segunda-feira, 8 de novembro de 2010

domingo, 7 de novembro de 2010

NADA EM LUGAR NENHUM

Que medo é esse que a pega de surpresa no meio de uma tarde radiante em que caminha pensando na vida?
É um medo que interrompe a reflexão e invade incontáveis células da razão.
brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr....
É o mesmo tremor de uma outra tarde, distante no tempo. Aos 15 anos, no meio de uma aula de francês, ela começa a pensar na morte e em algumas certezas que acreditava ter adquirido:o fim é o mesmo que o nada. E o nada a gente não sente!
Foi tão intensa a experiência de tentar viver esse vazio absoluto que a jovem saiu do ar. Uma espécie de perda de sentidos consciente. E quando foi "despertada" pela professora a imagem que viu, exposta pelo retroprojetor, foi a de uma quadro do pintor francês Diderot. Uma balsa do desespero recheada de seres humanos que tentavam se salvar.
Os anos passaram. A jovem desistiu, aos poucos, de reviver a sensação do "nada em lugar nenhum". E seguiu seu caminho.
Agora, bem mais próxima desse infinito non sense, ainda busca as razões ocultas da ciência evolucionista que nos trouxeram até este final de ano de 2010.
brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr....
O tremor ao olhar no espelho e enxergar os próximos anos.
O calor aconchegante do abraço cúmplice.
A tristeza das despedidas que vão aumentar.
A alegria ao perceber que o desafio e a aventura ainda despertam a mesma vontade de descobrir....
Os planos que não param de brotar.
Até sempre, apesar do infinito non sense.

RECONHECIMENTO (por Silvia Ávila)

Você me pede prá escrever impressões pessoais sobre envelhecimento, o que atualmente vem me deprimindo em função de muitos velhos em volta, cada vez mais dependentes.
Envelhecer, amadurecer, pode ser bom do ponto de vista psicanálitico, mas não é nem um pouco bom numa sociedade que despreza e não valoriza os velhos.
Há um monte de frases feitas perfeitas, tipo gostaria de ter a experiência que tenho hoje com um corpo de 25 anos. Como isso não é possível, só posso dizer que envelhecer, por mais enriquecedor que seja, não vale a pena. Velhos não são reconhecidos profissionalmente e, quando são, acabam mal pagos, porque sempre têm jovens estagiários de plantão.Isso é apenas uma reclamação em função do momento atual.
Por outro lado, não troco um único momento de minha vida, de minha experiência, por qualquer jovem capaz de escrever "pesso" exatamente assim, com dois ss, como tenho visto de forma recorrente. Enfim, já passei das 15 linhas, mas o que posso dizer a respeito é que depois dos 40, 45, se você acorda sem nenhuma dor, continua deitada porque você já morreu!
Nessa altura do campeonato, só quero chegar a ser avó. Ainda estou longe disso, batalhando a formação de minhas filhas, mas é meu projeto de vida: me tornar uma avó, sei lá sobrevivendo de que jeito, e consciente de que não dá prá acordar mais sem dor nenhuma. Ela é inevitável à idade. Fazer o que? Conviver muito bem com tudo isso!

CONVERSINHA DE VÉIO, SÔ.... (por José Maurício de Oliveira)

Gosto de pensar que a vida é um roteiro que alguém encomenda pra você na base do “senta-e-escreve-aqui-agora”. Assim, pá-puf, primeiro tratamento, primeira pessoa, trama difusa, personagens em processo, viradas ao acaso. Escrita automática.
Aí vem a Tânia e faz a pergunta fatal: e o terceiro ato, como será?
Sei lá, meu! Ainda tô escrevendo. Quando terminar, se não arrancarem a última lauda na marra da Olivetti que não tenho mais, paro pra ler e te conto, tá?

(Enquanto isso, aceito alguma dica sobre como lidar com essa dorzinha pentelha que, de uns tempos pra cá, deu de bicar as juntas, os neurônios e a alma...)

sábado, 6 de novembro de 2010

A VOLTA

Demorou. Mas voltei. E como meu último post foi sobre o belíssimo filme A PARTIDA decidi retornar ou ressuscitar com um tema que sempre me interessou: a velhice, o envelhecimento, o ato de envelhecer.
Pedi para que alguns amigos escrevessem sobre o envelhecimento numa sociedade como a nossa. A resposta foi imediata. Mas antes de começar a publicar esses textos quero contar pra vocês por que insisto nesse tema .
Faz algum tempo fui trabalhar com uma turma bastante heterogênea. Habilidades e idades variadas. Um dos big bosses da vez era um cara charmoso, tipo gostosão - há controvérsias - e alguns anos mais novo do que eu. Foi a primeira vez que tive que lidar, de fato, com a sensação da invisibilidade. O tratamento recebido era o da indiferença civilizada, se é que me entendem.É como se, independente do trabalho executado, eu fosse uma figura de linguagem quase em extinção. O cara, já cinquentão, praticava a máxima do " não faço parte dessa turma".
Se não captaram a imagem aguardem alguns poucos ou muitos anos. Para quem já está mais do que maduro, o sentimento não deve ser de todo desconhecido. Ainda mais se for mulher.
Hoje cedo li uma declaração da atriz Maria Alice Vergueiro que, aos 75 anos, diz que " o pior não é envelhecer, é querer continuar jovem. É melancólico tentar manter a mocidade a qualquer preço".

