O negócio é aguentar no gerúndio, essa santa bóia de salvação verbal, que nos mantém INDO, mesmo que a gente inevitavelmente SAIBA para ONDE; nele, passado e presente vibram com energia, coragem, motor; com a vida da Vida SENDO, e pronto.
O chato é o mundo dizendo a você que você morreu, a partir muitas vezes dos 40 anos, e que se não morreu, deveria ter a boa educação de morrer, para dar espaço para outros. No caso de você não se mancar e não morrer, tiram seus empregos, impedem muito sutilmente você de trabalhar e ganhar dinheiro para se sustentar e para se divertir (é claro), e mesmo se for o caso de você ter alguém que o sustente, ou uma aposentadoria daquelas espantosas (de empregos públicos especialmente), deixam BEM claro que você está empatando a vida dos outros que chegaram depois, e empatando a vida do Estado; do Mercado, não, pois esse sempre dá um jeitinho de tirar casquinha.
Foi por aí que enxerguei minha própria 'velhice' ,usando aqui o termo como o diagnóstico de uma doença.
Se não fosse tratada como doença, falaríamos tão somente da passagem do tempo...
Mas QUEREM decretar o 'diagnóstico'.
E começa o massacre: os convites para trabalho minguam, os encaminhamentos de clientes minguam, o desejo de formalizar novos estudos é francamente sabotado (a não ser que o seu QI na Academia seja de primeira).
Não permitir que te diagnostiquem é um ótimo combate... Um exercício, uma ginástica, na qual meu otimismo investe.
Ah, sim: o envelhecimento não roubou meu otimismo, e o Pensamento o realimenta.
Humor é gerúndico. A maioria dos que chegam e dizem 'que não aparento a idade' está na verdade afirmando o quanto se sente ofendido por isso, pelas poucas rugas e banhas que vê; meu humor gerúndico e combativo ri; prá dentro, para não tripudiar.
Otimistas comem bem (comida saudável e muitos livros), malham, conversam com a Natureza, acolhem os mais necessitados, dançam, paqueram, namoram... fazem enfim essas coisas que fazem bem para a pele.
Então nada muda?
Os dentes. Eles caem, não é?
E se não te deixam trabalhar para ganhar dinheiro, não há como repô-los...
Humor, ironia, batalha diária, boa alimentação, malhação, leitura, bem-querer não colocam dentes no lugar.
Mas... já passei por isso. Os de leite também cairam. Outros apareceram.
Well, não vão aparecer novos dentes para substituir esses que caem agora, mas OUTRAS COISAS aparecerão.
E a vida continuará INDO.
Gerúndio não tem ponto final, e minha curiosidade continua acesa prá chuchu; o suficiente para querer ver e experimentar como é que se vai até o tal ponto em que dizem que o gerúndio permite, e não tem data marcada.
PS.: Dentes que caem são pequenos féretros; mas não se diz que para o jogo ser o melhor possível é preciso treinar?...
Escrever sobre cinema e sobre a vida que corre solta mantém meus olhos abertos enquanto o futuro invade, maroto, a minha praia.
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
ENSINAMENTOS DE SÊNECA (Por Gonçalo M. Tavares)
Ontem,no Globo, o surpreendente escritor português Gonçalo M. Tavares, que aos 40 anos já publicou 29 livros, deu uma bela entrevista e abordou a questão da morte e do tempo. Compartilho.
Sêneca ensina que temos que agir sabendo que vamos morrer. Quando se está consciente da morte, distingue-se o essencial do acessório. A consciência da morte muda o modo como utilizamos o tempo. Muda a forma como vivemos. " Cartas a Lucílio" são cartas de Sêneca a um aprendiz. A primeira carta fala precisamente do tempo. O aprendiz reclama da falta de tempo. Sêneca diz a ele: " ao invés de se queixar da falta de tempo,vais ver o que é essencial e o que é acessório. E no dia seguinte fazes somente o que é essencial. E assim verás: tens tempo".
Sêneca ensina que temos que agir sabendo que vamos morrer. Quando se está consciente da morte, distingue-se o essencial do acessório. A consciência da morte muda o modo como utilizamos o tempo. Muda a forma como vivemos. " Cartas a Lucílio" são cartas de Sêneca a um aprendiz. A primeira carta fala precisamente do tempo. O aprendiz reclama da falta de tempo. Sêneca diz a ele: " ao invés de se queixar da falta de tempo,vais ver o que é essencial e o que é acessório. E no dia seguinte fazes somente o que é essencial. E assim verás: tens tempo".
