminhamos tão rapidamente a juventude!
Não sinto o acabar de cada dia como uma perda irreparável. Passei a festejar o dia que nasce, talvez seja esse o primeiro sintoma da minha velhice. Não faz muito descobri o privilégio de existir, a felicidade gratuita de respirar, andar, falar, rir, chorar, amar. É
esplêndido estar viva. Algum poeta, o qual não me recordo, disse que estar vivo não é normal. Concordo.
Quando eu me sentir velha ou envelhecendo, espero ter mais humor para lidar com os limites do meu corpo. Não pretendo brigar com a minha envelhescência - inevitável.Se ela é condição para continuar viva, irei com ela de mãos dadas. Até lá, na reta final, cuidarei para permanecer saudável, o mais lúcida possível e muito produtiva, me apaixonando, escrevendo, escrevendo e escrevendo.
A experiência de viver nos transforma. Nos faz ser e não apenas estar. Como ganhei a vida de presente, faço por vivê-la com plenitude, cada fase até a última gota. “Ah! Farejo Vida” (Shelley) – é verdadeiramente a minha epígrafe.
(José Saramago)
O envelhecimento físico é inevitável. Percebo que a maioria das pessoas entende a velhice sob esse fardo fatídico. Não o sinto ainda, porém haverá de me atingir. Quando esse momento chegar, espero aprender como dialogar com ele. No entanto, tenho um olhar paradoxal para essa hóspede irremediável, que vem habitar os sobreviventes. Poderia significar um prêmio, mas ela não nos coloca no podium,mesmo cumprindo a trajetória.
A velhice nos torna ou não vitoriosos? A questão causa-me estranheza.É como se participássemos de uma maratona, para cruzarmos a reta final em último lugar. Se possível fosse, seria bom largar e nunca chegar. Aí sim, seríamos campeões, receberíamos o troféu da eternidade.
Espero que essa envelhescência seja larga para mim, já que só envelhece quem vive além. Avançarei nela sem pressa. Afinal, caminhamos tão rapidamente a juventude!
Não sinto o acabar de cada dia como uma perda irreparável. Passei a festejar o dia que nasce, talvez seja esse o primeiro sintoma da minha velhice. Não faz muito descobri o privilégio de existir, a felicidade gratuita de respirar, andar, falar, rir, chorar, amar. É
esplêndido estar viva. Algum poeta, o qual não me recordo, disse que estar vivo não é normal. Concordo.
Quando eu me sentir velha ou envelhecendo, espero ter mais humor para lidar com os limites do meu corpo. Não pretendo brigar com a minha envelhescência - inevitável.Se ela é condição para continuar viva, irei com ela de mãos dadas. Até lá, na reta final, cuidarei para permanecer saudável, o mais lúcida possível e muito produtiva, me apaixonando, escrevendo, escrevendo e escrevendo.
A experiência de viver nos transforma. Nos faz ser e não apenas estar. Como ganhei a vida de presente, faço por vivê-la com plenitude, cada fase até a última gota. “Ah! Farejo Vida” (Shelley) – é verdadeiramente a minha epígrafe.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
PARTE DA VIDA
A morte não é o oposto da vida, mas uma de suas partes constituintes.
Expressa em palavras, torna-se um lugar-comum, mas naquele momento eu não sentia que fossem palavras, e sim uma massa de ar dentro de mim. A morte existe também no interior dos pesos de papéis e das quatro bolas vermelhas e brancas enfileiradas sobre a mesa de bilhar. E nós continuamos a viver exalando-a para dentro de nossos pulmões como uma fina poeira.
(Haruki Murakami - "Norwegian Wood" )
Expressa em palavras, torna-se um lugar-comum, mas naquele momento eu não sentia que fossem palavras, e sim uma massa de ar dentro de mim. A morte existe também no interior dos pesos de papéis e das quatro bolas vermelhas e brancas enfileiradas sobre a mesa de bilhar. E nós continuamos a viver exalando-a para dentro de nossos pulmões como uma fina poeira.
