Não tem sido fácil sentar para escrever. O dia começa às quatro e meia da manhã e termina às nove da noite.
Correria no trabalho, no tempo enorme gasto na viagem de ônibus que me leva de volta ao Leme e uma vontade enorme de relaxar e ler quando finalmente estico o corpinho malhado - não cancelei as idas à academia, muito pelo contrário - na caminha.
E assim voa a semana, de segunda a sexta.
Tinha prometido mais assiduidade para mim mesma. Não tenho conseguido. Mas zapeio virtualmente os blogs de amigos e conhecidos. E agora, no meio do trabalho, aproveito para digitar estas mal traçadas....
Ando triste com a notícia de que uma grande amiga está doente de novo. Um tumor danado de teimoso que reapareceu e precisa ser combatido.
Fico contente porque outro grande amigo resiste bravamente e luta contra o câncer.
Também fico pasma com a insistência da imprensa em relação ao câncer do nosso vice-presidente. Ele diz que está bem, os repórteres afirmam que não. E eu pergunto: é absolutamente necessário questionar publicamente - e seguidamente - o vice-presidente da República sobre sua doença pública e notória? Todos não sabemos que José Alencar é um sobrevivente e luta para viver seus dias com dignidade?
Não sei se o número de casos de câncer aumentou nos últimos anos ou se a medicina evoluiu tanto que agora os tumores são mais facilmente detectáveis. O fato é que a doença, insidiosa, cresce silenciosamente entre as várias camadas da população. As estatísticas mostram que morrer do coração ainda é mais comum. Mas o câncer, sem dúvida nenhuma, tem provocado estragos sem fim. Amigos, homens e mulheres públicos lutam para viver.
Que todos sobrevivam a doença, ao medo e a dor. E continuem conosco por muito tempo ainda.
Meu carinho e afeto especial para minha grande amiga. Que ela sinta o meu abraço apertado e o meu beijo estalado.
Escrever sobre cinema e sobre a vida que corre solta mantém meus olhos abertos enquanto o futuro invade, maroto, a minha praia.
quarta-feira, 13 de maio de 2009
segunda-feira, 4 de maio de 2009
O envelhecer de Caetano Veloso
Que mistificação é essa que a indústria de consumo imediato faz da velhice?
Não bastassem as agruras naturais do envelhecer somos obrigados a ler, todos os dias, notas e notícias que ou glamurizam estupidamente a terceira, quarta e quinta idades ............ou enchem de aspectos negativos uma etapa inexorável da vida de todos nós.
Duas entrevistas me chamaram a atenção neste final de semana. A primeira foi a do grande jornalista Gay Talese, 77 anos, que vai lançar um livro sobre os seus 50 anos de casamento com a mesma mulher. Talese tratou de explicar rapidamente que não se deve acreditar nas besteiras publicadas sobre sexo na velhice. Disse que as pessoas mais velhas sentem tesão sim senhor e gostam de fazer sexo. Engraçado como, lá no fundo, ficamos incomodados com a imagem de dois corpos flácidos e com rugas encostando um no outro...... Aprendemos a olhar com avidez para os corpos durinhos e malhados da juventude ou, no máximo, de quarentonas lipoaspiradas e botoxicadas.
O outro entrevistado que falou curto e grosso sobre o envelhecer foi Caetano Veloso. Está na Revista de Domingo do jornal O Globo. A pergunta da repórter é esclarecedora e tem a ver com o que escrevi ali em cima: " No seu blog você declarou que está entrando na velhice. É engraçado porque você é muito jovem". E a resposta de Caetano: " Não sou. Eu, de fato, tenho 66 anos".
Impressionante o entrevistado ter que responder isso, né não?
É como se o fato da cabeça continuar a funcionar com agilidade, talento e dinamismo fossem atributos distantes e impossíveis para quem já atingiu um certa idade.....
Se a pessoa pensa, não se conforma com babaquices e ainda bota pra fora desejos e fantasias..........então ela é jovem........de alma!?!?!
A repórter insistiu: "Na sua alma você tem 66 anos?"