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
HÓSPEDE INEVITÁVEL (por Patricia Cicarelli)
“Sentir como uma perda irreparável o acabar de cada dia. Para mim, isso é velhice”
(José Saramago)
O envelhecimento físico é inevitável. Percebo que a maioria das pessoas entende a velhice sob esse fardo fatídico. Não o sinto ainda, porém haverá de me atingir. Quando esse momento chegar, espero aprender como dialogar com ele. No entanto, tenho um olhar paradoxal para essa hóspede irremediável, que vem habitar os sobreviventes. Poderia significar um prêmio, mas ela não nos coloca no podium,mesmo cumprindo a trajetória.
A velhice nos torna ou não vitoriosos? A questão causa-me estranheza.É como se participássemos de uma maratona, para cruzarmos a reta final em último lugar. Se possível fosse, seria bom largar e nunca chegar. Aí sim, seríamos campeões, receberíamos o troféu da eternidade.
Espero que essa envelhescência seja larga para mim, já que só envelhece quem vive além. Avançarei nela sem pressa. Afinal, caminhamos tão rapidamente a juventude!
Não sinto o acabar de cada dia como uma perda irreparável. Passei a festejar o dia que nasce, talvez seja esse o primeiro sintoma da minha velhice. Não faz muito descobri o privilégio de existir, a felicidade gratuita de respirar, andar, falar, rir, chorar, amar. É
esplêndido estar viva. Algum poeta, o qual não me recordo, disse que estar vivo não é normal. Concordo.
Quando eu me sentir velha ou envelhecendo, espero ter mais humor para lidar com os limites do meu corpo. Não pretendo brigar com a minha envelhescência - inevitável.Se ela é condição para continuar viva, irei com ela de mãos dadas. Até lá, na reta final, cuidarei para permanecer saudável, o mais lúcida possível e muito produtiva, me apaixonando, escrevendo, escrevendo e escrevendo.
A experiência de viver nos transforma. Nos faz ser e não apenas estar. Como ganhei a vida de presente, faço por vivê-la com plenitude, cada fase até a última gota. “Ah! Farejo Vida” (Shelley) – é verdadeiramente a minha epígrafe.
(José Saramago)
O envelhecimento físico é inevitável. Percebo que a maioria das pessoas entende a velhice sob esse fardo fatídico. Não o sinto ainda, porém haverá de me atingir. Quando esse momento chegar, espero aprender como dialogar com ele. No entanto, tenho um olhar paradoxal para essa hóspede irremediável, que vem habitar os sobreviventes. Poderia significar um prêmio, mas ela não nos coloca no podium,mesmo cumprindo a trajetória.
A velhice nos torna ou não vitoriosos? A questão causa-me estranheza.É como se participássemos de uma maratona, para cruzarmos a reta final em último lugar. Se possível fosse, seria bom largar e nunca chegar. Aí sim, seríamos campeões, receberíamos o troféu da eternidade.
Espero que essa envelhescência seja larga para mim, já que só envelhece quem vive além. Avançarei nela sem pressa. Afinal, caminhamos tão rapidamente a juventude!
Não sinto o acabar de cada dia como uma perda irreparável. Passei a festejar o dia que nasce, talvez seja esse o primeiro sintoma da minha velhice. Não faz muito descobri o privilégio de existir, a felicidade gratuita de respirar, andar, falar, rir, chorar, amar. É
esplêndido estar viva. Algum poeta, o qual não me recordo, disse que estar vivo não é normal. Concordo.
Quando eu me sentir velha ou envelhecendo, espero ter mais humor para lidar com os limites do meu corpo. Não pretendo brigar com a minha envelhescência - inevitável.Se ela é condição para continuar viva, irei com ela de mãos dadas. Até lá, na reta final, cuidarei para permanecer saudável, o mais lúcida possível e muito produtiva, me apaixonando, escrevendo, escrevendo e escrevendo.