(Haruki Murakami - "Norwegian Wood" )
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Muito além da fronteira
Quando foi que alguém disse que seria fácil? Ela lembrou de um verão distante em que o pai começava a sentir os efeitos do alcool no corpo e na alma. Ele ainda não tinha 50 anos e ela pensava: tadinho, já não aguenta mais as mesmas seis doses de uísque. Está ficando velho....
Naqueles dias a filha tinha diante de si o desafio de ganhar a vida com dignidade e, ainda jovem, sustentar uma criança que desafiava a adolescência que ela, balzaca recente, ainda carregava no coração.
Os anos passaram. O pai morreu. A criança " embalzacou" e a filha em breve poderá ser enquadrada como sexagenária.
Quantas vezes você ouviu pessoas mais velhas comentarem que até hoje se assustam quando olham no espelho e dão de cara com rugas,manchas e cabelos brancos?
Outro dia a filha levou um desses sustos. Estava na rua e queria correr para os braços do marido. Pendurar-se no colo dele.
Refreou-se. Censurou-se. Seria um comportamento apropriado?
Fuck the hell, que porra é essa?
Um lampejo nos olhos e lá foi ela. O companheiro pediu um pouco de calma, respirou fundo e gritou: pode vir!
Ela acreditou e....... tchibum. Os dois sobreviveram.
Quando as travessuras sobrevivem à maturidade a jornada é menos árdua e muito mais divertida. Apesar de tudo.
Naqueles dias a filha tinha diante de si o desafio de ganhar a vida com dignidade e, ainda jovem, sustentar uma criança que desafiava a adolescência que ela, balzaca recente, ainda carregava no coração.
Os anos passaram. O pai morreu. A criança " embalzacou" e a filha em breve poderá ser enquadrada como sexagenária.
Quantas vezes você ouviu pessoas mais velhas comentarem que até hoje se assustam quando olham no espelho e dão de cara com rugas,manchas e cabelos brancos?
Outro dia a filha levou um desses sustos. Estava na rua e queria correr para os braços do marido. Pendurar-se no colo dele.
Refreou-se. Censurou-se. Seria um comportamento apropriado?
Fuck the hell, que porra é essa?
Um lampejo nos olhos e lá foi ela. O companheiro pediu um pouco de calma, respirou fundo e gritou: pode vir!
Ela acreditou e....... tchibum. Os dois sobreviveram.
Quando as travessuras sobrevivem à maturidade a jornada é menos árdua e muito mais divertida. Apesar de tudo.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
TURBULÊNCIA (por Maria Helena Passos)
Como um passageiro de avião que faz o caminho de volta do oeste para o leste pela mesma rota e enxerga o mesmo branco das nuvens pela janela, envelhecer, para mim, nesta meia idade, é muito parecido com a adolescência.
Então, entrei na área de turbulência com hiatos de pura contemplação sem a menor consciência e rodeada quase que exclusivamente por adultos.
Aos 50 anos, me senti empurrada de mulher para coroa a começar o vôo de retorno. Empurrada por grandes perdas afetivas. Mas, sobretudo pelos mais jovens, a uma condição que eu não sentia dentro de mim.
Como dos 9 aos 15, tudo voltou a mudar o tempo todo. Só que na adolescência eu nem pensava na mudança. Agora, não há como não sabê-la. E não pensá-la.
Da janelinha do meu avião meus olhos já não se fixam lá fora com a mesma desatenção de antes. Observo muito mais do ponto de vista das minhas 58 primaveras. Distraio-me menos e contemplo com mais calma as formas das nuvens e as nuances do céu.
A nova perspectiva pode ser menos esfuziante. Mas é mais aconchegante. Sabedoria? Quem sabe. Se for, só digo que o pulo do gato é que agora não como mais comida de avião.
Então, entrei na área de turbulência com hiatos de pura contemplação sem a menor consciência e rodeada quase que exclusivamente por adultos.
Aos 50 anos, me senti empurrada de mulher para coroa a começar o vôo de retorno. Empurrada por grandes perdas afetivas. Mas, sobretudo pelos mais jovens, a uma condição que eu não sentia dentro de mim.
