Ano passado fui ver WELCOME TO NEW YORK, do diretor Abel Ferrara, e saí antes do filme terminar. Gerard Dépardieu estava lá, imenso e imerso em infinitas surubas na pele do ex-poderoso Dominique Strauss- Kahn. Agora, em PASOLINI, Ferrara volta para a gavetinha de cineastas que admiro e cultivo ao rodar o que teriam sido as últimas 24 horas do cineasta italiano, assassinado há exatos 40 anos, em novembro de 1975.
Se fosse pra resumir o sentimento de enlevo que me acompanhou durante quase 90 minutos a resposta seria : William Dafoe. Que performance sensacional a desse ator que está entre os grandes talentos do cinema mundial. Aos 60 anos, veste com perfeição o figurino, os gestos, trejeitos e a expressão melancólica de Pasolini.
Ferrara fez um filme introspectivo e poético sobre os momentos derradeiros do diretor de SALÓ OU OS 120 DIAS DE SODOMA, TEOREMA, O EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS e CANTERBURY TALES, entre outros. São conversas sobre trabalho, entrevistas e refeições em casa ou no restaurante, com amigos próximos e queridos.
Quem assistiu e gostou dos filmes de Pasolini ainda vai sentir o impacto diante das cenas de SALÓ, concluído pouco antes do assassinato que matou o diretor italiano aos 53 anos de idade. Numa época em que o fundamentalismo político e religioso conquista uma legião de fãs a crueldade das cenas, rodadas há quatro décadas, é quase profética. As situações são degradantes, a humanidade degradada.
Uma outra narrativa corre em paralelo. E se você quiser curtir o filme entre na viagem de Abel Ferrara. Acompanhe os passos de Pasolini até a morte e também o que seria o seu próximo roteiro: uma busca pelo paraíso, o nascimento do Messias e o surrealismo de surubas e bacanais. A imaginação fértil e surpreendente de um artista que deixou, entre muitos legados, uma frase boa de ouvir e ótima para agir: Escandalizar é um direito, e se escandalizar é um prazer".
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