E nosso bahiano compositor explicou que não acredita em alma e que o nosso organismo simplesmente envelhece. Os olhos enxergam menos e a pele, por exemplo, não é mais a mesma da juventude. Isso é envelhecer.
Insatisfeita com a resposta, a jornalista fez a terceira pergunta, um exemplo claro da lavagem cerebral a que somos submetidos desde muito pequenos: se a alma é jovem o corpo não envelhece....
Piada de péssimo gosto.
A terceira pergunta: " isso entra em contraste com o que você pensa e sente? "
Foi então que Caê resolveu dizer o que pensa e sente. Disse que não está horrivelmente incomodado e nem infeliz por causa da velhice. " Acho muito ruim as pessoas depositarem todas as idéias negativas a respeito da vida e do sentimento do mundo na velhice. Muitas vezes o período mais infeliz da vida de uma pessoa foi aos 20 anos. Ela pode ter 85 e ainda estar feliz de ter superado o que superou aos 20, e ainda por cima feliz por outras realizações que teve aos 60, e pode morrer feliz. ... Não se pode botar tudo na conta da velhice. Mas não se pode negar a decadência natural que ela implica. Essa coisa de dizer que se o espírito é jovem então a pessoa não é velha, eu não entendo. "
Dez pontos para Caetano aqui na minha modesta avaliação.
Quantas vezes a gente ouve pessoas de 70 anos dizendo que não são velhas porque o espírito continua adolescente?
É ótimo que os velhos e velhas continuem lépidos e fogosos. Mas misturar espírito com físico é um pouco demais. Ainda Caetano: " Não estou dizendo que não haja distinção entre o espírito e o corpo. Há. Mas não existe espírito sem corpo. A velhice é um acontecimento fatal pra todo mundo, que modula a vida espiritual de uma forma ou de outra. Afirmar uma vivência interna de juventude é um sinal de movimentação do espírito para se adaptar à velhice".
Mais vinte pontos pra Caetano.
No melhor do papo, a entrevistadora mudou de assunto ou então editou (cortou) a resposta sobre a velhice. Eu, apaixonada sobre essas questões do envelhecer, achei uma pena. Mas acho a contribuição de Caetano mais do que importante. Ele tem 66 anos, é um senhor de passado libertário e "experimentador" e atravessa a vida sem se fantasiar de adolescente.
Se você mora no Rio de Janeiro, dê uma volta no calçadão. Alguns velhos continuam acreditando que o espírito jovem não deixa o corpo envelhecer. E se transformaram em caricaturas patéticas de si mesmos.
Não bastassem as agruras naturais do envelhecer somos obrigados a ler, todos os dias, notas e notícias que ou glamurizam estupidamente a terceira, quarta e quinta idades ............ou enchem de aspectos negativos uma etapa inexorável da vida de todos nós.
Duas entrevistas me chamaram a atenção neste final de semana. A primeira foi a do grande jornalista Gay Talese, 77 anos, que vai lançar um livro sobre os seus 50 anos de casamento com a mesma mulher. Talese tratou de explicar rapidamente que não se deve acreditar nas besteiras publicadas sobre sexo na velhice. Disse que as pessoas mais velhas sentem tesão sim senhor e gostam de fazer sexo. Engraçado como, lá no fundo, ficamos incomodados com a imagem de dois corpos flácidos e com rugas encostando um no outro...... Aprendemos a olhar com avidez para os corpos durinhos e malhados da juventude ou, no máximo, de quarentonas lipoaspiradas e botoxicadas.
O outro entrevistado que falou curto e grosso sobre o envelhecer foi Caetano Veloso. Está na Revista de Domingo do jornal O Globo. A pergunta da repórter é esclarecedora e tem a ver com o que escrevi ali em cima: " No seu blog você declarou que está entrando na velhice. É engraçado porque você é muito jovem". E a resposta de Caetano: " Não sou. Eu, de fato, tenho 66 anos".
Impressionante o entrevistado ter que responder isso, né não?
É como se o fato da cabeça continuar a funcionar com agilidade, talento e dinamismo fossem atributos distantes e impossíveis para quem já atingiu um certa idade.....