Como dos 9 aos 15, tudo voltou a mudar o tempo todo. Só que na adolescência eu nem pensava na mudança. Agora, não há como não sabê-la. E não pensá-la.
Da janelinha do meu avião meus olhos já não se fixam lá fora com a mesma desatenção de antes. Observo muito mais do ponto de vista das minhas 58 primaveras. Distraio-me menos e contemplo com mais calma as formas das nuvens e as nuances do céu.
A nova perspectiva pode ser menos esfuziante. Mas é mais aconchegante. Sabedoria? Quem sabe. Se for, só digo que o pulo do gato é que agora não como mais comida de avião.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
INVISIBLE (por Anne Nicholson)
It's a subject I have a problem with. I always thought I would die early as in the poem of a friend of the Beatles Roger McGough back in the 60s - "Let me die a young man's death, not a clean between the sheets death ..." And here I am. 61.
One thing I feel about getting older is you become invisible to those around you who are younger. Or people talk down to you like the blind woman Nowell, who died recently at around 80, and when she was on a flight the hostess asked her would she like "uma aguinha" and she replied - No I'd like a double scotch.
I saw my sister recently and she has got into this grannie mode - white hair, shuffling about and asking people to help her with things. I am not ready for that.
In a way, I finally feel at some kind of peace with myself. Gone are the majority of 'angsts' that followed me through life. I have accepted myself for who I am and that makes me happy.
I do feel present society has become obsessed with being fit and having a trim body and no wrinkles and it’s plastic surgery if you don't. That does not interest me - I prefer your Susan Sarandon, Katherine Hepburn to the ridiculous "Plastic Peruas" of the US, Brazil etc. What I do love is to hear/read/see something and not feel my thoughts unworthy on the subject. Feel I passed the better half of my life trying to 'fit in' and now this doesn't bother me. I am me and have reached a state of happiness. Having my son has given me a sense of communication from trying to help another human being through life and growing up, their thoughts, their needs which I never had with my parents. In my family you were on your own the moment you could walk.
I am in the midst of laser treatment on my face (for rosacea) and it's more for making me feel good to have these red veins blitzed and not feel like red faced gringa. Gives me confidence.
One thing I feel about getting older is you become invisible to those around you who are younger. Or people talk down to you like the blind woman Nowell, who died recently at around 80, and when she was on a flight the hostess asked her would she like "uma aguinha" and she replied - No I'd like a double scotch.
I saw my sister recently and she has got into this grannie mode - white hair, shuffling about and asking people to help her with things. I am not ready for that.
In a way, I finally feel at some kind of peace with myself. Gone are the majority of 'angsts' that followed me through life. I have accepted myself for who I am and that makes me happy.
I do feel present society has become obsessed with being fit and having a trim body and no wrinkles and it’s plastic surgery if you don't. That does not interest me - I prefer your Susan Sarandon, Katherine Hepburn to the ridiculous "Plastic Peruas" of the US, Brazil etc. What I do love is to hear/read/see something and not feel my thoughts unworthy on the subject. Feel I passed the better half of my life trying to 'fit in' and now this doesn't bother me. I am me and have reached a state of happiness. Having my son has given me a sense of communication from trying to help another human being through life and growing up, their thoughts, their needs which I never had with my parents. In my family you were on your own the moment you could walk.
I am in the midst of laser treatment on my face (for rosacea) and it's more for making me feel good to have these red veins blitzed and not feel like red faced gringa. Gives me confidence.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
VELHICE (enviado por Rogério Pereira)
A velhice ridicula, porventura, é a mais triste e derradeira surpresa da natureza humana.
Machado de Assis
Machado de Assis
domingo, 7 de novembro de 2010
NADA EM LUGAR NENHUM
Que medo é esse que a pega de surpresa no meio de uma tarde radiante em que caminha pensando na vida?
É um medo que interrompe a reflexão e invade incontáveis células da razão.
brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr....
É o mesmo tremor de uma outra tarde, distante no tempo. Aos 15 anos, no meio de uma aula de francês, ela começa a pensar na morte e em algumas certezas que acreditava ter adquirido:o fim é o mesmo que o nada. E o nada a gente não sente!
