Como um passageiro de avião que faz o caminho de volta do oeste para o leste pela mesma rota e enxerga o mesmo branco das nuvens pela janela, envelhecer, para mim, nesta meia idade, é muito parecido com a adolescência.
Então, entrei na área de turbulência com hiatos de pura contemplação sem a menor consciência e rodeada quase que exclusivamente por adultos.
Aos 50 anos, me senti empurrada de mulher para coroa a começar o vôo de retorno. Empurrada por grandes perdas afetivas. Mas, sobretudo pelos mais jovens, a uma condição que eu não sentia dentro de mim.
Como dos 9 aos 15, tudo voltou a mudar o tempo todo. Só que na adolescência eu nem pensava na mudança. Agora, não há como não sabê-la. E não pensá-la.
Da janelinha do meu avião meus olhos já não se fixam lá fora com a mesma desatenção de antes. Observo muito mais do ponto de vista das minhas 58 primaveras. Distraio-me menos e contemplo com mais calma as formas das nuvens e as nuances do céu.
A nova perspectiva pode ser menos esfuziante. Mas é mais aconchegante. Sabedoria? Quem sabe. Se for, só digo que o pulo do gato é que agora não como mais comida de avião.
Nenhum comentário:
Postar um comentário