Se a pessoa pensa, não se conforma com babaquices e ainda bota pra fora desejos e fantasias..........então ela é jovem........de alma!?!?!
A repórter insistiu: "Na sua alma você tem 66 anos?"
E nosso bahiano compositor explicou que não acredita em alma e que o nosso organismo simplesmente envelhece. Os olhos enxergam menos e a pele, por exemplo, não é mais a mesma da juventude. Isso é envelhecer.
Insatisfeita com a resposta, a jornalista fez a terceira pergunta, um exemplo claro da lavagem cerebral a que somos submetidos desde muito pequenos: se a alma é jovem o corpo não envelhece....
Piada de péssimo gosto.
A terceira pergunta: " isso entra em contraste com o que você pensa e sente? "
Foi então que Caê resolveu dizer o que pensa e sente. Disse que não está horrivelmente incomodado e nem infeliz por causa da velhice. " Acho muito ruim as pessoas depositarem todas as idéias negativas a respeito da vida e do sentimento do mundo na velhice. Muitas vezes o período mais infeliz da vida de uma pessoa foi aos 20 anos. Ela pode ter 85 e ainda estar feliz de ter superado o que superou aos 20, e ainda por cima feliz por outras realizações que teve aos 60, e pode morrer feliz. ... Não se pode botar tudo na conta da velhice. Mas não se pode negar a decadência natural que ela implica. Essa coisa de dizer que se o espírito é jovem então a pessoa não é velha, eu não entendo. "
Dez pontos para Caetano aqui na minha modesta avaliação.
Quantas vezes a gente ouve pessoas de 70 anos dizendo que não são velhas porque o espírito continua adolescente?
É ótimo que os velhos e velhas continuem lépidos e fogosos. Mas misturar espírito com físico é um pouco demais. Ainda Caetano: " Não estou dizendo que não haja distinção entre o espírito e o corpo. Há. Mas não existe espírito sem corpo. A velhice é um acontecimento fatal pra todo mundo, que modula a vida espiritual de uma forma ou de outra. Afirmar uma vivência interna de juventude é um sinal de movimentação do espírito para se adaptar à velhice".
Mais vinte pontos pra Caetano.
No melhor do papo, a entrevistadora mudou de assunto ou então editou (cortou) a resposta sobre a velhice. Eu, apaixonada sobre essas questões do envelhecer, achei uma pena. Mas acho a contribuição de Caetano mais do que importante. Ele tem 66 anos, é um senhor de passado libertário e "experimentador" e atravessa a vida sem se fantasiar de adolescente.
Se você mora no Rio de Janeiro, dê uma volta no calçadão. Alguns velhos continuam acreditando que o espírito jovem não deixa o corpo envelhecer. E se transformaram em caricaturas patéticas de si mesmos.
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Dilma e o tempo ....
A notícia caiu como uma bomba. E os jornalistas das grandes publicações devem estar discutindo até agora. É que ninguém deu a notícia da cirurgia de nossa ministra três semanas atrás.
Ela mesma veio a público e, junto com a equipe médica, mandou ver.
Será que a doença e a quimioterapia vão abalar a campanha de Dilma?
Enquanto governo e oposição fazem suposições não seria interessante pensarmos no que pode acontecer de bom a essa mulher de 61 anos que trabalha 24 horas por dia e é conhecida pelo seu jeito " masculino" de ser?
Eu sinceramente desejo que dona Dilma aproveite o tempo da quimioterapia e o tempo de repouso para refletir sobre..... o tempo.
O tempo que ela terá para se olhar no espelho e encontrar, dentro dela, o lado feminino que quer e precisa aparecer. Cirurgia plástica é uma coisa. Mudança estrutural outra bem diferente.
Torço para que a ministra mais poderosa do governo Lula reserve um tempo significativo para refletir sobre o poder, a corrupção, a compaixão, o escrúpulo, a inveja e a desonestidade.
E que no final de todo o processo, quando estiver curada, olhe no rosto de todos os brasileiros e assuma: " Gente, sarei e mudei pra melhor. De agora em diante vou agir com todos vocês como fiz no anúncio da minha doença: transparência total" .
Sorte, Dilma, e muita força!