Foi tão intensa a experiência de tentar viver esse vazio absoluto que a jovem saiu do ar. Uma espécie de perda de sentidos consciente. E quando foi "despertada" pela professora a imagem que viu, exposta pelo retroprojetor, foi a de uma quadro do pintor francês Diderot. Uma balsa do desespero recheada de seres humanos que tentavam se salvar.
Os anos passaram. A jovem desistiu, aos poucos, de reviver a sensação do "nada em lugar nenhum". E seguiu seu caminho.
Agora, bem mais próxima desse infinito non sense, ainda busca as razões ocultas da ciência evolucionista que nos trouxeram até este final de ano de 2010.
brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr....
O tremor ao olhar no espelho e enxergar os próximos anos.
O calor aconchegante do abraço cúmplice.
A tristeza das despedidas que vão aumentar.
A alegria ao perceber que o desafio e a aventura ainda despertam a mesma vontade de descobrir....
Os planos que não param de brotar.
Até sempre, apesar do infinito non sense.
É um medo que interrompe a reflexão e invade incontáveis células da razão.
brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr....
É o mesmo tremor de uma outra tarde, distante no tempo. Aos 15 anos, no meio de uma aula de francês, ela começa a pensar na morte e em algumas certezas que acreditava ter adquirido:o fim é o mesmo que o nada. E o nada a gente não sente!
Foi tão intensa a experiência de tentar viver esse vazio absoluto que a jovem saiu do ar. Uma espécie de perda de sentidos consciente. E quando foi "despertada" pela professora a imagem que viu, exposta pelo retroprojetor, foi a de uma quadro do pintor francês Diderot. Uma balsa do desespero recheada de seres humanos que tentavam se salvar.
Os anos passaram. A jovem desistiu, aos poucos, de reviver a sensação do "nada em lugar nenhum". E seguiu seu caminho.
Agora, bem mais próxima desse infinito non sense, ainda busca as razões ocultas da ciência evolucionista que nos trouxeram até este final de ano de 2010.
brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr....
O tremor ao olhar no espelho e enxergar os próximos anos.
O calor aconchegante do abraço cúmplice.
A tristeza das despedidas que vão aumentar.
A alegria ao perceber que o desafio e a aventura ainda despertam a mesma vontade de descobrir....
Os planos que não param de brotar.
Até sempre, apesar do infinito non sense.
RECONHECIMENTO (por Silvia Ávila)
Você me pede prá escrever impressões pessoais sobre envelhecimento, o que atualmente vem me deprimindo em função de muitos velhos em volta, cada vez mais dependentes.
Envelhecer, amadurecer, pode ser bom do ponto de vista psicanálitico, mas não é nem um pouco bom numa sociedade que despreza e não valoriza os velhos.
Há um monte de frases feitas perfeitas, tipo gostaria de ter a experiência que tenho hoje com um corpo de 25 anos. Como isso não é possível, só posso dizer que envelhecer, por mais enriquecedor que seja, não vale a pena. Velhos não são reconhecidos profissionalmente e, quando são, acabam mal pagos, porque sempre têm jovens estagiários de plantão.Isso é apenas uma reclamação em função do momento atual.
Por outro lado, não troco um único momento de minha vida, de minha experiência, por qualquer jovem capaz de escrever "pesso" exatamente assim, com dois ss, como tenho visto de forma recorrente. Enfim, já passei das 15 linhas, mas o que posso dizer a respeito é que depois dos 40, 45, se você acorda sem nenhuma dor, continua deitada porque você já morreu!
Nessa altura do campeonato, só quero chegar a ser avó. Ainda estou longe disso, batalhando a formação de minhas filhas, mas é meu projeto de vida: me tornar uma avó, sei lá sobrevivendo de que jeito, e consciente de que não dá prá acordar mais sem dor nenhuma. Ela é inevitável à idade. Fazer o que? Conviver muito bem com tudo isso!