Publico dois textos: o do Ricardo Soares, meu grande amigo e responsável pela minha entrada no mundo blogueiro. O Ric ainda está nos early fifties, mas vive uma crise. E toda dificuldade gera muita reflexão, às vezes até literatura.
A outra reflexão - em inglês - é da Anne, uma amiga escocesa que mora há mais de 30 anos no Brasil. Ela está nos early sixties e faz um relato muito interessante sobre a invisibilidade. Para os interessados, Eric é o filho dela. E a mãe do Marc é a irmã dela.

Então é isso,queridos leitores. Divirtam-se. Se forem muito novinhos mando um recado: não fomos educados para envelhecer. E lidar com a invisibilidade requer bom humor e alguma ironia. Além de alguns tônicos chineses que produzen verdadeiros milagres nas articulações.

ENVELHESCÊNCIA É DURA ( por Ricardo Soares)

Envelhecer não é exatamente saber onde se carrega mais (ou menos) no molho da comida nem em que lado da cama definitivamente deva se dormir. Não é crer todo dia na balela da qualidade ao invés da quantidade e nem festejar cabelos que ficam grisalhos ou que minguam enquanto o tempo passa na janela e abaixo dela a juventude , os amores fortuitos, as paixões baratas, os gritos, suores e gemidos e nosso desapego em nos apegarmos a situações provisórias como se fossem definitivas. Envelhecer não é exatamente suave nesses tempos modernos onde não é moderna a “envelhescência”. Aqui ficar mais velho é um nada sutil pedido para que a gente se manque, para que trombeteemos nosso próprio toque de recolher pois o alvorecer é para os mais jovens. Assim é se lhe parece. Assim parece para a maioria que não reconhece no mais velho a experiência, o conhecimento de onde se localizam as minas do caminho. Os jovens querem , enfim, pisar nelas, arcar com suas próprias explosões. Não os culpo. Fui assim, muito de nós fomos assim. No entanto quero , envelhecendo, continuar a me explodir e não a implodir minhas ilusões, ambições e anseios. O velho não cabe nessa publicidade de um mundo jovem e bem resolvido. É isso que não faz sentido e me deixa sentido.

domingo, 14 de junho de 2009

A partida


Apareço, escrevo, digo oi para todos no dia em que a parada Gay de São Paulo reúne, como sempre, milhões de pessoas.
Escrevo quando os corpos do airbus 330 esperam, irreconhecíveis, pela identificação e o quebra-cabeça da tragédia começa a se resolver.

Digo oi neste 14 de junho friorento do Rio de Janeiro para comentar sobre um dos filmes mais delicados e brilhantes que assisti nos últimos tempos. A PARTIDA, uma obra prima com trilha sonora ocidental - lindíssima - e roteiro genialmente oriental.

Grudei na cadeira do cinema durante duas horas. Primeiro, pelo prazer de constatar que em matéria de cinema os japoneses nos surpreendem sempre. Segundo porque um roteiro como o de A PARTIDA (ou AS PARTIDAS, se formos pela cadência do filme) nunca poderia ser escrito por mãos e cérebros ocidentais.

Como partimos deste mundo? Pela mão de quem? E o que deixamos depois da partida? Qual é a nossa relação com esse último suspiro - o dos outros e o nosso?
Não vou estragar a surpresa dos que ainda não se aventuraram nas partidas mais do que contemporâneas de Yojiro Takita. Só vou dizer que a cada minuto você se surpreende com o talento dos atores, com o enredo que se torna complexo sem ficar intransponível e, finalmente, com o vulcão de emoções aparentemente reprimidas pela tradição e cultura japonesas.
Não, o filme não tem gueixas entre os personagens. Estamos no Japão de 2008, em plena crise econômica.

É cinema radicalmente oriental, mas nós, tupiniquins, nos sentimos muito próximos da trama. O filme fala com a morte. Dialoga com todos nós. Mesmo assim, as lágrimas que escorrerão pelo seu rosto terão nascido em alguma cidadezinha distante, na terra do sol nascente.
Prepare-se para o violoncelo e para a Ave Maria. Isso mesmo. A tradição é deles, a música é universal. A emoção é de todos nós.