Ela mesma veio a público e, junto com a equipe médica, mandou ver.
Será que a doença e a quimioterapia vão abalar a campanha de Dilma?
Enquanto governo e oposição fazem suposições não seria interessante pensarmos no que pode acontecer de bom a essa mulher de 61 anos que trabalha 24 horas por dia e é conhecida pelo seu jeito " masculino" de ser?
Eu sinceramente desejo que dona Dilma aproveite o tempo da quimioterapia e o tempo de repouso para refletir sobre..... o tempo.
O tempo que ela terá para se olhar no espelho e encontrar, dentro dela, o lado feminino que quer e precisa aparecer. Cirurgia plástica é uma coisa. Mudança estrutural outra bem diferente.
Torço para que a ministra mais poderosa do governo Lula reserve um tempo significativo para refletir sobre o poder, a corrupção, a compaixão, o escrúpulo, a inveja e a desonestidade.
E que no final de todo o processo, quando estiver curada, olhe no rosto de todos os brasileiros e assuma: " Gente, sarei e mudei pra melhor. De agora em diante vou agir com todos vocês como fiz no anúncio da minha doença: transparência total" .
Sorte, Dilma, e muita força!
sexta-feira, 24 de abril de 2009
SÃO JORGE EM CLIMA DE GUERRA
O Rio de Janeiro e o Brasil católico são devotos de São Jorge. Mas no Rio de Janeiro essa devoção virou até feriado. Nada contra. Mas vai ser muito bom se o dia 23 de abril, pertinho de outro feriado, voltar a ser um dia normal por aqui. A fé prescinde do feriado.
Ou não?
A cidade maravilhosa, assustada e anestesiada pela violência, reage pouco ao abuso e à agressividade de alguns cidadãos. Ontem, no meio da multidão, um homem jovem ameaçava, com um fuzil, os milhares de devotos de São Jorge que tentavam homenagem ao santo guerreiro, no bairro de Curicica. Em cima de uma viatura policial, mas em trajes civis, ele reinava absoluto sobre a platéia indiferente.
Indiferente?
É isso mesmo. Na foto que vi e que ainda não encontrei na internet, as pessoas aparentemente ignoram o homem armado. O fuzil, a milícia e o abuso já foram incorporados à paisagem urbana da nossa cidade.
Para onde estamos indo?
Ou não?
A cidade maravilhosa, assustada e anestesiada pela violência, reage pouco ao abuso e à agressividade de alguns cidadãos. Ontem, no meio da multidão, um homem jovem ameaçava, com um fuzil, os milhares de devotos de São Jorge que tentavam homenagem ao santo guerreiro, no bairro de Curicica. Em cima de uma viatura policial, mas em trajes civis, ele reinava absoluto sobre a platéia indiferente.
Indiferente?
É isso mesmo. Na foto que vi e que ainda não encontrei na internet, as pessoas aparentemente ignoram o homem armado. O fuzil, a milícia e o abuso já foram incorporados à paisagem urbana da nossa cidade.
Para onde estamos indo?
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Doutora Miserável
O final de semana chuvoso foi em João Pessoa.
Nas ruas, a pobreza de sempre. A ostentação, no Nordeste, é ainda mais agressiva do que por aqui, no sudeste maravilha.
Eu caminhava devagar, desligada, quando ouvi alguém me chamar: doutora, doutora, me dá uma ajuda? Não prestei atenção. Olhei de lado, vi o menininho, mas continuei a caminhar.
E de novo a vozinha, agora bem mais alta: doutora miserável! doutora miserável!
No Nordeste somos doutores e doutoras aos olhos de quem tem menos.
Fiquei fula da vida, olhei para o garoto. Junto com ele estavam um velhinho, uma carroça e um burro que comia cascas de melancia.
O velhinho permanecia em silêncio. No rosto, a expressão dos sábios que povoam os livros de autoajuda.
Olhou surpreso quando berrei de volta para o menino: que miserável que nada, apenas estou com pressa.... E depois voltou para o burro e para as melancias.
Fui até onde tinha que ir, fiz compras e tomei um café. Incomodada com minha reação e com o miserável que não parava de ecoar....