Envelhecer, amadurecer, pode ser bom do ponto de vista psicanálitico, mas não é nem um pouco bom numa sociedade que despreza e não valoriza os velhos.
Há um monte de frases feitas perfeitas, tipo gostaria de ter a experiência que tenho hoje com um corpo de 25 anos. Como isso não é possível, só posso dizer que envelhecer, por mais enriquecedor que seja, não vale a pena. Velhos não são reconhecidos profissionalmente e, quando são, acabam mal pagos, porque sempre têm jovens estagiários de plantão.Isso é apenas uma reclamação em função do momento atual.
Por outro lado, não troco um único momento de minha vida, de minha experiência, por qualquer jovem capaz de escrever "pesso" exatamente assim, com dois ss, como tenho visto de forma recorrente. Enfim, já passei das 15 linhas, mas o que posso dizer a respeito é que depois dos 40, 45, se você acorda sem nenhuma dor, continua deitada porque você já morreu!
Nessa altura do campeonato, só quero chegar a ser avó. Ainda estou longe disso, batalhando a formação de minhas filhas, mas é meu projeto de vida: me tornar uma avó, sei lá sobrevivendo de que jeito, e consciente de que não dá prá acordar mais sem dor nenhuma. Ela é inevitável à idade. Fazer o que? Conviver muito bem com tudo isso!
CONVERSINHA DE VÉIO, SÔ.... (por José Maurício de Oliveira)
Gosto de pensar que a vida é um roteiro que alguém encomenda pra você na base do “senta-e-escreve-aqui-agora”. Assim, pá-puf, primeiro tratamento, primeira pessoa, trama difusa, personagens em processo, viradas ao acaso. Escrita automática.
Aí vem a Tânia e faz a pergunta fatal: e o terceiro ato, como será?
Sei lá, meu! Ainda tô escrevendo. Quando terminar, se não arrancarem a última lauda na marra da Olivetti que não tenho mais, paro pra ler e te conto, tá?
(Enquanto isso, aceito alguma dica sobre como lidar com essa dorzinha pentelha que, de uns tempos pra cá, deu de bicar as juntas, os neurônios e a alma...)
Aí vem a Tânia e faz a pergunta fatal: e o terceiro ato, como será?
Sei lá, meu! Ainda tô escrevendo. Quando terminar, se não arrancarem a última lauda na marra da Olivetti que não tenho mais, paro pra ler e te conto, tá?
(Enquanto isso, aceito alguma dica sobre como lidar com essa dorzinha pentelha que, de uns tempos pra cá, deu de bicar as juntas, os neurônios e a alma...)
sábado, 6 de novembro de 2010
A VOLTA
Demorou. Mas voltei. E como meu último post foi sobre o belíssimo filme A PARTIDA decidi retornar ou ressuscitar com um tema que sempre me interessou: a velhice, o envelhecimento, o ato de envelhecer.
Pedi para que alguns amigos escrevessem sobre o envelhecimento numa sociedade como a nossa. A resposta foi imediata. Mas antes de começar a publicar esses textos quero contar pra vocês por que insisto nesse tema .
Faz algum tempo fui trabalhar com uma turma bastante heterogênea. Habilidades e idades variadas. Um dos big bosses da vez era um cara charmoso, tipo gostosão - há controvérsias - e alguns anos mais novo do que eu. Foi a primeira vez que tive que lidar, de fato, com a sensação da invisibilidade. O tratamento recebido era o da indiferença civilizada, se é que me entendem.É como se, independente do trabalho executado, eu fosse uma figura de linguagem quase em extinção. O cara, já cinquentão, praticava a máxima do " não faço parte dessa turma".
Se não captaram a imagem aguardem alguns poucos ou muitos anos. Para quem já está mais do que maduro, o sentimento não deve ser de todo desconhecido. Ainda mais se for mulher.
Hoje cedo li uma declaração da atriz Maria Alice Vergueiro que, aos 75 anos, diz que " o pior não é envelhecer, é querer continuar jovem. É melancólico tentar manter a mocidade a qualquer preço".