A experiência de viver nos transforma. Nos faz ser e não apenas estar. Como ganhei a vida de presente, faço por vivê-la com plenitude, cada fase até a última gota. “Ah! Farejo Vida” (Shelley) – é verdadeiramente a minha epígrafe.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
PARTE DA VIDA
A morte não é o oposto da vida, mas uma de suas partes constituintes.
Expressa em palavras, torna-se um lugar-comum, mas naquele momento eu não sentia que fossem palavras, e sim uma massa de ar dentro de mim. A morte existe também no interior dos pesos de papéis e das quatro bolas vermelhas e brancas enfileiradas sobre a mesa de bilhar. E nós continuamos a viver exalando-a para dentro de nossos pulmões como uma fina poeira.
(Haruki Murakami - "Norwegian Wood" )
Expressa em palavras, torna-se um lugar-comum, mas naquele momento eu não sentia que fossem palavras, e sim uma massa de ar dentro de mim. A morte existe também no interior dos pesos de papéis e das quatro bolas vermelhas e brancas enfileiradas sobre a mesa de bilhar. E nós continuamos a viver exalando-a para dentro de nossos pulmões como uma fina poeira.
(Haruki Murakami - "Norwegian Wood" )
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Muito além da fronteira
Quando foi que alguém disse que seria fácil? Ela lembrou de um verão distante em que o pai começava a sentir os efeitos do alcool no corpo e na alma. Ele ainda não tinha 50 anos e ela pensava: tadinho, já não aguenta mais as mesmas seis doses de uísque. Está ficando velho....
Naqueles dias a filha tinha diante de si o desafio de ganhar a vida com dignidade e, ainda jovem, sustentar uma criança que desafiava a adolescência que ela, balzaca recente, ainda carregava no coração.
Os anos passaram. O pai morreu. A criança " embalzacou" e a filha em breve poderá ser enquadrada como sexagenária.
Quantas vezes você ouviu pessoas mais velhas comentarem que até hoje se assustam quando olham no espelho e dão de cara com rugas,manchas e cabelos brancos?
Outro dia a filha levou um desses sustos. Estava na rua e queria correr para os braços do marido. Pendurar-se no colo dele.
Refreou-se. Censurou-se. Seria um comportamento apropriado?
Fuck the hell, que porra é essa?
Um lampejo nos olhos e lá foi ela. O companheiro pediu um pouco de calma, respirou fundo e gritou: pode vir!
Ela acreditou e....... tchibum. Os dois sobreviveram.
Quando as travessuras sobrevivem à maturidade a jornada é menos árdua e muito mais divertida. Apesar de tudo.
Naqueles dias a filha tinha diante de si o desafio de ganhar a vida com dignidade e, ainda jovem, sustentar uma criança que desafiava a adolescência que ela, balzaca recente, ainda carregava no coração.
Os anos passaram. O pai morreu. A criança " embalzacou" e a filha em breve poderá ser enquadrada como sexagenária.
Quantas vezes você ouviu pessoas mais velhas comentarem que até hoje se assustam quando olham no espelho e dão de cara com rugas,manchas e cabelos brancos?
Outro dia a filha levou um desses sustos. Estava na rua e queria correr para os braços do marido. Pendurar-se no colo dele.
Refreou-se. Censurou-se. Seria um comportamento apropriado?
Fuck the hell, que porra é essa?
Um lampejo nos olhos e lá foi ela. O companheiro pediu um pouco de calma, respirou fundo e gritou: pode vir!
Ela acreditou e....... tchibum. Os dois sobreviveram.
Quando as travessuras sobrevivem à maturidade a jornada é menos árdua e muito mais divertida. Apesar de tudo.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
TURBULÊNCIA (por Maria Helena Passos)
Como um passageiro de avião que faz o caminho de volta do oeste para o leste pela mesma rota e enxerga o mesmo branco das nuvens pela janela, envelhecer, para mim, nesta meia idade, é muito parecido com a adolescência.
Então, entrei na área de turbulência com hiatos de pura contemplação sem a menor consciência e rodeada quase que exclusivamente por adultos.
Aos 50 anos, me senti empurrada de mulher para coroa a começar o vôo de retorno. Empurrada por grandes perdas afetivas. Mas, sobretudo pelos mais jovens, a uma condição que eu não sentia dentro de mim.
Como dos 9 aos 15, tudo voltou a mudar o tempo todo. Só que na adolescência eu nem pensava na mudança. Agora, não há como não sabê-la. E não pensá-la.