Na volta, o molequinho continuava lá. Agora deitado sobre a calçada, olhos fechados. O velhinho ajeitava algumas coisas na carroça.
Tirei um dinheiro da bolsa e me aproximei do velho. Ia deixar de ser miserável sem acordar o menino.
Mas ele acordou. E me olhou. Fui até ele e dei o dinheiro. E ainda disse: não sou tão miserável assim....
Patético?
O garoto levantou e se pendurou em mim. Beijou meu rosto e meu pescoço enquanto pedia desculpas. Desculpa, doutora. Desculpa, doutora.....
Abracei ele apertado.
Nas ruas, a pobreza de sempre. A ostentação, no Nordeste, é ainda mais agressiva do que por aqui, no sudeste maravilha.
Eu caminhava devagar, desligada, quando ouvi alguém me chamar: doutora, doutora, me dá uma ajuda? Não prestei atenção. Olhei de lado, vi o menininho, mas continuei a caminhar.
E de novo a vozinha, agora bem mais alta: doutora miserável! doutora miserável!
No Nordeste somos doutores e doutoras aos olhos de quem tem menos.
Fiquei fula da vida, olhei para o garoto. Junto com ele estavam um velhinho, uma carroça e um burro que comia cascas de melancia.
O velhinho permanecia em silêncio. No rosto, a expressão dos sábios que povoam os livros de autoajuda.
Olhou surpreso quando berrei de volta para o menino: que miserável que nada, apenas estou com pressa.... E depois voltou para o burro e para as melancias.
Fui até onde tinha que ir, fiz compras e tomei um café. Incomodada com minha reação e com o miserável que não parava de ecoar....
Na volta, o molequinho continuava lá. Agora deitado sobre a calçada, olhos fechados. O velhinho ajeitava algumas coisas na carroça.
Tirei um dinheiro da bolsa e me aproximei do velho. Ia deixar de ser miserável sem acordar o menino.
Mas ele acordou. E me olhou. Fui até ele e dei o dinheiro. E ainda disse: não sou tão miserável assim....
Patético?
O garoto levantou e se pendurou em mim. Beijou meu rosto e meu pescoço enquanto pedia desculpas. Desculpa, doutora. Desculpa, doutora.....
Abracei ele apertado.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
A MORTE NÃO PEDE CARONA
No final de semana morreu a ex-mulher de um amigo.
Ela foi baleada no rosto, assassinada durante uma tentativa de assalto no bairro carioca de Bonsucesso. Assustada, pisou na embreagem em vez de frear o carro. O tranco assustou o bandido. O revólver disparou. E lá se foi uma jovem mulher, mãe de três filhas.
Nunca fomos próximas. Mas acompanhei com atenção a batalha dela pela sobrevivência e pela educação das filhas. E dei uma força quando ela quis aprender a dirigir.
Ela estava ao volante quando foi morta.
Será, será, será.................?
Foi também no final de semana que a tia de uma outra amiga caiu no golpe do sequestro via celular. Ficou horas negociando com os falsos sequestradores. Acabou levando jóias e dinheiro para o local determinado por eles. Perdeu tudo. E só depois entendeu que tudo não passou de uma pegadinha....
Faz tempo que a vida parou de ter valor no Rio de Janeiro e em outras tantas cidades do Brasil.
A morte ronda as esquinas com petulância.
O que ainda falta acontecer para que todos, juntos, declaremos estado de calamidade pública na capital mais bonita do país?
É normal voltar pra casa e pensar: "ufa, mais um dia sobrevivido na Faixa de Gaza Tupiniquim" ?
Para onde estamos indo?
Ela foi baleada no rosto, assassinada durante uma tentativa de assalto no bairro carioca de Bonsucesso. Assustada, pisou na embreagem em vez de frear o carro. O tranco assustou o bandido. O revólver disparou. E lá se foi uma jovem mulher, mãe de três filhas.
Nunca fomos próximas. Mas acompanhei com atenção a batalha dela pela sobrevivência e pela educação das filhas. E dei uma força quando ela quis aprender a dirigir.
Ela estava ao volante quando foi morta.
Será, será, será.................?