Publico dois textos: o do Ricardo Soares, meu grande amigo e responsável pela minha entrada no mundo blogueiro. O Ric ainda está nos early fifties, mas vive uma crise. E toda dificuldade gera muita reflexão, às vezes até literatura.
A outra reflexão - em inglês - é da Anne, uma amiga escocesa que mora há mais de 30 anos no Brasil. Ela está nos early sixties e faz um relato muito interessante sobre a invisibilidade. Para os interessados, Eric é o filho dela. E a mãe do Marc é a irmã dela.
Então é isso,queridos leitores. Divirtam-se. Se forem muito novinhos mando um recado: não fomos educados para envelhecer. E lidar com a invisibilidade requer bom humor e alguma ironia. Além de alguns tônicos chineses que produzen verdadeiros milagres nas articulações.
Pedi para que alguns amigos escrevessem sobre o envelhecimento numa sociedade como a nossa. A resposta foi imediata. Mas antes de começar a publicar esses textos quero contar pra vocês por que insisto nesse tema .
Faz algum tempo fui trabalhar com uma turma bastante heterogênea. Habilidades e idades variadas. Um dos big bosses da vez era um cara charmoso, tipo gostosão - há controvérsias - e alguns anos mais novo do que eu. Foi a primeira vez que tive que lidar, de fato, com a sensação da invisibilidade. O tratamento recebido era o da indiferença civilizada, se é que me entendem.É como se, independente do trabalho executado, eu fosse uma figura de linguagem quase em extinção. O cara, já cinquentão, praticava a máxima do " não faço parte dessa turma".
Se não captaram a imagem aguardem alguns poucos ou muitos anos. Para quem já está mais do que maduro, o sentimento não deve ser de todo desconhecido. Ainda mais se for mulher.
Hoje cedo li uma declaração da atriz Maria Alice Vergueiro que, aos 75 anos, diz que " o pior não é envelhecer, é querer continuar jovem. É melancólico tentar manter a mocidade a qualquer preço".
Publico dois textos: o do Ricardo Soares, meu grande amigo e responsável pela minha entrada no mundo blogueiro. O Ric ainda está nos early fifties, mas vive uma crise. E toda dificuldade gera muita reflexão, às vezes até literatura.
A outra reflexão - em inglês - é da Anne, uma amiga escocesa que mora há mais de 30 anos no Brasil. Ela está nos early sixties e faz um relato muito interessante sobre a invisibilidade. Para os interessados, Eric é o filho dela. E a mãe do Marc é a irmã dela.
Então é isso,queridos leitores. Divirtam-se. Se forem muito novinhos mando um recado: não fomos educados para envelhecer. E lidar com a invisibilidade requer bom humor e alguma ironia. Além de alguns tônicos chineses que produzen verdadeiros milagres nas articulações.
ENVELHESCÊNCIA É DURA ( por Ricardo Soares)
Envelhecer não é exatamente saber onde se carrega mais (ou menos) no molho da comida nem em que lado da cama definitivamente deva se dormir. Não é crer todo dia na balela da qualidade ao invés da quantidade e nem festejar cabelos que ficam grisalhos ou que minguam enquanto o tempo passa na janela e abaixo dela a juventude , os amores fortuitos, as paixões baratas, os gritos, suores e gemidos e nosso desapego em nos apegarmos a situações provisórias como se fossem definitivas. Envelhecer não é exatamente suave nesses tempos modernos onde não é moderna a “envelhescência”. Aqui ficar mais velho é um nada sutil pedido para que a gente se manque, para que trombeteemos nosso próprio toque de recolher pois o alvorecer é para os mais jovens. Assim é se lhe parece. Assim parece para a maioria que não reconhece no mais velho a experiência, o conhecimento de onde se localizam as minas do caminho. Os jovens querem , enfim, pisar nelas, arcar com suas próprias explosões. Não os culpo. Fui assim, muito de nós fomos assim. No entanto quero , envelhecendo, continuar a me explodir e não a implodir minhas ilusões, ambições e anseios. O velho não cabe nessa publicidade de um mundo jovem e bem resolvido. É isso que não faz sentido e me deixa sentido.
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