Da janelinha do meu avião meus olhos já não se fixam lá fora com a mesma desatenção de antes. Observo muito mais do ponto de vista das minhas 58 primaveras. Distraio-me menos e contemplo com mais calma as formas das nuvens e as nuances do céu.
A nova perspectiva pode ser menos esfuziante. Mas é mais aconchegante. Sabedoria? Quem sabe. Se for, só digo que o pulo do gato é que agora não como mais comida de avião.
Então, entrei na área de turbulência com hiatos de pura contemplação sem a menor consciência e rodeada quase que exclusivamente por adultos.
Aos 50 anos, me senti empurrada de mulher para coroa a começar o vôo de retorno. Empurrada por grandes perdas afetivas. Mas, sobretudo pelos mais jovens, a uma condição que eu não sentia dentro de mim.
Como dos 9 aos 15, tudo voltou a mudar o tempo todo. Só que na adolescência eu nem pensava na mudança. Agora, não há como não sabê-la. E não pensá-la.
Da janelinha do meu avião meus olhos já não se fixam lá fora com a mesma desatenção de antes. Observo muito mais do ponto de vista das minhas 58 primaveras. Distraio-me menos e contemplo com mais calma as formas das nuvens e as nuances do céu.
A nova perspectiva pode ser menos esfuziante. Mas é mais aconchegante. Sabedoria? Quem sabe. Se for, só digo que o pulo do gato é que agora não como mais comida de avião.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
INVISIBLE (por Anne Nicholson)
It's a subject I have a problem with. I always thought I would die early as in the poem of a friend of the Beatles Roger McGough back in the 60s - "Let me die a young man's death, not a clean between the sheets death ..." And here I am. 61.
One thing I feel about getting older is you become invisible to those around you who are younger. Or people talk down to you like the blind woman Nowell, who died recently at around 80, and when she was on a flight the hostess asked her would she like "uma aguinha" and she replied - No I'd like a double scotch.
I saw my sister recently and she has got into this grannie mode - white hair, shuffling about and asking people to help her with things. I am not ready for that.
In a way, I finally feel at some kind of peace with myself. Gone are the majority of 'angsts' that followed me through life. I have accepted myself for who I am and that makes me happy.
I do feel present society has become obsessed with being fit and having a trim body and no wrinkles and it’s plastic surgery if you don't. That does not interest me - I prefer your Susan Sarandon, Katherine Hepburn to the ridiculous "Plastic Peruas" of the US, Brazil etc. What I do love is to hear/read/see something and not feel my thoughts unworthy on the subject. Feel I passed the better half of my life trying to 'fit in' and now this doesn't bother me. I am me and have reached a state of happiness. Having my son has given me a sense of communication from trying to help another human being through life and growing up, their thoughts, their needs which I never had with my parents. In my family you were on your own the moment you could walk.
I am in the midst of laser treatment on my face (for rosacea) and it's more for making me feel good to have these red veins blitzed and not feel like red faced gringa. Gives me confidence.
One thing I feel about getting older is you become invisible to those around you who are younger. Or people talk down to you like the blind woman Nowell, who died recently at around 80, and when she was on a flight the hostess asked her would she like "uma aguinha" and she replied - No I'd like a double scotch.
I saw my sister recently and she has got into this grannie mode - white hair, shuffling about and asking people to help her with things. I am not ready for that.
In a way, I finally feel at some kind of peace with myself. Gone are the majority of 'angsts' that followed me through life. I have accepted myself for who I am and that makes me happy.
I do feel present society has become obsessed with being fit and having a trim body and no wrinkles and it’s plastic surgery if you don't. That does not interest me - I prefer your Susan Sarandon, Katherine Hepburn to the ridiculous "Plastic Peruas" of the US, Brazil etc. What I do love is to hear/read/see something and not feel my thoughts unworthy on the subject. Feel I passed the better half of my life trying to 'fit in' and now this doesn't bother me. I am me and have reached a state of happiness. Having my son has given me a sense of communication from trying to help another human being through life and growing up, their thoughts, their needs which I never had with my parents. In my family you were on your own the moment you could walk.
I am in the midst of laser treatment on my face (for rosacea) and it's more for making me feel good to have these red veins blitzed and not feel like red faced gringa. Gives me confidence.
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