Foi também no final de semana que a tia de uma outra amiga caiu no golpe do sequestro via celular. Ficou horas negociando com os falsos sequestradores. Acabou levando jóias e dinheiro para o local determinado por eles. Perdeu tudo. E só depois entendeu que tudo não passou de uma pegadinha....
Faz tempo que a vida parou de ter valor no Rio de Janeiro e em outras tantas cidades do Brasil.
A morte ronda as esquinas com petulância.
O que ainda falta acontecer para que todos, juntos, declaremos estado de calamidade pública na capital mais bonita do país?
É normal voltar pra casa e pensar: "ufa, mais um dia sobrevivido na Faixa de Gaza Tupiniquim" ?
Para onde estamos indo?
sábado, 11 de abril de 2009
Crueldade na padaria
O rosto deveria ser inexplorável, quase inexpressivo. Mas no olhar fixo e sem piscadas o ódio era intenso. Aquele era um homem jovem, alto e magro. Um ser humano que poderia simplesmente fazer parte daquele cenário. Mas.......
Praticamente empurrou o rapaz para fora do estabelecimento. O ato de expulsar não foi explicitamente violento. A pressão dos dedos da mão sobre as carnes do indesejado não deixou dúvidas. Aquele homem jovem, alto e magro era um ser humano diferente. Poderia fazer parte de qualquer esquadrão - da morte, da milícia, do tráfico ou do colarinho branco.
Na rua, encostado numa parede, o dono do olhar cruel tentava se confundir com a paisagem. Aparentemente tranquilo. O corpo, no entanto, transpirava maldade. O objeto indesejado, agora do lado de fora do estabelecimento, ainda continuava por ali à espera de gestos de compaixão e boa vontade.
Fui em direção ao pedinte. Sabia que ele aguardava apenas o que chamaria, mais tarde, de caridade. Depositei algumas moedas na palma da mão encardida.
Antes de seguir o meu caminho, não sei por que fui até o homem, suposto segurança do local. O olhar era o mesmo. A voz saiu baixa quando falei que senti pena do sem-teto e resolvi dar-lhe algum dinheiro. Nem assim ele me encarou. Baixou a vista e ajeitou a cabeça, para em seguida focalizar novamente o objeto rejeitado. Senti a frieza do ódio depois de alguns passos. Virei para trás e rapidamente nossos olhos se cruzaram.
O baixo astral provoca arrepios. A maldade, calafrios. Incrível mesmo é que tudo isso aconteça numa manhã linda, de céu azul e gorjeios variados. E dentro de uma padaria.
Para onde estamos indo?
Praticamente empurrou o rapaz para fora do estabelecimento. O ato de expulsar não foi explicitamente violento. A pressão dos dedos da mão sobre as carnes do indesejado não deixou dúvidas. Aquele homem jovem, alto e magro era um ser humano diferente. Poderia fazer parte de qualquer esquadrão - da morte, da milícia, do tráfico ou do colarinho branco.
Na rua, encostado numa parede, o dono do olhar cruel tentava se confundir com a paisagem. Aparentemente tranquilo. O corpo, no entanto, transpirava maldade. O objeto indesejado, agora do lado de fora do estabelecimento, ainda continuava por ali à espera de gestos de compaixão e boa vontade.
Fui em direção ao pedinte. Sabia que ele aguardava apenas o que chamaria, mais tarde, de caridade. Depositei algumas moedas na palma da mão encardida.
Antes de seguir o meu caminho, não sei por que fui até o homem, suposto segurança do local. O olhar era o mesmo. A voz saiu baixa quando falei que senti pena do sem-teto e resolvi dar-lhe algum dinheiro. Nem assim ele me encarou. Baixou a vista e ajeitou a cabeça, para em seguida focalizar novamente o objeto rejeitado. Senti a frieza do ódio depois de alguns passos. Virei para trás e rapidamente nossos olhos se cruzaram.
O baixo astral provoca arrepios. A maldade, calafrios. Incrível mesmo é que tudo isso aconteça numa manhã linda, de céu azul e gorjeios variados. E dentro de uma padaria.
Para onde estamos indo?
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